23 de junho de 2019
Lançamento da Frente Parlamentar do Ensino Domiciliar,
ocorrido no Congresso Nacional em 2 de abril de 2019
[Fotos: Cleia Viana / Câmara dos Deputados]
Paulo Henrique Américo de Araújo
O auditório encontrava-se lotado. Todos os presentes
pareciam muito à vontade, quase como se estivessem em casa. Homens, mulheres,
casais jovens; e para completar, muitas crianças corriam e brincavam entre as
poltronas, através dos corredores, deixando-se filmar e fotografar. Mas o
leitor se enganaria, julgando tratar-se de festa de aniversário ou reunião de
pouca importância. Não! Lá estavam vários deputados federais, jornalistas
aglomerados; e na tribuna, uma Ministra de Estado.
Um menino mais ousado subiu correndo até a área das
autoridades, e se escondeu sob a mesa junto da qual se achava a Ministra. A
mãe, em estado avançado de gravidez, rapidamente alcançou o pequeno atrevido, e
após pequena luta conseguiu retirá-lo daquele lugar inapropriado. Todos os que
presenciaram a cena, inclusive a Ministra, sorriam e achavam graça.
A descrição que acabo de fazer é fidedigna. Eu mesmo a
acompanhei, e seria facilmente confirmada por todos os presentes no lançamento
da Frente Parlamentar do Ensino Domiciliar, ocorrido no Congresso Nacional em 2
de abril de 2019.1 A alegria distendida da cena pode surpreender o leitor,
e foi certamente sentida pelos frequentadores dos carrancudos ambientes
parlamentares de Brasília, assim amenizado pela presença incomum de tantas crianças
em evento que dizia respeito a elas.
Defender os filhos da corrupção moral
Por cima do debate sobre o ensino domiciliar (home schooling),
durante aquela sessão as atitudes, o convívio, as maneiras de ser revelavam
algo de profundamente distendido, gentil, suave, algo autenticamente
brasileiro. Bem o oposto do que se costuma ver no Congresso: carrancas,
manifestações furiosas, gestos histéricos, violentos até.
Como argumento mais recorrente a favor do ensino domiciliar,
os deputados integrantes da Frente Parlamentar apontavam sobretudo a defesa da
família, sob os aplausos entusiasmados da audiência. A Ministra Damares Alves
foi especialmente ovacionada quando afirmou: “O Estado é laico, mas nós
somos cristãos”.
Poderia haver nos presentes algumas discrepâncias de
métodos, mas um princípio era compartilhado por todos: a educação das crianças
cabe primeiro aos pais. Ao Estado cabe apenas a função supletiva, acessória. Os
pais têm o direito e o dever de defender seus filhos, especialmente quando se
sabe que o ambiente escolar está impregnado de doutrinação marxista e
degradação moral. Assim, a bandeira do home schooling adquire, em
linhas gerais, um inegável caráter contra-revolucionário.
Algumas ponderações e distinções se impõem. Em seu
depoimento aos participantes, uma mãe de dois filhos com problemas mentais
indicou que o home schooling não é para todos, mas sim para os pais
que desejarem e tiverem condições para tanto. Para os militantes da esquerda,
contrários à educação dos filhos em casa, deixou este recado, sob aplausos do
auditório: “Nós não somos extra-terrestres!”.
Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados
Fracos argumentos contra o ensino em casa
A argumentação contrária ao home schooling alega
que a educação cabe primeiro ao Estado, e secundariamente à família. Num
evidente embaralhamento de conceitos, exemplifica com crianças hipotéticas, que
fora das escolas públicas não teriam oportunidade de interação, convívio com
pessoas diferentes (na verdade, recorrem a termos tendenciosamente manipulados,
como “diversidade”, “socialização”, “preconceitos”, etc). Os pais que negam
isso aos filhos são pejorativamente tachados de retrógrados, conservadores
obtusos, religiosos fanáticos.
