Pe. David Francisquini *
“Faça-se em mim segundo a tua palavra”… E o Filho de Deus se
fez homem. Também poucas palavras bastam para Jesus Cristo descer ao altar como
sacramento e vítima, e imolar-se por nós. Enquanto Deus tira do nada todas as
coisas, para fazer-se homem quis depender do consentimento da Virgem Maria:
— “Como se fará isto se não conheço varão?”
Disse-lhe o Anjo: — “A virtude do Altíssimo te cobrirá
com a sua sombra, portanto o santo que há nascer de ti será chamado Filho do
Altíssimo”. No consentimento da Santíssima Virgem, o Filho de Deus se
encerrou em seu ventre e “habitou entre nós, e vimos a sua glória, glória
como de unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”, (Jo 1, 14).
João descreve a geração eterna do Filho — que quer dizer
Verbo —, gerado antes de todas as coisas, proclamando a divindade de Nosso
Senhor Jesus Cristo que se torna homem. Com duas naturezas unidas numa só
pessoa, que é a pessoa do Verbo, Ele veio a este mundo sem deixar de ser Deus e
toma a forma de servo para remir a humanidade pecadora.
No Natal comemoramos o homem-Deus que se tornou criança,
singela, encantadora, cintilante de luz divina, pequeno para conduzir os
pequenos, e grande, imenso, para atear o fogo do divino amor nos corações dos
homens. Não há língua capaz de descrever a sublimidade da noite de Natal, que
se tornou noite de luz, noite em que Maria e José contemplaram o Menino-Deus
reclinado em um presépio.
Noite em que a Terra se liga ao Céu, a natureza toda se
reluz de uma alegria sem par, noite em que os Anjos cantam o mais belo hino ao
Deus-Menino que enche de luz os corações dos homens. Quem Vos fez nascer num
pobre estábulo, reclinado numa manjedoura? Vós que estais acima dos Céus, acima
dos astros e de todo o firmamento? Quem Vos arrancou do seio do Eterno Pai para
se reclinar numa gruta fria, sendo o Senhor do universo?
Entre os Serafins e Querubins, entre os esplendores e
belezas do Céu, Vós vos reclinais agora em um presépio? Para quê, Senhor? Vós
que num só movimento determinais as funções dos astros e de todo firmamento,
Vos reclinais, pobre e indefeso, diante de uma Mãe que Vos contempla? Vós que
concedeis alimento aos homens e aos animais, necessitais de um pouco de leite
para Vos manter sobre a Terra.
Por ora gemeis e chorais, ó pequena criança, mas o vosso
pranto é como uma melodia que se ergue da Terra ao Céu; precisando de amparo,
sobe às alturas como um incenso de suave odor, como uma oração sublime, pois
saída dos lábios divinos. Quem Vos contempla no presépio não deixa de se
enternecer diante de tão encantadora e divina presença.
Quem analisa o vosso olhar celeste que penetra no fundo das
almas e vê o recôndito dos corações, ajoelha-se em profunda adoração, percebe a
solução de todos os problemas! Vós sois o Senhor do universo, Aquele que existe
antes de todas as coisas, nada havendo de criado que não fosse feito por Vós,
dignai-Vos a nos contemplar nesta noite em que nascestes.
Vosso olhar, pleno de ternura e bondade, possui uma
movimentação de tal modo harmoniosa, que o universo não pode explicar sua
grandeza e melodia. Aquele que os Céus e a Terra não podem conter está
reclinado num presépio pobre e humilde.
Os Natais de outrora, meu Senhor Jesus, eram revestidos de
doçura e beleza sem par, mas eis que nos encontramos no Século XXI depois do
primeiro Natal, e tudo o que nos rodeia é tristeza e apreensão pelo que se
passa com a vossa Esposa santíssima, o vosso Corpo Místico, a Santa Igreja Católica
Apostólica Romana.
A cristandade foi envolta pelas trevas e erros, desilusões e
desamparos por parte daqueles que, em vez de ser o sal que salga, a luz que
ilumina e o fermento que fermenta, se transformaram em elemento de
autodemolição, de apodrecimento, de desunião. Há, contudo, uma esperança que
não morre, há uma certeza que não desmorona, há uma vida que não se desfaz,
pois o vosso presépio é um marco de certeza, de esperança, de vida, de virtude
que continua sob as cinzas.
O fogo de vosso amor é mais forte que a morte, a vossa vida
é mais invencível do que todos os infernos, porque Vós tendes palavras de vida
eterna, Vós sois o Rei do universo. Nessa perspectiva, ó Senhor, que ora
contemplamos na manjedoura — ali encontramos José e Maria, os pressurosos
pastores, e os reis cheios de esplendores e grandezas —, Vós vindes para
reinar. Reinai, Senhor Jesus, nos corações dos homens!
São súplicas que Vos dirigimos. O Natal para os homens é o
anúncio de uma grande nova, pois Cristo se fez carne por nós. O Anjo disse aos
pastores para não temerem, pois anunciava uma boa-nova que seria de grande
alegria para todo o povo. Disse ele, nasceu hoje um Salvador, que é o Cristo
Senhor. Eis o sinal: “Encontrareis o menino envolto em panos e deitado numa
manjedoura”. Ao mesmo tempo uma multidão da milícia celeste se uniu ao Anjo a
louvar a Deus: “Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens
de boa vontade” (Lc II, 8 e sg.).
Envoltos nesta luz, comemoremos o Natal de Nosso Senhor
Jesus Cristo.
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*Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso
Moreira (RJ)
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