Quantas vezes também não o fiz e nem vi jogarem o chiclete
de bola fora, guardando com todo o carinho aquelas figurinhas coloridas que
vinham na sua embalagem, impressas num pedaço de papel? Felizmente com isto a
venda do produto não deixava de crescer e o seu consumo de fato não ocorria,
livrando-se a meninada do grau de risco que o seu uso indiscriminado poderia
representar. Por inteligência das partes, fabricante e consumidor passavam
assim a ser beneficiados: o primeiro, com a alta margem de lucro dos produtos
vendidos; o segundo, com a preservação da saúde e o prazer das estórias e das
cenas mágicas, daquela poderosa arte literária e visual.
Nos locais dos jogos de futebol e de gude, houve uma
repentina mudança de hábito, cuja frequência foi reduzida significativamente. A
quantidade de crianças que jogavam bolas de borracha e de vidro passou a ser
menor, diante da grande fascinação criada pelo marketing do novo lançamento do
referido produto.
Os pais dos meninos o tempo todo eram cobrados, no sentido
de liberarem recursos, para eles adquirirem a famosa goma de mascar. O custo de
cada unidade era pequeno, mas a infinidade da oferta das figurinhas lançadas no
mercado de todo o país, tornava este entretimento tanto lucrativo quanto
oneroso.
A disputa pelas figurinhas era acirrada. A garotada não
fazia a revenda, nem trocavam as figurinhas que lhes interessavam porque esse
negócio poderia decidir, a favor do outro, o resultado da competição. Havia
pressão na hora de comprar o chiclete de bola, ficando o atendimento das lojas
que o vendiam congestionado, na luta pela aquisição da referida mercadoria. O
problema era que cada menino comprava uma certa quantidade do produto e nela
poderia estar a figurinha de que precisava, para se tornar o ganhador da
disputa. De qualquer modo, sabia-se que a vitória dependia da sorte de cada um,
mas havia sempre a preocupação de ser o primeiro da fila e de comprá-lo logo.
- Eu sou o primeiro
da fila; ninguém se atreva, passando na minha frente! – dizíamos.
Como é praxe de todo o entretimento, o fabricante do
chiclete de bola também promovia eventos. O menino que adquirisse primeiro
todas as figurinhas que encerrasse uma determinada estória, seria o vencedor,
ganhando uma viagem no balão mágico da empresa, que o faria decolar, para o mundo
encantado do seu garoto propaganda.
Livros do Autor:
- A Ruas das Amélias e outras crônicas. Ed. Viseu 2018.
- A Criação da Criatura. Ed. Viseu 2019
Advogado e cronista. Itabuna - Bahia
E-mail: advjls13@hotmail.com
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FONTE: www.jonaldireitos.com
Setembro 2019
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