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terça-feira, 3 de setembro de 2019

UM POEMA A SETEMBRO/ CANTO DE SETEMBRO – Ariston Caldas


Um Poema a Setembro


Uma rosa se abriu,
uma estrela passou,
os pássaros fugiram
para os laranjais.

Uma música tocou,
uma noiva partiu,
a chuva aos ninhos
não voltou mais.

Setembro chegou
com a primavera,
à tua espera
ainda estou.

Eu vi setembro
ainda em caminho,
mas vinha só
sem teu carinho.

................

Canto de setembro


Canto de setembro, de boninas,
a mesma ilusão de sonhos idos,
com teus olhos que não voltam mais.

Canto de setembro, de primavera
rodeado de segredos,
de palavras de mistério.

Canto de setembro, de saudade,
de tristeza por um amor que
sumiu levando a primavera.

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“EIS O REGISTRO GRÁFICO DA ENTREVISTA EM K-7, QUE AINDA GUARDO COMO TESTEMUNHO E DEPOIMENTO DE UM DOS MAIS VIGOROSOS TALENTOS INSTINTIVOS COM QUEM CONVIVI”:
                                                                                                                                                                        - Jorge de Souza Araújo

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           Meu nome é Ariston Ribeiro Caldas. Nasci num dia 15 de dezembro de   1926. Vim ao mundo numa fazenda de nome “Boa Sorte”, situada no município de Alagoinhas. De mudança em mudança, permaneci naquela região até os 8 anos, quando minha família transferiu-se para a localidade de Água Preta, hoje cidade de Uruçuca. Mais tarde, mudei-me para Itabuna, onde passei as maiores emoções de minha vida.

            Atualmente trabalho na “Tribuna da Bahia”, onde respondo por assuntos do interior. Enquadro-me na poesia contemporânea com inquietação. Os novos valores revelam exagerada preocupação com a forma e com o vocabulário, num esforço incontido à busca do impressionismo e do exótico, dando a entender desinteresse pela mensagem, pelo lírico, pelo heroico. Isto lembra o movimento parnasiano, que muito pouco acrescentou à poesia brasileira em termos de mensagem, limitando-se a transformações de estética e aproveitamento de vocábulos não considerados por alguns cultores do Romantismo. Por outro lado, sinto que a poesia atual vem se omitindo aos grandes acontecimentos, comportando-se alheia, limitada ou com apelações inaceitáveis.

            Ser poeta é viver com plenitude a vida integral: o amor, o ódio, a dor, a mágoa, o tédio, as desilusões, a saudade, a esperança, a fé, o desejo. Por isso acredito em todos. O poeta é portador de todas as sensações do mundo. Todos os enfermos repousam em sua alma, sente todas as ingratidões, ama desesperadamente e sofre como ninguém jamais sofreu. Tem esperança imorredoura, o que não é simplesmente uma esperança, mas o pressentimento do significado absoluto da vida universal.

            Sobre minha poesia, com exceções, considero-a espontânea e desvinculada de escolas literárias. Não acredito haver recebido influências poéticas, baseado que minhas leituras foram diversificadas. Li os principais poetas do mundo e na poesia brasileira, cheia de valores, ainda me rendo a Castro Alves, de quem não encontro nenhum vestígio nos versos por mim escritos, que revelam, de acordo com o meu poder criativo, somente o que vai em minha alma, no meu interior.

            Analisar poesia é tarefa difícil, especialmente para os poetas. E muito mais ainda uma autocrítica. Daí, sobre os poemas “Dissipação”, “Variante sobre o amor” e “História comum”, eu prefiro deixá-los a critério dos leitores, o que me deixa mais à vontade.


(Obra reunida – 1ª Edição)
ARISTON CALDAS

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