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domingo, 7 de janeiro de 2018

“O CAFEZINHO” DA MARÍLIA* – Stela da Silva Soares Góes

O cafezinho da Marília


            Marília Benício dos Santos, a querida Julinha, nos presenteia com seu livro de crônicas – CARROSSEL. Filigrana em termos de pureza, simplicidade e ternura!

            Prefaciando, Lígia Moog diz que a autora “escreve como quem canta”. Eu completaria: como quem canta uma canção de ninar.

            Devagarinho, carinhosamente, Marília vai se pronunciando através de monólogos, reflexões ou diálogos com Deus e as criaturas – sobre vários temas que o dia-a-dia lhe sugere, num estilo descontraído e fluente como águas límpidas de um regato. Em textos breves, coloca, sutilmente,  críticas às injustiças sociais, às vaidades humanas, à hipocrisia e aos preconceitos, com graça e bom humor, com leveza de expressões que nos faz rir e admirar o teor de sabedoria e equilíbrio. Usa a síntese e, muitas vezes, o silêncio, como alavancas propulsoras do nosso pensamento.

            Julinha dá seu recado de amor assumindo-se maravilhosamente como mulher e cristã, nas emoções que descreve ao defrontar-se com pessoas e fatos triviais, perceptíveis só pelo radar privilegiado de sua sensibilidade. Vai destilando o âmago das coisas mais singelas e, num milagre de sua ternura, trazendo para fora luz e sombra, dor e prazer, com que tece o universo místico de CARROSSEL, onde trata, com igual atenção e carinho, o velho e a criança, o mar e o céu, o rico e o pobre, a vida e a morte, o passarinho e o “Cristo Torcido”, o hotel de cinco estrelas e o banco do jardim que ela chama, com muita graça, de “Pensão Estrela”.

            Se o cristianismo fosse ópio, como afirmam os ímpios, ainda assim seria válido, pela saúde espiritual, otimismo e alegria que consegue transmitir.

            Marília:

            “Todos nós temos um rio. Um rio dentro de nós que ninguém percebe, somente Deus”. E, adiante, concluindo – “O mar lembra o infinito. Fomos criados para ser mar. É importante não sufocarmos este rio. O tempo passa, se não deixarmos  o nosso rio transformar-se em mar, chegaremos ao fim da vida, sem ter realizado aquilo que Deus planejou para nós: A alegria de viver”.

            Em outra crônica:

“Seguindo o exemplo da estrela, quero derramar sobre todos tudo de bom que tenho dentro de mim: amor, ternura, alegria, gratidão...”

            E na crônica que ela intitula de Felicidade:

            “Perguntaram ao João, um garoto de sete anos:

            - João, o que é felicidade?

            - Felicidade é o jardim. Felicidade é minha mãe.

            Ao ouvir esta resposta, aqueles jovens deram muitas risadas”.

            ... “Ele deu uma grande resposta, talvez tenha ensinado para aqueles jovens que a felicidade não deve ser discutida. A felicidade precisa ser sentida. Às vezes ela está pertinho, mas não a percebemos porque estamos preocupados em procura-la, correndo atrás. Se prestássemos atenção, se ficássemos observando, veríamos a felicidade como João a viu no jardim. As crianças são sensíveis, por isso são felizes.

            ... “Façamos da vida um jardim e seremos felizes, mesmo sabendo que no jardim há espinhos, é que, atrás dos espinhos, há rosas”.

            Assim, Marília nos traz a chave da felicidade que ela conhece, numa bandeja, como quem traz, gentilmente, um cafezinho quente, coado na hora! Nesta hora em que o mundo tanto precisa do calor estimulante de pensamentos puros e honestos! Admitamos que alguém não goste do “cafezinho” servido no CARROSSEL. Será uma pena! Afinal, muitos não gostam e outros, coitados, já não podem tomar café... Mas, que este da Julinha é bom, é! Cheiroso, natural, autêntico, sem as camuflagens que medram por aí, com rótulos de “para exportação”. No CARROSSEL serve-se o “café” da nossa Bahia, preparado por baiana competente que ainda sabe cantar canções de ninar, contar histórias com ternura e rezar com esperança e fé, enquanto a “água” ferve na chaleira...
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*Publicado em “A Tarde”, de 22-01-1985
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Contracapa do Livro ARCO-ÍRIS de Marília Benício dos Santos

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