3 de março de 2019
Qual dessas representações (esta acima ou a imagem abaixo)
da Anunciação glorifica mais a puríssima Mãe de Deus?
Luis Sérgio Solimeo
Um espetáculo que não se pode deixar de qualificar como
sacrílego realizou-se no dia 27 de janeiro em presença do Papa Francisco,
durante a Jornada Mundial da Juventude no Panamá.1 Os atores
ridicularizaram o mistério da Anunciação e trataram Nossa Senhora com grande
irreverência. Apesar disso, no final da apresentação, o Papa aplaudiu e deu a
sua aprovação.22
Nessa peça
burlesca, a Virgem Santíssima é apresentada como “uma jovem normal, uma
jovem de hoje”, como a definiu recentemente o Papa Francisco.3 A jovem que
interpretou Nossa Senhora usava tênis, calça masculina ajustada e uma blusa
folgada de cor azul claro. Sua cabeça estava descoberta, e seu celular à vista.
O “anjo Gabriel” foi interpretado por um rapaz com calça, camisa e chapéu
brancos, tendo um par de pequenas asas preso às costas.
Qual dessas representações (esta ou a imagem no alto do
artigo) da Anunciação glorifica mais a puríssima Mãe de Deus?
Em uma
paródia da Anunciação, o “anjo” diz a “Maria” que ela se tornará mãe por obra
do Espírito Santo. Ela se mostra nervosa, quase histérica, e diz que ainda não
está casada com José, não está pronta, tem que ir à universidade, tem medo etc.
O “anjo” trata de convencê-la, e lhe diz que deveria regozijar-se. Cada vez
mais nervosa, ela responde que não pode regozijar-se: “Que dirá José? Que
pensará sua mãe quando souber? E os vizinhos?”
Então a
mulher começa a cantar que tem medo, se sente despreparada, e outras coisas. O
“anjo” a toma pelas mãos, dizendo que ela é a eleita, e ambos começam a dançar.
Outras “anjas” bailarinas, descalças, entram rodopiando, com vestes flutuantes,
como em qualquer espetáculo teatral obsceno.
Em seguida,
“Gabriel” e as “anjas” bailarinas põem uns óculos carnavalescos, e todos dançam
em ronda, cantando em termos semelhantes aos das Escrituras. “Maria” continua a
dizer que tem medo, mas logo começa a cantar as palavras do Evangelho, sempre
em ritmo pop: “Faça-se a tua vontade”.Em meio a risos, ela toma seu
celular e faz uma selfie com “Gabriel”. Outras duas moças sobem ao
palco, e dizem que o resto da história é bem conhecido: Jesus veio a nós e nos
deu seus ensinamentos.
Entra
depois no palco um time de futebol, representando os 12 Apóstolos, declamando e
cantando que têm medo de evangelizar, porque serão perseguidos. Surge então um
grupo de “policiais”, e os “apóstolos” fogem. Os “policiais” começam a cantar e
bailar loucamente, e depois se vão.
Os
“apóstolos” regressam ao cenário e continuam a cantar e dançar em coreografia,
repetindo sempre: “Tenho medo”. Depois de algum tempo dançando e
cantando, “Maria” se aproxima deles, segura suas mãos e diz que já falou com
“Gabriel”, e tudo funcionará.
Logo se
ouve uma voz forte pelos altofalantes: “Recebe o Espírito Santo, não
tenhas medo, regozija-te, e vai evangelizar”. Todos então se ajoelham,
levantam-se e começam a cantar junto com as bailarinas “anjas” e “Gabriel”. Em
seguida uma dança louca e uma canção, da qual participa “Maria”.
Quando
terminou a paródia sacrílega da Anunciação e Pentecostes, o Papa Francisco fez
um gesto de aprovação entusiástica. Depois se levantou e saudou efusivamente os
dois atores principais. Se já é extremamente grave a própria presença do Papa
em uma apresentação sacrílega como essa, tanto mais sua manifestação de apoio
irrestrito.
