A propósito do documento preparatório para o Sínodo da
Amazônia (“Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia
integral”), reproduzimos um trecho da Parte III do livro “Revolução e
Contra-Revolução”, de Plinio Corrêa de Oliveira.
O caminho rumo a um estado de coisas tribal tem de passar
pela extinção dos velhos padrões de reflexão, volição e sensibilidade
individuais, gradualmente substituídos por modos de pensamento, deliberação e
sensibilidade cada vez mais coletivos. Portanto, é neste campo que
principalmente a transformação se deve dar. De que forma?
Nas tribos, a coesão entre os membros é assegurada sobretudo
por um comum pensar e sentir, do qual decorrem hábitos comuns e um comum
querer. Nelas, a razão individual fica circunscrita a quase nada, isto é, aos
primeiros e mais elementares movimentos que seu estado atrofiado lhe
consente. “Pensamento selvagem”,* pensamento que não pensa e se volta
apenas para o concreto. Tal é o preço da fusão coletivista tribal. Ao pajé
incumbe manter, num plano místico, esta vida psíquica coletiva, por meio de
cultos totêmicos carregados de “mensagens” confusas, mas “ricas” dos fogos
fátuos ou até mesmo das fulgurações provenientes dos misteriosos mundos da
transpsicologia ou da parapsicologia. É pela aquisição dessas “riquezas” que o
homem compensaria a atrofia da razão.
Da razão, sim, outrora hipertrofiada pelo livre exame, pelo
cartesianismo etc., divinizada pela Revolução Francesa, utilizada até o mais
exacerbado abuso em toda escola de pensamento comunista; e agora, por fim,
atrofiada e feita escrava a serviço do totemismo transpsicológico e
parapsicológico…
“Omnes dii gentium dæmonia” (Todos os deuses dos pagãos
são demônios), diz a Escritura (Sl 95, 5). Nesta perspectiva estruturalista, em
que a magia é apresentada como forma de conhecimento, até que ponto é dado ao
católico divisar as fulgurações enganosas, o cântico a um tempo sinistro e
atraente, emoliente e delirante, ateu e fetichisticamente crédulo com que, do
fundo dos abismos em que eternamente jaz, o príncipe das trevas atrai os homens
que negaram Jesus Cristo e sua Igreja?
É uma pergunta sobre a qual podem e devem discutir os
teólogos. Digo os teólogos verdadeiros, ou seja, os poucos que ainda creem na
existência do demônio e do inferno. Especialmente os poucos, dentre esses
poucos, que têm a coragem de enfrentar os escárnios e as perseguições
publicitárias, e de falar.
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* Cfr. Claude Lévy-Strauss, La pensée sauvage, Plon, Paris,
1969.
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