James P. Allison e Tasuku Honjo ganharam o prêmio de R$4
milhões nesta segunda-feira (01). Os cientistas descobriram um tipo de terapia
contra o câncer que faz com que células de defesa do organismo voltem a atacar
tumores.
Por Lara Pinheiro
01/10/2018
James P. Allison e Tasuku Honjo são os ganhadores do Prêmio Nobel 2018
de Medicina. A Academia Sueca anunciou nesta segunda-feira (01) que o americano
e o japonês irão dividir o prêmio de 9 milhões de coroas suecas, equivalente a
R$ 4.098.402.
Os dois desenvolveram pesquisas, separadamente, sobre duas
proteínas produzidas por tumores — a CTLA-4 e a PD-1 — que paralisam o sistema
imune do paciente durante o tratamento de câncer.
James P. Allison — Foto: Christoph Schmidt/dpa via AP
"Os tumores produzem as proteínas, chamadas de
checkpoints, que bloqueiam o linfócito T, que é a célula mais importante do
sistema imune que ataca o tumor. Essas drogas [pesquisadas] retiram esse
bloqueio e recuperam o poder de ataque dos linfócitos que estavam paralisados
por essas proteínas", explica o oncologista Fernando Maluf, diretor
associado do Centro de Oncologia da Beneficência Portuguesa de São Paulo.
O imunologista James P. Allison, 70, da Universidade do
Texas, estudou a proteína CTLA-4. Ele descobriu que um bloqueio da proteína
poderia retirar o freio sobre os linfócitos T, fazendo com que as células
voltassem a atacar o tumor. Em 1994, Allison realizou o primeiro experimento em
ratos, que ficaram curados após o tratamento.
Em 2010, um estudo clínico mostrou efeitos
"impressionantes", segundo a Academia sueca, em pacientes com
melanoma (um tipo de câncer de pele) avançado, que não haviam sido observados
antes.
Já o imunologista Tasuku Honjo, 76, da Universidade de
Kyoto, no Japão, estudou uma outra proteína, a PD-1, que também atuava sobre os
linfócitos T, só que de forma diferente. Após experimentos em laboratório, um
estudo realizado em 2012 também demonstrou eficácia em tratar pacientes com
diversos tipos de câncer.
Tasuku Honjo — Foto: Ryosuke Ozawa/Kyodo News via AP
"Os resultados foram dramáticos, com remissão a longo
prazo e possível cura em alguns pacientes com câncer metastático, uma condição
que antes era considerada basicamente intratável", afirmou a Academia.
Os melhores resultados clínicos foram obtidos combinando os
tratamentos com drogas que atuavam tanto contra a CTLA-4 quanto contra a PD-1,
principalmente em casos de melanoma e câncer renal. "A outra pesquisa
importante é agora combinar as imunoterapias entre si e as imunoterapias com quimioterapias
ou com os agentes alvo-dirigidos", avalia Maluf.
Maluf explica que esse tipo de tratamento, a imunoterapia
inibidora de checkpoints, já é utilizado em pacientes com câncer em estado
avançado, no Brasil e no mundo, há cerca de quatro anos. No país, existe uma
droga que bloqueia a CTLA-4 e outras cinco que atuam sobre a PD-1. Ele explica
que, normalmente, são utilizadas em pessoas que não responderam a outros
tratamentos.
"Essas drogas foram associadas a ganho de sobrevida
global em tumores graves como melanoma, câncer de pulmão, de bexiga, de rim, de
cabeça e pescoço, linfoma, tumores intestinais, de fígado, gástricos também.
São drogas que hoje fazem parte do dia a dia em várias situações importantes
com tumores graves e muito avançados" afirma. O oncologista explica que
elas também trazem
menos efeitos colaterais que a quimioterapia tradicional.
"Nós podemos curar o câncer com isso", afirmou
Klas Kärre, membro do comitê do Nobel.
A Academia sueca considerou que o desenvolvimento clínico de
estratégias de imunoterapia havia sido modesto até as descobertas de James P.
Allison e de Tasuku Honjo, consideradas um marco no combate à doença.
Cientistas já tentavam acionar o sistema imune para lutar contra o câncer há
mais de 100 anos.
Tipos de tratamento contra o câncer: Nobel de medicina foi
para descobertas em imunoterapia — Foto: Claudia Peixoto/Arte G1
Segundo a agência alemã Deutsche Welle, Allison, que afirmou
se sentir honrado com o prêmio, contou que não tinha a intenção de estudar o
câncer, mas de "compreender a biologia das células T, essas células
incríveis que viajam pelo nosso corpo e trabalham para nos proteger". O
professor agradeceu a "uma série de estudantes de graduação, companheiros
de pós-doutorado e colegas no MD Anderson".
Também de acordo com a agência, Honjo disse que o que mais
lhe agrada é ouvir dos próprios pacientes que conseguiram se recuperar de
doenças graves em razão de suas pesquisas. O imunologista afirmou que deseja
continuar com os estudos para salvar um número ainda maior de pessoas. Ele
agradeceu seus colegas, estudantes e familiares que o apoiaram durante a
realização da pesquisa.
Outras pesquisas relacionadas ao tratamento da doença já
haviam sido vencedoras do Nobel de Medicina: tratamento hormonal contra câncer
de próstata (1966) , quimioterapia (1988) e transplantre de medula para tratar
leucemia (1990).
Prêmio Nobel
A Fundação Nobel irá anunciar os vencedores em Física nesta
terça (02) e em Química nesta quarta-feira (03). Os ganhadores na categoria Paz
e Economia serão conhecidos na sexta (05) e segunda-feira (11),
respectivamente. O
prêmio em Literatura foi adiado para 2019.
O japonês Tasuku Honjo e o americano James P. Allison, que
dividem o Nobel de Medicina 2018 — Foto: Ryosuke Ozawa/Kyodo News via AP e
Christoph Schmidt/dpa via AP
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