Encenação da doutrina do Papa Francisco
Essa
paródia parece ilustrar a doutrina do Papa sobre a Santíssima Virgem Maria. Com
efeito, há declarações dele sobre Maria Santíssima que contradizem tudo o que
veneramos e encontramos nos Evangelhos, na Tradição e no Magistério da Igreja,
bem como no sentimento dos fiéis. Recentemente assinalou que Maria “não
nasceu santa”, negando implicitamente o dogma da Imaculada Conceição.4 Suas
concepções sobre Nossa Senhora estão resumidas em seu livro-entrevista, ao
jornal italiano “Corriere della Sera”:
“[Uma]
jovem normal, uma jovem de hoje… normal, normalmente educada, disposta a se
casar, a ter uma família. […] Logo depois de conceber a Jesus, [ela] era ainda
uma mulher normal. […] Nada foi excepcional em sua vida, [ela era] uma mãe
normal: inclusive em seu matrimônio virginal, casta nesse sinal de virgindade,
Maria era normal. Ela trabalhou, fez compras, ajudou a seu Filho, e auxiliou
seu esposo. Normal”.5
Bem o contrário de tudo isso é o que nos diz o Papa Pio XII,
de saudosa memória, na encíclica Ad Cœli Reginam, de 11 de outubro de
1954, na qual estabelece a festa da Realeza da Santíssima Virgem Maria:
“Desde
os primeiros tempos os cristãos creram, e não sem razão, que Ela, de quem
nasceu o Filho do Altíssimo, recebeu privilégios de graça sobre todos os demais
seres criados por Deus. […] E quando os cristãos refletiram sobre a conexão
íntima que existe entre uma mãe e um filho, reconheceram facilmente a suprema
dignidade real da Mãe de Deus”.6
Nada é mais caro ao coração católico do que a honra da Mãe
de Deus, a Amada Filha do Padre Eterno, a Admirável Mãe do Filho de Deus, e a
Esposa Fidelíssima do Espírito Santo. O fato de o Papa Francisco tratar de
maneira simplista e confusa os temas mais delicados e complexos não elimina,
antes aumenta o dano que suas declarações fazem às almas, como as que se
referem a Nossa Senhora. Sua maneira confusa, improvisada e contraditória de
falar é incompatível com o ensinamento verdadeiro, claro e lógico da Igreja, e
com a missão do Papa de confirmar os irmãos na Fé.7
Ao
expressar a nossa indignação pela ofensa feita à Virgem Maria, nossa Mãe
Santíssima, nessa paródia teatral da Anunciação e de Pentecostes, apresentada
diante do Sumo Pontífice e com o apoio dele, sugerimos a todos os leitores que
façam atos de reparação por esse evento.
________________________
Notas:
1. “O sacrilégio é, em geral, a violação ou o tratamento
injurioso de um objeto sagrado. Num sentido menos apropriado, qualquer
transgressão contra a virtude da religião seria um sacrilégio”. – J. Delany,
s.v. “Sacrilege”, The Catholic Encyclopedia, (New York: Robert Appleton
Company, 1912). http://www.newadvent.org/cathen/13321a.htm.
2. YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=PqMAmHuufLI (9:33
minutos do vídeo).
3. Papa Francesco: “La Chiesa è popolo, l’élite il peccato”,
“Corriere della Sera”, 7-10-18, https://www.corriere.it/cronache/18_ottobre_07/papa-francesco-chiesa-popolo-elite-peccato-2ab8a8ce-ca64-11e8-8417-701d201b7018.shtml.
Ver também, Luiz Sérgio Solimeo, “Papa Francisco: o ‘pecado da elite’ e a
nova mariologia igualitária” http://www.abim.inf.br/a-nova-mariologia-igualitaria-do-papa-francisco/#.XF7eV1xKiUk
4. No dia 21-12-18, o Papa Francisco declara aos empregados do
Vaticano: “Então, quem está feliz no presépio? Nossa Senhora e São José
estão cheios de júbilo: olham para o Menino Jesus e sentem-se felizes porque,
depois de numerosas preocupações, acolheram esta Prenda de Deus, com tanta fé e
tanto amor. ‘Transbordam’ de santidade e, por conseguinte, de alegria. E vós me
direis: claro! São Nossa Senhora e São José! Sim, mas não pensemos que foi
fácil para eles: não nascemos santos, tornamo-nos, e isto é válido também para
eles”.http://w2.vatican.va/content/francesco/es/speeches/2018/december/documents/papa-francesco_20181221_dipendenti-vaticani.html.
5. Papa Francesco: “La Chiesa è popolo, l’élite il peccato,”
Corriere della Sera, Oct. 7, 2018,
https://www.corriere.it/cronache/18_ottobre_07/papa-francesco-chiesa-popolo-elite-peccato-2ab8a8ce-ca64-11e8-8417-701d201b7018.shtml.
Ver também, Luiz Sérgio Solimeo, artigo citado.
6. Pio XII, Encíclica Sobre a Realeza da Santíssima Virgem
Maria, nº 8, http://w2.vatican.va/content/pius-xii/es/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_11101954_ad-caeli-reginam.html.
7. “Confirma teus irmãos na fé” (Lc 22, 32).
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