Nesse sentido, é reveladora a declaração de Telma Vinha,
professora de Psicologia Educacional da Unicamp: “Se a família tem visões
racistas ou preconceituosas, a escola tem que transformar esses valores em
socialmente desejáveis. Cada família vai estar centrada nos seus valores e
achar que são únicos, só que a gente tem que pensar que educa as pessoas para
uma sociedade democrática, plural”.2
A mensagem da professora não poderia ser mais tendenciosa:
deve-se corrigir as famílias de seus “racismos” e “preconceitos”, quer dizer,
de seu posicionamento contra o homossexualismo ou contra a ideologia de gênero,
por exemplo. E a escola se apresenta como o lugar ideal para libertar as
crianças de tais ideias religiosas “radicais” e “discriminatórias” vindas dos
pais…
Ainda mais ostensivamente contrária é a opinião da
jornalista Renata Cafardo, num pequeno artigo para “O Estado de S.
Paulo”: “Com 45 milhões de estudantes nas escolas brasileiras, o governo
de Jair Bolsonaro escolheu priorizar em seus primeiros cem dias o ensino em casa,
praticado por cerca de 7 mil famílias”.3 Note-se que o vozerio
altissonante da esquerda em favor das minorias (sobretudo a autointitulada
LGBT) aplaude qualquer iniciativa governamental que as favoreça, mas isso não
vale para as minorias do home schooling, nas quais não reconhece o direito
de existir.
Com esta comparação se percebe como a iniciativa da educação
em casa tem causado dores de cabeça aos revolucionários de nossos dias.
A reação anticomunista se fortalece
Após a referida reunião no Congresso Nacional, em 12 de
abril o Governo Federal apresentou projeto de lei para regulamentação do ensino
domiciliar.4 É claro que os contrários esperam barrar essa iniciativa,
para manterem como obrigatória para todas as crianças a escola que no
entanto qualificam como “plural”, “diversa” e “cidadã”. Os campos estão bem
delimitados, nessa batalha que não deve terminar tão cedo.
O ambiente distendido e alegre no Congresso Nacional, por
ocasião do lançamento da Frente Parlamentar do Ensino Domiciliar, em nada diferia
das multidões pacíficas, tipicamente brasileiras, que se aglomeraram nas
principais cidades do País a partir de 2013. Pois os pais que se preocupam com
os perigos da doutrinação esquerdista e a degradação moral nas escolas
acompanham e apoiam também as incontáveis outras reações sadias da opinião
pública nos últimos anos — manifestações firmes, serenas, contra o socialismo e
a imoralidade, sem nada de agressões nem agitações.
Esse panorama trouxe-me a recordação de uma entrevista
concedida por Plinio Corrêa de Oliveira ao Prof. Marcelo Lúcio Ottoni de
Castro, na ocasião em que este preparava sua dissertação de mestrado em
História.5 Quando o diálogo tratava do desequilíbrio de forças da
Revolução e da Contra-Revolução, especificamente entre as décadas de 60 e 90 do
século XX, o entrevistado deixou claro o que pensava:
“No desequilíbrio de forças, a da Contra-Revolução aumentou
mais. Por quê? Porque a Revolução se tornou mais radical. E tornando-se mais
radical, muita gente que era da chamada ‘terra de ninguém’, entre Revolução e
Contra-Revolução, se assustou e voltou para trás. São os ‘agredidos pela
realidade’. Esses voltaram e acrescentaram em algo o círculo de influência da
Contra-Revolução. Não ficaram propriamente contra-revolucionários, mas ampliou-se
o círculo de influência da Contra-Revolução”.
A constatação acima se apresenta ainda mais verdadeira ao
analisar os fenômenos de opinião pública ocorridos no Brasil recente. Nos 13
anos dos governos Lula-Dilma, aguçou-se uma reação veemente de grande parte dos
brasileiros contra a cavalgata esquerdista. E aí está o fenômeno do “ensino
domiciliar”, a comprovar o fato. Assim cresce o círculo de influência da
Contra-Revolução.
______________
Notas
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