Por Clare Boyd-Macrae
Na descida
dessa trilha, descortinam-se vistas magníficas do rio lá embaixo. Ziguezagueando
sob a proteção dos picos cobertos por pinheiros, as margens brancas e as
piscinas fundas naturais trazem lembranças de férias passadas.
Então chegamos
e, quando a irritante tarefa de montar o acampamento termina, damos início àquela
o que é para nós a melhor semana do ano.
Dessa vez fizemos
algo diferente. As crianças descobriram uma ilha. Era pequenina, e elas a exploraram
minuciosamente. Ali havia rochas, arbustos e um pequeno banco de areia com
espaço suficiente para 6 crianças dormirem. o melhor de tudo: era uma ilha de
verdade, cercada por águas rasas, mas velozes.
Exultantes,
as crianças pediram para dormir ali na última noite. Concordamos com a aventura,
contanto que não se importassem de nós, os pais, dormirmos numa praia próxima,
de onde as pudéssemos ver e ouvir.
Jantamos
cedo e atravessamos o rio, levando sacos de dormir, forros impermeáveis e
lanternas até a ilha. Arrumamos o local para os meninos dormirem e juntamos lenha
para a fogueira matinal. As crianças haviam examinado e dado nome a cada
recanto e fresta da ilha, mostrando-nos tudo. Rocha Torre de Vigia, Bumbum de
Neném (tão lisa quanto), Spa...
Voltamos e
preparamos o lugar na praia onde dormiríamos. Acendemos uma fogueira, abrimos
uma garrafa de vinho e nos esparramamos na areia refrescante, conversando. Eu
me sentia como uma adolescente deitada na praia com o namorado. Experimentava uma
sensação de aventura.
A cada meia
hora, até às 20h30, as crianças acendiam uma lanterna para indicar que estava
tudo bem. Em resposta nós gritávamos com animação e prazer, e dávamos boa noite
através das corredeiras. Às 21 horas, tudo estava quieto e às 22h30, nós, os
adultos, também nos deitamos. Acordei no meio da noite pensando ter ouvido um
grito de criança, mas era apenas um pássaro. Fiquei ali deitada, olhando para
as estrelas e a lua brilhante, ouvindo a música do rio e se sentindo o acalento
da terra à minha volta. De manhã, minha filha de 13 anos disse que mal
conseguira dormir de tanta felicidade.
Crianças
de sorte! Quando eu era pequena, tinha de me contentar com um “acampamento
virtual”: devorava livros de aventura maravilhosos que meus filhos agora adoram.
Mas eles têm também a experiência para valer: a vida no seio da mãe Terra. Aventura,
coragem e responsabilidade com a segurança da presença dos pais por perto.
Esses são
os fatos que as crianças lembram com os olhos brilhantes e o peito estufado de
orgulho, quando recordamos os bons momentos. Não o jogo de computador, o website
da Internet ou a série de TV recentes, mas a magia - antiga como a própria
humanidade – de barracas e fogueiras, de histórias e noites passadas sob as
estrelas.
Esses são
presentes que podemos dar a nossos filhos como amuletos contra o desespero que
tantos jovens sentem.
São essas
as lembranças que vão encantar sua infância, conduzi-los à idade adulta e aquecê-los
na velhice.
..........
1999 CLARE BOYD-MACRAE AGE (1º DE AGOSTO DE 1999), 250
SPENCER ST., MELBOURNE, VICTORIA 3000, AUSTRÁLIA
(Reader’s Digest – Seleções – ABRIL 2000)
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