A tragédia que acometeu as crianças do colégio Raul Brasil,
em Suzano, na grande São Paulo é mais uma, dentre as tantas que já ocorreram em
nossa realidade nacional neste ano de 2019.
Mas, essa última ocorrida na escola tem uma característica
diferente das outras, desde a lama que devastou Brumadinho, até às inundações
que arrasaram populações de grandes cidades, até a queda de aviões, ou o
incêndio que vitimou outros jovens recentemente no ninho do Urubu.
Desta vez, e já não é a primeira, a tragédia foi na escola, um ambiente que nos
inspira proteção, formação, educação e nos remete a um estado de plena
impotência diante do fato, uma vez que assistimos e acompanhamos atônitos
pelas mídias, pelas redes sociais, todo o cenário de horror naquela escola e
nada, nada mesmo pudemos fazer para evitá-la.
Eis a questão, aquela escola, poderia ser qualquer escola,
na verdade representa o cotidiano das escolas brasileiras. É, bem assim,
qualquer pessoa que chega a ela sobre qualquer pretexto, entra, às vezes, sequer
é interpelada e torna-se mais uma pessoa misturada a tantas outras que a escola
abarca. As cenas que se deram em Suzano, poderiam e, o que é mais grave, ainda
podem se repetir em qualquer escola desse nosso Brasil ... Os filhos, os alunos
mortos em Suzano poderiam ser meus, seus, de qualquer um de nós.
Não estou conseguindo dizer bem, o que quero dizer, mas,
estou tentando na condição de professora de filosofia que trabalha com
adolescentes e crianças há 20 anos. Os adolescentes que se tornaram assassinos
impiedosos, e protagonizaram a tragédia, reproduzindo o cenário de guerra de um
jogo popular entre os jovens, não são únicos, há outros deles por ai, se
constituindo a partir da ausência dos pais, da exposição exagerada aos
computadores, do acesso a todo tipo de informação, do incentivo a violência
exagerada e desmedida, do uso de drogas, enfim.
E agora? O que faremos? Pais? Professores? Profissionais
liberais? Continuaremos inertes, aguardando novos casos, uma tragédia mais
fresca? Como dizer agora, que a escola, esta instituição tão popular e que
promete mudar os cursos de vida para melhor das pessoas, também pode ser o
locus da morte, que ela não é segura, porque ela não é... Nos condicionamos a
achar o absurdo algo compreensível e nos abalamos muito, porque não é nada
confortável ver crianças e professores morrerem praticamente sob nossos olhos e
desse modo trágico. Mas, o desconforto segue até a próxima tragédia, porque ela
pode está logo ali, na próxima esquina, ou na próxima escola. E nesse dia, ao
invés dos filhos de Suzano, pode-se chorar pelos seus.
Lilian Lima Pereira – Professora, mestra em educação,
psicanálise e estudante de Direito. Membro da Academia Grapiúna de Letras-
AGRAL.
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