Palhaços
Eu vos entendo bem pobre palhaços!
Meus irmãos na impotência e no fadário.
Vejo punhais agudos e estilhaços,
Detrás do vosso rir de mercenário.
Vossa amargura é pasto do sadismo,
Da heterogênea e torpe multidão
Que nesse esgar de trágico histerismo -
Não reconhece a vossa maldição.
Eu reconheço... E sofro esta tortura,
Dos corações iguais na afinidade.
Alma afeita aos remígios e segura,
Na terra pela vil necessidade.
Vos compreendo - Prometeus histriões!
No picadeiro - Rigoleto abjeto.
Escondendo o estoicismo de Epíteto,
detrás do alvaiade dos bufões.
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Palhaços II
Fostes na velha Grécia o grande Homero,
Roto e faminto tateando a glória.
Fostes em Roma o matricida Nero,
Fantasma horrendo nas galés da história.
Savanarola!... O circo é muito vasto!
E tem por palco, o mundo milenar.
São palhaços, Junqueira, o velho Fausto
Para fazerem rir, de horror chorar...
- Ó César! Napoleão! Ó Macedônio!
Se o universo pra vos era uma tenda
A vossa fome enorme de demônio
É simples tema para a voz da lenda.
Califas! Faraó! Imperadores!
Tzares – espectros lá na antiguidade –
Sombras gigantes de conquistadores,
Sois os palhaços da posteridade!
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Palhaços III
Representais sátiras e comédias,
O Gwenplayne de alma grande e nobre!
Cujas farsas são íntimas tragédias,
Dadas ao povo como chiste dobre.
Cambalhotas, trejeitos e piadas,
Malabarismos sem sair do chão...
Vossas vinganças são bem calculadas...
- Rires daqueles de quem sois truão!
Em cada chiste esconde-se um sarcasmo,
Lançado à turba - cimitarra oculta,
Que lacera sutil... Eu fico pasmo,
Dessa humildade que servil, insulta.
Palhaços meus irmãos, servis demonos,
A humanidade de quem rides? Ora!
Consolai-vos, porque nós todos somos
Heróis palhaços pela vida a fora!
(IMAGENS MUTILADAS - 1963)
Luiz Gonzaga Dias
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