29 de julho de 2018
♦ Pe.
David Francisquini
O artigo Católicos LGBT organizam movimento para
reivindicar mais espaço na Igreja, de Anna Virginia Balloussier (folha.uol,
23-7-18), traz declarações de uma ativista homossexual que de tal maneira
deixou cair a máscara, que produziu o efeito da pedrinha de sal ao cristalizar
todo o líquido de um copo.
A árvore boa dá bons frutos, e a árvore má dá maus frutos,
pelos frutos conhecereis os homens, ensina o divino Salvador (Mt 7, 20). Toda a
árvore que não der bom fruto será lançada ao fogo. Portanto, as pessoas que não
produzem bons frutos querem transformar o ambiente católico numa atmosfera
concessiva ao pecado que clama a Deus por vingança.
Aprendi nas aulas de Catecismo que a Igreja Católica —
sociedade visível fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo — tem seus mandamentos,
sua doutrina, suas leis, suas regras, seus cânones.
Todo esse conjunto
fundamentado na Sagrada Escritura e na Tradição constitui um bloco do qual não
se pode aceitar apenas uma parte.
Mais ainda, pelos estudos feitos no Seminário, aprendi
também que os princípios da Religião católica são inegociáveis. Assim, entre o
ensinamento da Igreja e o homossexualismo, por exemplo, não existe aproximação
possível; são irreconciliáveis como a luz e as trevas, a verdade e o erro, a
virtude e o vício; há entre eles uma incompatibilidade total, pois são
excludentes.
Se a Igreja abrisse mão deste ponto, deixaria de ser a
Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, pois está no livro do Gênesis: “Porei
inimizade entre ti e a mulher, entre a tua posteridade e a posteridade dela.
Ela te esmagará a cabeça, e tu armarás traições ao seu calcanhar”(Gen. 3, 15).
E essa inimizade é eterna.
Vejamos as palavras da ativista homossexual que se insurge
contra a autoridade eclesiástica: “Questionamos muito a atitude de esperar
que o Papa mude alguma coisa, como se tivéssemos de aguardar algum tipo de
autorização vinda do alto da Hierarquia para podermos ser Igreja. Isso nós já
somos”. Seria bom se essa ativista que diz “ser Igreja” soubesse
que, conforme afirma São Paulo na segunda epístola a Timóteo, autoridade alguma
na face da Terra pode mudar a doutrina de Cristo.
O Apóstolo ainda aconselha: “Prega a palavra, insiste,
quer agrade, quer desagrade; repreende, suplica, admoesta com toda a paciência
e doutrina. Porque, virá tempo em que os homens não suportarão a sã doutrina, e
contratarão para si mestres conforme os seus desejos, levados pela curiosidade
de ouvir, e afastarão os ouvidos da verdade para os abrir às fábulas” (Tim.
4,1-8).
Afirmar ser igreja revela uma total deformação do
conceito de Igreja. São Pio X [foto ao lado] ensina que a Igreja é uma
sociedade visível composta de eclesiásticos e de leigos. Os primeiros pertencem
à Igreja docente, ou seja, têm o poder de ensinar, governar e santificar; os
leigos são da Igreja discente, isto é, devem ser ensinados, governados e
santificados pelos seus pastores. Para ser cristão é indispensável ser
batizado, crer e professar a doutrina e a lei ensinadas por Jesus Cristo e
contida no magistério da Igreja.
O ensinamento de Nosso Senhor na parábola do Bom Pastor e do
filho pródigo que volta à casa paterna ressalta o Seu amor para com as almas
afastadas da graça e da amizade divina. Ele faz de tudo para que elas voltem ao
redil, pois há mais júbilo no Céu por um pecador que faça penitência do que por
noventa e nove justos que não precisam dela.
Há mais alegria no Céu por um só pecador que se emenda e faz
penitência, do que por noventa e nove justos que não precisam arrepender-se (Lc
15,7). A pior tragédia de uma alma é quando ela quer justificar sua má conduta
impondo-a aos demais. Ao reivindicar cidadania para o erro, o seu coração
endurece, dificultando a sua conversão.
