19 de Janeiro de 2018
Péricles Capanema
O Brasil assiste atônito à inusitada tentativa de
acovardar o Judiciário. Fervilham as redes sociais. Os morubixabas e corifeus
da esquerda berram a todos os ventos enodoando os juízes. O manifesto “Eleição
sem Lula é fraude” é disso claro exemplo.
Tuíte do ex-frei Leonardo Boff [foto acima]: “Não há
nenhuma escritura que mostra Lula ser dono do tríplex de Guarujá. Nunca morou
lá. Nunca dormiu lá. É condenado por ilações. Moro peca contra a virtude
principal de todo juiz: a imparcialidade. Ele só persegue e quer acabar com
ele. As ordens vêm de cima. Ele é pau mandado”.
O velho demagogo começa assim o ataque boçal: “Não há
nenhuma escritura”. Bem, escritura sem registro não garante a propriedade
perante terceiros. A propriedade se prova pela matrícula (registro). Boff tem o
vezo de escrever taxativamente do que não entende e sempre em mau português.
Aqui repete o costume. Põe de lado um expediente antigo de
malandros brasileiros: o laranja. Umas das possibilidades, o tríplex da propina
(é o que dizem o chefe da OAS e outros) poderia até ficar em mãos de laranjas,
nunca seria formalmente de Lula, mas o processo foi truncado.
Desce mais: “Nunca morou lá”. Existem milhares de donos
de apartamentos que nunca moraram nos imóveis. “Nunca dormiu lá”. Dormir
num imóvel é prova de propriedade? “É condenado por ilações. Moro só
persegue [a ele]”. Mentira alvar.
O magistrado condenou políticos de outros partidos,
doleiros, empresários. O inescrupuloso demagogo não se detém diante da mentira
descarada. As ordens vem [sic!] de cima. De fato, o português do enfurecido
aldabrão tem o mesmo nível da argumentação, vale nada.
Ele tem alguma prova, ou o mais leve indício, de que Sérgio
Moro recebe ordens de pessoas bem situadas? É calúnia [imputação falsa de fato
definido como crime]. “Ele é pau mandado”. A objurgatória suprime a
decência do magistrado, reduzido a condição infame de pau-mandado.
No caso, Leonardo Boff condena arrogantemente Sérgio Moro ao
pelourinho da opinião pública com base em ilações delirantes. Ele pode caluniar
por ilação.
A lógica impõe, as acusações valerão para os três
desembargadores que julgarão o recurso em 24 de janeiro próximo, caso decidam,
com base nos autos, pela condenação de Lula.
Ponderei sobre a campanha de intimidação. Outro tuíte na
mesma direção, agora de Emir Sader, professor aposentado da USP (é o nível a
que despencou parte da intelectualidade):
“Sim, Moro, o Lula tem 9 dedos (nine, como vc gosta de
falar, no seu idioma preferido). Mas tem caráter integral [quis dizer
íntegro, provavelmente], ao contrário de vc, juizeco a serviço da elite
corrupta do Brasil”.
Pelas redes, João Pedro Stédile, líder do MST, divulgou
vídeo amedrontante. Falando no plural, citou como determinação conjunta de 88
partidos e movimentos populares irem a Porto Alegre de 22 a 24 de janeiro para
deixar claro ao Poder Judiciário que “eleição sem Lula é fraude e [que]
impediremos qualquer retrocesso democrático [quis dizer antidemocrático]”.
O aqui soturno “impediremos” abre a porta para todo tipo de conjeturas
sinistras.
São exemplos de lideranças atiçando nas bases o ódio contra
o Judiciário. Ou cede ou haverá consequências graves. Estamos diante de apocalíptico
movimento de aterrorização do Poder Judiciário, nunca havido no País.
Parece claro, seus mentores têm esperança de êxito, ainda
que parcial. E também é claro, os juízes estão pensando no que poderão sofrer
não apenas eles, mas os filhos, esposas, pais, parentes, amigos. Não será a
primeira vez, é o que sucede ao lado, na Venezuela, aconteceu em Cuba, existe
na China e na Coreia do Norte, onde governam irmãos ideológicos do PT.
Roberto Veloso, presidente da AJUFE (Associação dos Juízes
Federais do Brasil) manifestou temor generalizado na classe quanto à segurança
pessoal e quanto à segurança dos prédios públicos: “As ameaças estão sendo
públicas, não estão sendo veladas. Temos assistido a vídeos com ameaças
públicas”.
A esperança do PT e da frente totalitária em que se integra
é, repito, pela intimidação acovardar o Judiciário. Conseguirão? Da resposta a
esta questão pode depender o futuro do Brasil. Acarneirado, com a maioria do
povo padecendo exclusão e preconceito ou altivo e independente.
Lembro a altanaria tranquila do Judiciário, mesmo nos tempos
do absolutismo real. Anos atrás escrevi artigo, “A escabrosa
desapropriação da Fazenda Limeira”, do qual pinço: “No século 18, um
simples moleiro, diante da pressão de Frederico da Prússia, rei absoluto e
grande guerreiro, de expropriar sua propriedade para ali fazer uma extensão do
jardim do palácio de ‘Sans Souci’, negou argumentando que naquela terra seu pai
havia falecido e seus filhos haveriam de nascer.
O monarca absoluto insistiu, afirmando que poderia lhe tomar
a propriedade. O moleiro respondeu tranquilo com palavras singelas, cujos ecos
todos os séculos recolhem emocionados: ‘Ainda existem juízes em Berlim’. O rei
desistiu, o moinho ficou no meio dos jardins, atestando o império da lei”.
Para que a lei impere é indispensável juízes imparciais,
refratários a qualquer tipo de pressão, mesmo as mais violentas. Esperemos que,
passada a presente tormenta das pressões à moda da KGB ou Gestapo,
possamos constatar o caminho da liberdade ainda aberto. Vamos torcer e rezar.
* * *
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