5 de abril de 2019
Tudo parece indicar que a razão principal das aparições de
Nossa Senhora em Fátima, Portugal, em 1917, foi proclamar o triunfo do seu
Imaculado Coração. Deus, nos seus desígnios, teria permitido que Ela viesse à
Terra para anunciar a fundação de uma civilização cuja catolicidade, fervor e
beleza será superior à que nasceu na época medieval após a conversão dos povos
bárbaros.
Com efeito, uma era toda marial, o Reino de Maria, foi
assegurada aos homens pelo próprio Deus, no ato da expulsão de Adão e Eva do
Paraíso, quando afirmou que o demônio teria sua cabeça esmagada pela Santíssima
Virgem. O início dessa nova Idade Média da fé foi também profetizado por São
Luís Maria Grignion de Montfort no seu célebre Tratado da Verdadeira
Devoção à Santíssima Virgem.
Essa época viria com a conversão da humanidade, operada por
Nossa Senhora. Mas para isso é necessário atender devidamente os pedidos feitos
por Ela na Cova da Iria, e posteriormente à Irmã Lúcia, no convento das
Doroteias em Tuy (Espanha). Quais eram esses pedidos? Que os católicos rezem
diariamente o Terço; que mudem de vida e se penitenciem dos seus pecados; e que
façam a comunhão reparadora nos primeiros sábados de cinco meses seguidos.
Houve ainda um pedido endereçado ao Papa, para que ele, em
união com todos os Bispos do mundo, consagrasse a Rússia (o nome desse país foi
mencionado explicitamente) ao Imaculado Coração de Maria. Atendidos esses
pedidos, Nossa Senhora prometia não apenas a conversão dos homens, mas também a
conversão da Rússia, trazendo-a de volta para o seio da Igreja Católica e
destruindo o comunismo que seria ali implantado dentro de alguns meses.
Inteira correspondência de Francisco
Estes antecedentes lançam luz sobre a santidade de São
Francisco de Fátima, cujo centenário da entrada no Céu se comemora no dia 4 de
abril deste ano. Já preparado espiritualmente pelo Anjo de Portugal, no ano de
1916, ele preenchia as condições exigidas por Nossa Senhora para vê-La. De
fato, no dia 13 de maio de 1917 Ela lhe apareceu pela primeira vez, como à sua
irmã Jacinta e também à sua prima Lúcia.
Durante a aparição, depois de Lúcia ouvir Nossa Senhora
dizer que vinha do Céu, prosseguiu o seguinte diálogo:
— Eu também vou para o Céu?
— Sim, vais.
— E a Jacinta?
— Também.
— E o Francisco?
— Também, mas tem que rezar muitos terços.
A Irmã Lúcia escreveu que, no final da aparição, Nossa
Senhora “abriu pela primeira vez as mãos, comunicando-nos uma luz tão
intensa, como que um reflexo que delas expedia, e que penetrando-nos no peito e
no mais íntimo da alma, fazia-nos ver a nós mesmos em Deus, que era essa luz,
mais claramente do que nos vemos no melhor dos espelhos. Então, por um impulso
íntimo também comunicado, caímos de joelhos e repetimos intimamente: ‘Ó
Santíssima Trindade, eu Vos adoro. Meu Deus, meu Deus, eu Vos amo no Santíssimo
Sacramento’”.
Durante essa aparição, Francisco não ouvia o que Nossa
Senhora dizia, apenas via. Portanto, só depois ele tomou conhecimento de que
Ela o levaria logo para o Céu, “mas teria de rezar muitos terços”. Apesar
desse seu “débito” para com a Mãe de Deus, Ela não deixou de envolvê-lo naquela
luz sobrenatural com a qual inundou as almas da sua irmã Jacinta e da sua prima
Lúcia. O fato é que Francisco disse um SIM tão completo a Nossa Senhora, que a
partir daquele momento se produziu nele uma conversão inteira.
Morte de um grande santo
Na narração da Irmã Lúcia sobre as aparições, não está claro
se o motivo de Francisco não ouvir Nossa Senhora seria alguma mancha na alma,
que já o impedira de receber do Anjo de Portugal a Sagrada Comunhão. Ao que
tudo indica, seria uma mancha venial, não mortal. Mesmo assim, ele precisaria
rezar muitos terços para entrar no Céu, pois a porta do Céu é estreita, como
registra o Evangelho.
