Descansando numa rede em meu sítio em Parati, olhando a belezas e centenas de turistas, comecei a recordar toda trajetória de minha vida que me fez chegar onde estou!
Nasci em Campina grande na Paraíba, filha de pais lavradores,
pobres e analfabetos, mas, com esforços me deram de presente aos troncos e
barrancos, a possibilidade de estudar e terminar o segundo grau. Um curso
precário da comunidade, porém, eu gostava de ler muito e estudar, com dezesseis
anos tinha conseguido concluir com bastante conhecimentos graças aos meus
esforços e dedicação!
E, em função dos meus conhecimentos adquiridos, achei que deveria
ir para uma cidade grande, onde pelos meus predicados, logo arranjaria um
emprego e entraria para a faculdade. Meus pais fizeram uma vaquinha com os amigos,
me deram uma quantia de dinheiro e, com a maior coragem, tomei um ônibus para o
Rio de Janeiro. Embora com um pouco de medo, estava indo contente e cheia de
esperanças. Chegando lá fui procurar uma pensão modesta que haviam me
recomendado, hospedei-me alugando quarto por um mês pra baratear o custo, tomei
um bom banho e fui me deitar para descansar da longa viagem!
Dia seguinte, sem perda de tempo, segui pelas ruas e avenidas do
comércio, com uma porção de currículos, que já tinha levado por orientação de
pessoas da comunidade. Batia pernas todos os dias, sempre andando para
economizar, mas, passou o mês e ninguém me chamou para entrevista. Fiquei
apavorada, pois minha grana que havia trazido estava acabando e eu não queria voltar
com a cara de “banjo” demonstrando insucesso!
Foi aí que começou minha nova vida, passando a aceitar as cantadas
constantes na rua e nas empresas, e sem nenhuma vergonha, comecei a me
prostituir em função das necessidades e da sobrevivência! No começo era duro
ter que transar com indivíduos estranhos, muitos mal-educados e nos tratavam
como, simplesmente, “putas”. Na verdade, eu era, mas não queria admitir.
Isso me rendia uma boa verba semanal que, quando passei a fazer as
contas, vi que além de pagar todas minhas despesas, sobrava uma boa fatia que
eu podia economizar! Sinceramente, dei um sorriso e disse para mim mesma: “É
preferível ser uma prostituta e sobreviver bem, que querer ser toda certinha e
morrer na merda!” Esse foi o destino que Deus me deu.
Passei então ser mais seletiva, somente transar com homens de meia
idade, ou acima, pois, nessa vertente, eles são mais generosos, nos respeitam e
sempre nos ajudam pagando melhor.
Aluguel um apartamento pequeno, que me dava condições de atender
minha seleta clientela e, sem nem pensar duas vezes, passei a economizar
bastante e pagar o recolhimento de INPS, seguindo conselho de um financista,
meu já cliente mais assíduo.
Quando completei vinte anos, me assustei, pois, minhas economias
já davam para eu comprar um apartamento de dois quartos no interior. E cheia de
alegrias, seguindo o conselho de um especialista imobiliário, fui a Parati,
escolhi e comprei a minha primeira propriedade. Sinceramente, chorei de
felicidade quando assinei a escritura e registro. Tratava-se de uma grande vitória,
mesmo sendo de uma maneira condenável pela sociedade. Passei uma semana em
Parati e, com muita sorte, consegui alugar o apartamento por um preço razoável
e voltei para o rio, já preocupada, com medo de perder minha freguesia.
Habituada com meus comportamentos, tudo parecia super normal para
mim. Tinha meus cuidados com a saúde e a beleza estética que são bons
chamarizes, partia diariamente para shoppings nos horários de almoço, pois era
um bom lugar para eu fazer minhas caçadas e eles pensarem que são bons
“caçadores” e conseguiram uma boa e jovem mulher! Nesse acontecimento, juntava
a fome com a vontade de comer! Rsrsrs. Eles satisfaziam seus desejos e eu as
minhas necessidades. Uma troca justa que ambos saiam sempre ganhando.
Pra encurtar a conversa, que passará a ser repetitiva, comprei um
sítio em Parati, onde estou nesse momento, com minha empregada (já uma amiga)
que trabalha comigo há dezenas de anos, estou aposentada recebendo o máximo
permitido pela lei, o aluguel do meu apartamento que comprei anos atrás,
vivendo uma vida feliz, tranquila e, a última vez que fui a Campina Grande foi
na morte dos meus pais, isso há doze anos. Morreram alegres e felizes, pensando
que eu era uma professora bem-sucedida.
Estou com sessenta e três anos, tranquila, cheia de vida, não me
casei, mas recebi várias propostas para ser amante exclusiva, ou até esposa,
porém meu ideal era vencer na vida sem que homem nenhum mandasse em mim!
Tenho convicção que sou uma das exceções, pois, normalmente,
muitas se metem com bandidos, drogas, DSTs e terminam na miséria!
Não se deve tomar como exemplo essa vida pregressa de Carmem Lúcia
Oliveira! Esse é o meu nome verdadeiro, mas trabalhei (a vida inteira com o
nome de Janete).
Antonio Nunes de Souza, escritor
Membro da Academia Grapiúna de
Letras-AGRAL
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