1 de outubro de 2018
♦ Plinio
Corrêa de Oliveira
A concepção moderna do traje é fundamentalmente falsa,
porque joga com a ideia de naturalidade. O homem tem de fato duas formas de
naturalidade. A primeira é quando sua natureza está entregue a todos os seus
instintos — é o estado ruim da natureza, que tende para a barbárie. A segunda é
quando sua natureza está educada pela civilização. Adquirindo assim o hábito de
se mortificar, ele instala-se até mesmo em situações desagradáveis, mas de um
modo tão natural que até se poderia dizer espontâneo.
Este quadro de Santa Teresinha é um monumento, que
exemplifica bem a segunda forma de naturalidade. Observem que é quase
impossível uma naturalidade maior. É uma criança inteiramente à vontade dentro
de seu traje. De tal maneira à vontade, que se tem a impressão de que nem
percebe o próprio corpo, e está apenas meditando. Toda a vida dela está no
olhar. Mas notem que sua leveza, sua graça, seus movimentos infantis têm toda a
expansão que se pode desejar de uma criança.
Notem também que é uma menina da pequena burguesia. Seu pai,
Monsieur Martin, era um joelheiro de Alençon, pequena cidade francesa. Os pais
deram a Santa Teresinha uma educação muito estrita, como se pode ver no porte
dela: ereta, não tem nada de mole. A aparência de seu corpo é de suma
compostura. Numa criança, isso significa o triunfo da segunda forma de
naturalidade, numa menina que está perfeitamente bem nessa situação. Assim se
compreende como é uma mentira o mito do “conforto” nudista, largado e
escarrapachado.
Existe para o homem um ponto de equilíbrio muito mais
verdadeiro, que é o espiritual. Dessa forma — excluindo outras considerações a
que esta foto se presta — ela é um documento sociológico de primeiríssima,
mostra a autenticidade da infância numa concepção que não é a de uma criança de
anúncio de dentifrício, boba, cretina, que não pensa. Vemos nesse quadro a
concepção da infância espiritual profundamente meditativa, precoce, embora
inteiramente infantil. E com toda a naturalidade.
Que impressão teria Santa Teresinha, se visse uma criança
moderna? Ficaria chocada, por ver a natureza humana no seu escarrapachado, no
seu desgovernado, segundo seus instintos.
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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa
de Oliveira em 11 de novembro de 1968. Essa transcrição não passou pela revisão
do autor.
Santa Teresinha (na foto, aos 8 anos) nasceu em 2 de janeiro
de 1873 em Alençon e faleceu em 30 de setembro de 1897 em Lisieux,
França. A grande santa de nossos tempos entrou no Carmelo aos 15 anos,
levando uma vida de imolação e sacrifícios em favor das missões e da Igreja.
Desejando possuir todas as vocações, para nelas glorificar o Criador, encontrou
no amor a Deus a solução para essa aspiração. Por isso foi nomeada padroeira
das missões, sem nunca ter deixado a clausura. Sua doutrina espiritual da
“pequena via” abriu as portas da perfeição a numerosas almas.
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