Sonho das Esmeraldas
“As
tuas esmeraldas eram falsas!”
Paulo Setúbal
I
Varando a selva, uma existência inteira,
Lutando contra o índio, abrindo sendas,
Engrandecendo a pátria brasileira,
Cavalheiro do século das lendas.
A fome, o frio, a perfídia e a canseira,
Não lhe detém o passo, e são prebendas...
Possuindo por feudo a selva inteira,
Por prêmio a morte... Aventura, as comendas.
Esmeraldas! Ecoa o grito insano,
Como fim da epopeia de ambições.
Esmeralda? Mentira! Puro engano!
Em farrapos, em febre, tiritante,
Morre pobre, mas rico de ilusões,
Fernão Dias Paes Leme o Bandeirante!
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FIM DA EPOPEIA DAS ESMERALDAS
II
“Ah! Mísero demente! O teu tesouro é falso!
Tu caminhaste em vão por sete anos no encalço,
De uma falaz, de um sonho malfazejo”.
Olavo Bilac
Nada detém o bandeirante rude!
O índio, a fera, a fome, a mataria,
Esquece a idade, o amor, despreza tudo,
Apenas vendo a glória que lhe guia.
Forra-lhe o peito, como férreo escudo,
O orgulho de renome e de honraria.
A todo afeto o coração é mudo,
Somente um sonho enorme acaricia.
Esmeraldas! Anelo que alucina!
Que tortura, que fere, que fulmina,
Mas anima a esperança que socorre...
Esmeraldas? Miragem delirante!
Iludido e feliz, o Bandeirante,
Escabuja, estortega, arqueja e morre!...
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PALAVRAS DESPRETENSIOSAS
Terminada
a leitura, temos a impressão de angústia e de que o atavismo do destino tenha
perseguido o autor. Mas a finalidade de seus versos se evidencia pelo cunho
religioso, como em “Temor”, ora pende para o amargo travo da existência como em
“Dualismo”, aparecendo o filósofo perdido no cosmos.
Se existe
beleza em poesia, podemos tomar como exemplo, certamente, os sonetos “Natal dos
corações bons” (E mensagens de amor pelos caminhos), ou então o soneto “Verão”
(E sorrisos de luz pelos caminhos).
Essas
frases recordam o saudosismo de Vicente de Carvalho, quando descrevia o caminho
feito de espumas, os punhados de claridade esparsos pelas ondas.
Entretanto, a influência ‘bilaqueana’ mostra-se nos sonetos “Almas
Mortas”, “Morreu uma Ilusão”, “Maestro Chiquinho”. Neste último derrama-se
tanto a efêmera banalidade do cotidiano quanto a suprema ventura de ser um mito
ou uma quimera, a dantesca glória de ser um maestro louco, pagando assim um
alto preço à imortalidade.
O autor,
parece-nos também, não fugiu à leitura de Augusto dos Anjos, como por exemplo
nos poemas “Convicção”, “Não gostei não”, “Escrúpulo”, “Antero de Quental” e
tantos outros colhidos ao acaso, dentro desta limitação em que vivemos de tempo
e de vontade afundados no marasmo da vida, sem liames com as cousas do
espírito. Por isso é uma heroica aventura publicar um volume de poesias (tanto
para a editora como para o autor), em um país como este, onde os gestos
fidalgos não têm seguidores a apenas avulta a mediocridade.
A cólera
que sacode o justo, que grita contra esse estado de pauperismo moral (da elite)
e físico (do proletariado), não encontra senão esparsos ecos.
E o
problema do conflito de classes não deixa de ter espaço, principalmente em
“Escrúpulo”, “Causa Antiga”, “Ironia das guerras civis”, mas não é uma
constante no volume, como realmente deveria ser. Porque é através dos poetas
que se faz a preparação para as lutas imortais de todos os povos, para a conquista
da liberdade real, não apenas fictícia.
Mas, como
grandeza perene do livro, resta uma noção de fetichismo, de qualquer cousa de
bem brasileiro, como por exemplo a solidão dos sertões tão à mostra na obra de
Euclides da Cunha.
Ou então aquele atavismo presente em
“Inocência” que nos apresenta alguns dos tipos mais sofredores de toda a nossa
literatura, caminhando passo a passo com os romances de Graciliano Ramos ou as
obras de Jorge Amado, onde a literatura madura chega, para tornar-se daí para a
frente imorredoura. Quando chegará, para o povo, o tempo em que a literatura há
de cantar suas canções?
Qual a
literatura que não ficará eterna, reproduzindo esses anseios?
Dezembro, de1962
Paschoal
Roberto Turatto.
(IMAGENS MUTILADAS)
Luiz Gonzaga Dias
1963
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