Toda sociedade civilizada tem suas leis, seus princípios,
seus códigos. Seus membros devem aderir a esse conjunto normativo, pois são
afins com ele e existem para o bem comum. Assim, a Igreja como sociedade
visível de caráter espiritual não pode transigir em relação aos ensinamentos do
seu Fundador, o Filho de Deus encarnado.
O próprio Nosso Senhor nos alerta sobre os falsos profetas
que vêm a nós com pele de ovelhas e por dentro são lobos vorazes. Porventura se
colhem uvas de espinhos ou figos de cardos? São Paulo Apóstolo, na epístola aos
Romanos, afirma que quando somos livres do pecado e feitos servos de Deus,
temos por fruto a santidade e por fim a vida eterna.
A mencionada ativista homossexual, pelo contrário, se
considera acima dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Igreja a
ponto de querer impor condições à autoridade eclesiástica: “Questionamos
muito a atitude de esperar que o Papa mude alguma coisa”… É bom lembrá-la
da lição divina de que nem todo aquele que diz “Senhor, Senhor” entrará no
reino do Céu, mas quem faz a vontade de meu Pai que está no Céu, e a vontade de
Deus está contida nos Mandamentos.
A ativista vai mais longe. Para ela, “essa linguagem
progressista do papa não é precisa, ‘não faz sentido’ a Igreja excluir e ferir.
‘Cristo andava com os piores pecadores, os maiores párias da sociedade”. Os
apóstolos e discípulos seriam pecadores péssimos, párias da sociedade? Da mesma
forma que Lázaro, José de Arimateia e Nicodemos, que comprou 100 libras de
mirra e aloés para os funerais do Homem-Deus? (Jo 19-33).
Qual o conselho do Divino Mestre à mulher adúltera,
senão “vai e não peques mais”? [representação ao lado] Se nas
palavras de uma ativista homossexual não faz sentido a Igreja excluir e ferir, então
o Papa Leão X deveria ter “incluído” os erros de Lutero no Magistério da
Igreja? A Igreja deveria ter aceitado o divórcio e “incluído” Henrique VIII e
todo o anglicanismo como enriquecimento do magistério? São Pio X deveria ter
aprovado e “incluído” os erros modernistas, em vez de condená-los?
Convém lembrar o que diz São Pio X no Catecismo Maior: “A
sodomia está classificada em gravidade logo depois do homicídio voluntário,
entre os pecados que clamam a Deus por vingança. Desses pecados se diz que
clamam a Deus por vingança, porque o Espírito Santo assim o diz, e porque a sua
iniquidade é tão grave e evidente, que provoca a punição de Deus com os
castigos mais severos.”
Por sua vez, São Pedro Damião afirma: “Este vício não
pode jamais ser comparado a nenhum outro, pois ultrapassa a enormidade de todos
os vícios. Ele corrompe tudo, mancha tudo, polui tudo. Por sua própria
natureza, não deixa nada puro, nada limpo, nada que não seja imundície. A carne
miserável arde com o calor da luxúria; a mente fria treme com o rancor da
suspeita; no coração do homem miserável o caos ferve como o inferno.”
E prossegue: “Depois que essa serpente venenosa
introduz suas presas na infeliz alma, o senso é retirado, a memória se
desgarra, a clareza da mente é obscurecida. Ele não se lembra mais de Deus, até
se esquece de si mesmo. Essa praga solapa os fundamentos da fé, enfraquece a força
da esperança, destrói o laço da caridade; afasta a justiça subverte a
fortaleza, expulsa a temperança, entorpece a perspicácia da prudência” (Homem
e Mulher Deus os Criou, Artpress, S. Paulo, 2011, p. 26).
Protestemos contra essa rebeldia, que é também uma
ingerência e um insulto à Santa Igreja de Deus. Aconselharia a tal ativista que
lesse meu livro Homem e Mulher Deus os Criou — As relações homossexuais à
luz da doutrina católica, da Lei natural e da ciência médica.
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