14 de junho de 2019
Profetas do Aleijadinho, em Congonhas do Campo [Foto: L.G.
Arroyave]
Guilherme Félix de Sousa Martins
É possível sentir saudade de uma época na qual não se
viveu?
Talvez os especialistas se aferrem à resposta negativa, mas
certo mal-estar que por vezes tem me assaltado pode muito bem ser decorrente de
saudade como essa. Devo esclarecer que não se trata de um mal-estar qualquer, é
de fato um grande mal-estar. E não é só meu, como já tive oportunidade de
comprovar fartamente, embora eu talvez possa considerar-me um dos poucos que
ousa desabafar. Compartilho o problema com uma vasta multidão contaminada por
verdadeira saudade epidêmica. Uma epidemia salutar — perdoe-me mais este
paradoxo.
A grande mídia não pôde ignorar um brado constante nas
manifestações multitudinárias de anos recentes: “Quero o meu Brasil de
volta!” [foto abaixo] A voz altissonante de uma numerosa ala jovem se
incorporava a esse coro efusivo, em protesto contra um estado de coisas
esclerosado, indesejável, incômodo. No entanto, é bem verdade que a grande
maioria desses jovens viveu boa parte da vida nesse estado de coisas. Põe-se
então a pergunta: Querem a volta de qual Brasil, se não viveram em outro?
Que Brasil é esse que tanta falta lhes faz? Seria o Brasil
dos governos imediatamente anteriores à vitória eleitoral da seita vermelha,
cujos tentáculos o estrangularam até impor o desastre quase completo? Não, não
pode ser aquele Brasil tão próximo do atual, pois durante esse período a hidra
esquerdista parecia controlada, mas nas profundidades já caminhara e se
estabelecera em grande medida.* Não apenas lhe haviam sido abertos os caminhos
da política, mas em profundidade os valores tão caros aos brasileiros
autênticos foram sendo persistentemente cerceados e vitimados por um
constrangimento constante e avassalador.
Permita-me voltar ao meu desabafo. Por mais que me inspire
grande esperança, o rumo novo que vem tomando o País (em boa medida, algo
semelhante ocorre em todo o Ocidente) não tem o condão de me tranquilizar.
Transformações políticas são um bom começo; mas o caminho é longo, e os males a
debelar são de origem muito profunda.
Meu Brasil — o mesmo Brasil que a imensa maioria dos bons
brasileiros deseja — não é o do tecnicismo sem barreiras, despreocupado da
dignidade do próprio homem e destruidor de seus sentimentos. Também não é o
império da extravagância, nem o da imitação de modas alienígenas. Não é de tais
“libertações” que necessito. Meu Brasil não combina também com o gozo
debochado, nem com orgias ostentadoras da luxúria, aliada agora ao satanismo.
De tanto desabafar, parece-me que vou conseguindo explicitar
as causas da minha saudade nostálgica. Não sinto falta de planos econômicos
bem-sucedidos, de sistemas de educação ou saúde eficientes. Necessito de
segurança, é claro, mas não essa de cuja falta tanto se fala. Refiro-me à
segurança trazida pela solidez das instituições, pelas relações humanas bem
estabelecidas, pelo alto padrão da formação psicológica. O pressuposto óbvio, o
elemento fundamental de tudo disso é a Fé — sim, com letra maiúscula, na sua
integridade, sem respeito humano. Refiro-me a essa Fé que nos vem sendo roubada
– por vezes até dentro do templo sagrado, dói dizê-lo – por aqueles que
deveriam ser seus próprios guardiães. Única Fé capaz de moldar ou refundar toda
uma civilização.
Civilização cristã! Palavras sonoras, fecundas, benditas. Só
a conheço pelo estudo atento da História, mas inegavelmente é disso que sinto
saudades… Um passado não vivido por mim, mas que renascerá ainda mais belo no
Brasil do Imaculado Coração de Maria, depois do seu triunfo! O Brasil da Senhora
Aparecida. O Brasil Terra de Santa Cruz!
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* Cf. Manifesto O Brasil em Histórica Encruzilhada, de
29 de março de 2016. Disponível em: https://ipco.org.br/wp-content/uploads/2016/03/IPCO-O-Brasil-em-hist%C3%B3rica-encruzilhada.pdf
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