Olga Tokarczuk e Peter Handke ganham prêmio Nobel de
Literatura
Academia Sueca escolheu entregar o prêmio de 2018 junto ao
de 2019. Premiação foi cancelada no ano anterior após o dramaturgo Jean-Claude
Arnault ter sido acusado de abuso sexual.
Por G1
10/10/2019
Vencedores dos prêmios Nobel de Literatura de 2018 (Olga
Tokarczuk) e 2019 (Peter Handke) — Foto: Reprodução/Twitter Nobel Prize
A polonesa Olga Tokarczuk e o austríaco Peter Handke
ganharam o prêmio Nobel de Literatura. O comunicado foi feito nesta
quinta-feira (9) pela Academia Sueca.
O prêmio entregue a Olga Tokarczuk foi referente ao ano de
2018, quando a academia
cancelou a premiação após um escândalo sexual. No início de 2019, a
instituição anunciou a decisão de conceder
dois prêmios em 2019 para tentar recuperar seu prestígio.
O prêmio para cada um dos ganhadores é de 9 milhões de
coroas suecas (o equivalente a cerca de R$ 3,7 milhões).
Segundo a academia, o prêmio entregue a Olga foi "por
uma imaginação narrativa que, com paixão enciclopédica, representa o cruzamento
de fronteiras como uma forma de vida." Antes da premiação, a expectativa
era que ao menos uma mulher levasse o prêmio, e a polonesa estava entre os
nomes cotados, junto com a chinesa Can Xue, a russa Lyudmila Ulitskaya e a
americana Joyce Carol Oates.
Durante o anúncio, a academia explicou que Peter Handke foi
nomeado "por um trabalho influente que, com ingenuidade linguística,
explorou a periferia e a especificidade da experiência humana".
Olga Tokarczuk nasceu em 1962, em Sulechów, na Polônia, e
hoje vive em Breslau, também na Polônia. Ela estreou como escritora de ficção
em 1993 com "Podróz ludzi Księgi" ("A jornada do povo do
livro", em tradução livre).
Segundo o Nobel, a verdadeira inovação de Tokarczuk veio com
seu terceiro romance, "Prawiek i inne czasy" ("Primitivo e
Outros Tempos"), de 1996. O romance é "um excelente exemplo de nova
literatura polonesa após 1989", disse o comitê do prêmio.
"A obra prima de Olga Tokarczuk, até agora, é o
impressionante romance histórico 'Księgi Jakubowe' 2014 ('Escrituras de Jacó').
Ela mostrou neste trabalho a capacidade suprema do romance de representar um
caso quase além da compreensão humana", acrescentou o comitê.
Em 2018, a escritora ganhou
o Man Booker International do Reino Unido pelo romance
"Flights", que reúne uma série de histórias, como um conto do século
17 sobre o anatomista holandês Philip Verheyen, que dissecou e desenhou
detalhes de sua perna amputada, e uma história do século 19 sobre o coração do
finado Chopin, que viajou oculto de Paris a Varsóvia.
No Brasil, foi publicado em 2014 apenas um título em
português da escritora, chamado "Os Vagantes" ("Bieguni",
no título original em polonês).
Handke, de 76 anos, nasceu em 1942, na vila de Griffen, na
região de Kärnten, no sul da Áustria, mesmo local que sua mãe, que pertencia à
minoria eslovena do lugar.
O romance de estreia dele, Die Hornissen, ("As
Vespas", em tradução livre), foi publicado em 1966. A obra, junto com a
peça '"Ofendendo o Público", de 1969, são citadas como responsáveis
por deixar a marca do escritor no cenário literário.
"Mais de cinquenta anos depois do lançamento de seu
primeiro livro, tendo produzido um grande número de obras em diferentes
gêneros, o laureado de 2019, Peter Handke, estabeleceu-se como um dos
escritores mais influentes da Europa após a Segunda Guerra Mundial", disse
o comitê do Nobel.
Denúncias de abuso sexual
O prêmio de 2018 foi cancelado após acusações contra o
marido de uma das integrantes da Academia Sueca. O dramaturgo Jean-Claude
Arnault foi acusado cometer abusos sexuais dentro de uma instituição cultural
que recebia dinheiro da academia e de vazar o nome de vários ganhadores do
prestigiado prêmio.
Segundo a agência AFP, o comitê do Prêmio Nobel -- composto
normalmente por cinco membros que recomendam um laureado ao resto da academia
-- decidiu incluir em 2019 e 2020 "cinco especialistas externos",
especialmente críticos, editores e autores de entre 27 e 73 anos.
Depois do escândalo, estas nomeações externas foram impostas
pela Fundação Nobel, que financia o prêmio. "As mudanças foram muito
frutíferas e temos esperança para o futuro", declarou à AFP o novo
secretário permanente, Mats Malm, dias antes do anúncio dos premiados.
Nobel da Literatura em números
Desde 1901, foram 116 laureados em 112 premiações. Isso
porque eu quatro delas, dois nomes foram anunciados como vencedores no mesmo
ano. Até hoje, ninguém foi premiado mais de uma vez no Nobel.
Rudyard Kipling foi o mais jovem vencedor do prêmio. Em
1907, quando foi nomeado, tinha 41 anos de idade.
Já a mais velha foi Doris Lessing, que estava com 88 anos quando
foi premiada em 2007.
Vencedores do prêmio Nobel de Literatura, anunciado nesta
quinta-feira (10) — Foto: Reprodução/Twitter Nobel Prize
As mulheres do Nobel de Literatura
Até então, o Prêmio Nobel de Literatura havia sido concedido
a apenas 14 mulheres entre uma centena de homens desde sua criação, em 1901.
Com o nome de Olga, o número sobe para 15.
1909 – Selma Lagerlöf
1926 – Grazia Deledda
1928 – Sigrid Undset
1938 – Pearl Buck
1945 – Gabriela Mistral
1966 – Nelly Sachs
1991 – Nadine Gordimer
1993 – Toni Morrison
1996 – Wislawa Szymborska
2004 – Elfriede Jelinek
2007 – Doris Lessing
2009 – Herta Müller
2013 – Alice Munro
2015 – Svetlana Alexievich
2018 – Olga Tokarczuk
NOBEL 2019
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