A FLOR E A FONTE
Vicente de Carvalho
Deixa-me fonte! - Dizia
A flor tonta de terror.
E a fonte sonora e fria,
Cantava, levando a flor.
Deixa-me, deixa-me fonte!
Dizia a flor a chorar:
“Eu fui nascida no monte...
Não me leves para o mar.”
E a fonte, rápida e fria,
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria,
corria levando a flor.
“Ai, balanços dos meu galho,
Balanços do berço meu;
Ai, claras gotas de orvalho
caídas do azul do céu!...”
Chorava a flor, e gemia,
Branca, branca de terror,
E a fonte sonora e fria,
Rolava, levando a flor.
“Adeus, sombra das ramadas,
Cantigas do rouxinol;
Ai, festas das madrugadas,
Doçuras do pôr do sol;
Carícias das brisas leves
Que rasgões de luar...
Fonte, fonte, não me leves,
Não me leves para o mar!...”
*
As correntezas da vida
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
Como a da fonte e da flor...
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Vicente de Carvalho (Vicente Augusto de Carvalho), advogado,
jornalista, político, magistrado, poeta e contista, nasceu em Santos, SP, em 5
de abril de 1866, e faleceu na mesma cidade em 22 de abril de 1924.
Era filho do Major Higino José Botelho de Carvalho e de D.
Augusta Bueno Botelho de Carvalho. Fez o primário na sua cidade natal e, aos 12
anos, seguiu para São Paulo, matriculando-se no Colégio Mamede e, depois, no
Seminário Episcopal e no Colégio Norton, onde fez os preparatórios. Aos 16 anos
matriculou-se na Faculdade de Direito. Em 1886, com vinte anos, era bacharel em
Direito.
Republicano combativo, cursava ainda o 4º ano quando foi eleito membro
do Diretório Republicano de Santos. Em 1887, era delegado a Congresso
Republicano, reunido em São Paulo. Em 1891, era deputado ao Congresso
Constituinte do Estado. Em 1892, na organização do primeiro governo constitucional
do Estado, foi escolhido para a Secretaria do Interior. Por ocasião do golpe de
estado de Deodoro, abandonou o cargo que vinha exercendo. Mudou-se, então, para
Franca, município do interior paulista, e tornou-se fazendeiro. Em 1901,
regressou a Santos, dedicando-se à advocacia. Em 1907, mudou-se para São Paulo,
onde foi nomeado Juiz de Direito. Em 1914, passou a ministro do Tribunal da
Justiça do Estado.
Vicente de Carvalho foi, durante toda a sua vida, um
jornalista combativo. Até 1915, sua atuação na imprensa foi quase ininterrupta.
Em 1889, era redator do Diário de Santos, fundando, no mesmo ano, o Diário
da Manhã, da mesma cidade. Ali manteve ainda colaboração em A Tribuna e
fundou, em 1905, O Jornal. Até 1913 colaborou n’O Estado de S. Paulo. No
fim da vida, cansou-se do jornalismo, mas continuou em contato com seus
leitores através dos versos que publicava nas páginas de A Cigarra.
Poeta lírico, ligou-se desde o início ao grupo de jovens
poetas de tendência parnasiana. Foi grande artista do verso, da fase criadora
do Parnasianismo. Da sua produção poética ele próprio destacou poemas que são
de extrema beleza, como: “Palavras ao mar”, “Cantigas praianas”, “A ternura do
mar”, “Fugindo ao cativeiro”, “Rosa, rosa de amor”, “Velho tema” e “Pequenino morto".
Segundo ocupante da cadeira 29, foi eleito em 1º de maio de
1909, na sucessão de Artur Azevedo, e recebido por carta na sessão de 7 de maio
de 1910.
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