Total de visualizações de página

quinta-feira, 14 de março de 2019

JOVENS DE SUZANO, FILHOS DO BRASIL... – Lilian Lima Pereira


A tragédia que acometeu as crianças do colégio Raul Brasil, em Suzano, na grande São Paulo é mais uma, dentre as tantas que já ocorreram em nossa realidade nacional neste ano de 2019. 

Mas, essa última ocorrida na escola tem uma característica diferente das outras, desde a lama que devastou Brumadinho, até às inundações que arrasaram populações de grandes cidades, até a queda de aviões, ou o incêndio que vitimou outros jovens recentemente no ninho do Urubu. Desta vez, e já não é a primeira, a tragédia foi na escola, um ambiente que nos inspira proteção, formação, educação e nos remete a um estado de  plena impotência diante do fato, uma vez  que assistimos e acompanhamos atônitos pelas mídias, pelas redes sociais, todo o cenário de horror naquela escola e nada, nada mesmo pudemos fazer para evitá-la.

Eis a questão, aquela escola, poderia ser qualquer escola, na verdade representa o cotidiano das escolas brasileiras. É, bem assim, qualquer pessoa que chega a ela sobre qualquer pretexto, entra, às vezes, sequer é interpelada e torna-se mais uma pessoa misturada a tantas outras que a escola abarca. As cenas que se deram em Suzano, poderiam e, o que é mais grave, ainda podem se repetir em qualquer escola desse nosso Brasil ... Os filhos, os alunos mortos em Suzano poderiam ser meus, seus, de qualquer um de nós.

Não estou conseguindo dizer bem, o que quero dizer, mas, estou tentando na condição de professora de filosofia que trabalha com adolescentes e crianças há 20 anos. Os adolescentes que se tornaram assassinos impiedosos, e protagonizaram a tragédia, reproduzindo o cenário de guerra de um jogo popular entre os jovens, não são únicos, há outros deles por ai, se constituindo a partir da ausência dos pais, da exposição exagerada aos computadores, do acesso a todo tipo de informação, do incentivo a violência exagerada e desmedida, do uso de drogas, enfim.

E agora? O que faremos? Pais? Professores? Profissionais liberais? Continuaremos inertes, aguardando novos casos, uma tragédia mais fresca? Como dizer agora, que a escola, esta instituição tão popular e que promete mudar os cursos de vida para melhor das pessoas, também pode ser o locus da morte, que ela não é segura, porque ela não é... Nos condicionamos a achar o absurdo algo compreensível e nos abalamos muito, porque não é nada confortável ver crianças e professores morrerem praticamente sob nossos olhos e desse modo trágico. Mas, o desconforto segue até a próxima tragédia, porque ela pode está logo ali, na próxima esquina, ou na próxima escola. E nesse dia, ao invés dos filhos de Suzano, pode-se chorar pelos seus.



Lilian Lima Pereira – Professora, mestra em educação, psicanálise e estudante de Direito. Membro da Academia Grapiúna de Letras- AGRAL.

* * *

Nenhum comentário:

Postar um comentário