04/11/2019
| Foto: Maicon J. Gomes / Gazeta do Povo
A “CPI das Fake-news” é, na verdade, a revelação do medo que
os políticos têm de perder o poder para a inevitável democratização do direito
de opinião, de manifestação e a pulverização do monopólio do poder. Cobrando
impostos à razão de um terço de tudo o que se produz e vende, o estado
brasileiro detém o monopólio da riqueza. Ao mesmo tempo, os que têm mandato
conferido pelo voto detêm o monopólio de decisões que afetam a vida de todos.
Essa concentração de poder econômico e político está em vias
de acabar, principalmente por causa de uma novidade surgida há apenas 50 anos.
No início de novembro de 1969, anunciava-se que pela primeira vez um pacote de
dados fora transmitido dias antes entre os computadores de duas universidades,
na Califórnia.
Aqui no Brasil, essa revolução só foi percebida por muitos
políticos na última eleição presidencial, quando as redes sociais e não o
dinheiro de empreiteiras e estatais, nem os marqueteiros, nem a propaganda
televisiva, elegeram um presidente da República. Os brasileiros não ficam atrás
dos navegadores digitais do primeiro mundo. Em mensagens e participação em
redes sociais, nos equiparamos aos de países de alta renda. Perdemos ainda em
velocidade, mas o 5G vem aí e já foi experimentado no Rock in Rio. A fibra
ótica está ajudando a integrar a Amazônia, serpenteando pelos leitos dos
rios, e 38 satélites já cobrem o país, que está cada vez mais abastecido de
provedores de banda larga.
Nos governos petistas, houve insistente tentativa de
controlar os meios de informação, sob o eufemismo de “regulação da mídia”. Não
conseguiram. E seria inútil e ultrapassado, pois já surgia a força das redes
sociais, livres e soltas. Governos tentam, na China, Coreia do Norte, Cuba. O
problema é a diferença de velocidade entre a burocracia estatal e a tecnologia
privada. Enquanto a CPI se perde em discussões, o mundo cibernético se renova,
se recria, se recicla, se redescobre numa razão mais rápida que a razão humana.
A tecnologia vai à frente da política. O mundo digital leva todos para a grande
ágora, a praça pública do mundo, onde todos têm voz e onde ninguém tem o
monopólio do palanque, onde o carro de som é de todos e ninguém é dono dele.
Os que eram donos do poder tentam controlar esse novo poder,
mas como não participaram de seu nascimento, não conseguirão mudar os rumos de
um sistema que anda sozinho e à velocidade da luz. O novo poder cibernético
pode ser compartilhado mas já não pode ser domado. Legislativo, Executivo e
Judiciário, poderes ordenados por Montesquieu em 1748, terão que se adaptar ao
que surgiu em 1969 na Califórnia, com base no que foi formulado em 1859, por
Charles Darwin: quem sobrevive é quem mais bem se adapta às condições externas.
O estado, seus poderes e seus políticos estão destinados, com o tempo, a se
adaptar ao novo mundo digital, ou desaparecer."
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