Francisco aceitou a sua penitência, humilhou-se e cumpriu na
perfeição o que Nossa Senhora lhe pedira: rezou muitos e muitos terços. Convém
lembrar que, pouco antes de seu falecimento, perguntou a Lúcia se se lembrava
de alguma falta que ele tivesse cometido. Ela se lembrou de uma, e lhe contou.
Em seguida ele pediu a Lúcia que fizesse a mesma pergunta a Jacinta, que estava
doente no quarto ao lado.
Esta avidez em se humilhar, a fim de se purificar, manifesta
claro indício de uma alma verdadeiramente santa. Foi com essas excelentes
disposições que Francisco expirou numa placidez imensa.
Aquisição da mentalidade de Nossa Senhora
Analisando o olhar de Francisco nesta foto, pode-se
constatar um altíssimo grau de discernimento místico de Deus e de outros
aspectos da vida. Em outras palavras, Francisco ficou como que modelado segundo
o Imaculado Coração de Maria, com a sua mentalidade assumida pela de Nossa
Senhora. Pode-se supor que tenha se produzido nele o fenômeno da troca de
corações com Ela, como ocorreu entre Santa Gema Galgani e Nosso Senhor. Mas
isso não explicaria toda a expressão do olhar de Francisco. Numa das aparições
em Fátima, os videntes tiveram uma visão do inferno, portanto viram muitas
almas caindo nele. Mas a Irmã Lúcia afirmou depois que ele foi quem menos se
impressionou com aquela visão aterradora, que marcou indelevelmente a alma das
três crianças.
No olhar de Francisco parece haver um fundo de grande
preocupação, embora cheio de confiança. Não teria Nossa Senhora feito Francisco
pressentir, ou mesmo antever de alguma forma misteriosa, a tremenda crise por
que passaria a Santa Igreja? Talvez seja a atual crise a pior de toda a sua
história, e também da civilização cristã. Se a Santíssima Virgem deu luzes
neste sentido a Jacinta, por que não as teria dado também a Francisco, embora
ele não tenha externado nada a esse respeito? Julgo não ser descabido levantar
tal hipótese.
Isso poderia deitar luz sobre o grande empenho de Francisco
em consolar Nosso Senhor no sacrário — ou seja, Jesus escondido, como era sua
expressão. Era frequente ele se isolar por longos períodos, a fim de consolar
Nosso Senhor Jesus Cristo, contrastando com uma imensa gama de católicos que só
buscam Deus e Sua Mãe Santíssima para pedir e receber, mas quase nunca para dar
e agradecer. Desta forma ele estaria atendendo à queixa que Nosso Senhor fez à
Irmã Josefa Menendez, lamentando permanecer horas e horas no sacrário, como um
prisioneiro, esperando por alguém que Lhe dê uma esmola de amor.
Não constitui a admirável trajetória de Francisco, desde a
conversão à altíssima santidade, uma imagem da transformação que Nossa Senhora
operará nas almas dos católicos com o triunfo do seu Imaculado Coração?
Além disso, a santidade atingida por Francisco chancela a
veracidade das aparições e da Mensagem de Fátima. Ninguém se torna santo com
base numa mentira. Por isso, parece razoável admitir que Francisco seja uma
semente do Reino de Maria, como também um intercessor para alcançarmos graças
necessárias de fidelidade inteira à Santa Igreja, a Nossa Senhora e a Deus
Nosso Senhor neste século de pecados imensos e ininterruptos.
Façamos como Francisco de Fátima. Creiamos firmemente na
Mensagem de Nossa Senhora. Atendamos a tudo que Ela pediu. Façamos de sua
Mensagem o nosso ideal, e assim seremos transformados em sementes de triunfo do
Imaculado Coração de Maria. Há chance maior de realizar um altíssimo ideal que
agrade tanto a Deus? Peçamos a São Francisco de Fátima essa graça tão preciosa.
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Fonte: Revista Catolicismo, Nº 820, Abril/2019.
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