A operação Mapa da Mina, nome cuja explicação ainda está
para ser dada, e representa a própria essência da nova fase da Lava Jato, é um
recado para quem acha que já está livre das investigações. Há dois anos e dez
meses a Operação Aletheia, que levou o ex-presidente Lula a depor
coercitivamente à Polícia Federal no aeroporto de Congonhas, foi iniciada, mas
só agora chega a seu fim.
Foram documentos apreendidos naquela ocasião que levaram a
essa operação de ontem, e o nome dela é o título da apresentação financeira
interna do grupo que foi investigado pela Aletheia. Ainda não se sabe o que
significa, mas que o nome é sugestivo, isso é.
Entre os investigados estão os filhos de Lula, Fabio Luis,
que o ex-presidente dizia ser “o Ronaldinho dos negócios”, Marcos Claudio,
Sandro Luis e Luis Claudio. A “coincidência” de que estavam envolvidos em
negócios milionários com Jonas Suassuna e a família Bittar, proprietários no
papel do sítio de Atibaia, reforça a suspeita de que o ex-presidente era, na
verdade, o proprietário oculto do sítio, que seria um pagamento pelos favores
feitos a seus negócios.
Os dois entraram em negócios que tinham o apoio financeiro
da empresa de telefonia celular Oi, tudo indica, segundo o Ministerio Público e
a Polícia Federal, como recompensa a favores do governo. Há de tudo nesse
processo, até a evidência de que o aparelhamento das estatais e das agências
reguladoras propiciou a nomeação de diretores da Anatel para favorecer os
interesses da Oi, inclusive na fusão com a Brasil Telecom que necessitou de uma
mudança legal para ser concretizada.
Outra coincidência é que a juíza Gabriela Hardt, que ficou
algum tempo como interina de Sergio Moro em Curitiba, recusou ontem a prisão
preventiva de Lulinha, pedida pela Policia Federal. A juíza, que condenou Lula
no caso do sitio de Atibaia, é constantemente citada pelos petistas como
perseguidora de Lula.
No caso em que Lula foi condenado pela juíza, o interessante
é que a acusação contra Lula é de ter se aproveitado de obras de infraestrutura
das construtoras OAS e Odebrecht no sítio que usava como sendo seu. Não houve
acusação formal de que o sítio fosse de Lula, porque ainda não havia provas
suficientes.
Desta vez, a acusação é justamente essa, unindo os pontos do
caso, que parecia à maioria mais evidente do que o do triplex. Agora, parece
que a investigação encontrou o mapa da mina, que leva a milhões de reais
recebidos de diversas maneiras pelos parentes do presidente.
Houve até um email pedindo ao pessoal da empresa de Jonas
Suassuna para limpar das mensagens todas as referencias ao governo. Ele ganhou
também muitos negócios para sua empresa de produtos digitais, como a Nuvem de
Livros, financiada por dinheiro governamental e que não apresentou resultados
que justificassem esse aporte, segundo a acusação.
Várias outras empresas envolvidas há muito na Lava Jato
aparecem também nessa investigação, confirmando que, conceitualmente, o
trabalho de Curitiba ainda tem muito a revelar. Os bancos de dados das diversas
operações levam a novas investigações, como já acontecera outras vezes.
Acusações que aparentemente foram descartadas voltam à tona
com o prosseguimento das investigações. Foi também uma demonstração de que o
Procurador-Geral da República Augusto Aras fez bem em voltar atrás na ideia de
reduzir o aparato mobilizado para a Operação Lava Jato.
Ainda há muito a fazer, como garantem os procuradores de
Curitiba. A montagem do quebra-cabeças, como classificou o procurador Pozzobon,
requer muita persistência, e por isso também os processos não devem ser
distribuídos por diversos estados, como volta e meia tentam os advogados de
defesa.
A tese de que é preciso centralizar as investigações para
ter melhores resultados vai se confirmando à medida que as investigações
prosseguem. Novos desdobramentos, como os de ontem, mostram à sociedade que a
busca dos culpados nas diversas fases da operação Lava Jato não cessa.
O Globo, 11/12/2019
......
Merval Pereira - Oitavo ocupante da cadeira nº 31 da ABL,
eleito em 2 de junho de 2011, na sucessão de Moacyr Scliar, falecido em 27 de
fevereiro de 2011, foi recebido em 23 de setembro de 2011, pelo Acadêmico
Eduardo Portella.
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário