Médico Denis Mukwege tratou com sua equipe de cerca de 30
mil vítimas de violência sexual na República Democrática do Congo. Já a
ativista Nadia Murad é sobrevivente da escravidão sexual imposta pelo Estado
Islâmico no Iraque.
Por G1
05/10/2018
Médico Denis Mukwege, que atua na República Democrática do
Congo, e a ativista Nadia Murad, ex-escrava sexual do Estado Islâmico no
Iraque, ganharam o prêmio Nobel da Paz de 2018 — Foto: Christian Lutz/AP
A ex-escrava sexual do grupo extremista Estado Islâmico
Nadia Murad e o médico ginecologista Denis Mukwege ganharam o Prêmio Nobel da
Paz 2018 por seus esforços para acabar com o uso da violência sexual como arma
de guerra e conflito armado. O anúncio dos vencedores foi feito na manhã desta
sexta-feira (5), em Oslo, na Noruega.
Denis Mukwege, de 63 anos, passou grande parte de sua vida
adulta ajudando as vítimas de violência sexual na República
Democrática do Congo, na África, e lutando por seus direitos. Ele e sua
equipe trataram cerca de 30 mil vítimas desses ataques, desenvolvendo grande
experiência no tratamento de lesões sexuais graves.
Nobel da Paz vai para ativistas que lutam contra a violência
sexual
Conhecido como "doutor milagre", ele é um crítico
feroz do abuso de mulheres durante guerras e descreveu o estupro como uma
"arma de destruição em massa".
Financiado pela Unicef e outros doadores, Mukwege montou um
hospital com 350 leitos, uma unidade de atendimento móvel e um sistema para
oferecer microcrédito para as vítimas reconstruírem sua vida.
“Posso ver nas faces de muitas mulheres como estão felizes
de serem reconhecidas", afirmou Mukwege, que estava em cirurgia quando
soube que tinha ganhado o prêmio.
Ginecologista congolês Denis Mukwege, em imagem de arquivo
de 24 de outubro de 2016 — Foto: Joel Saget / AFP
"O princípio básico de Denis Mukwege é que 'a justiça é
da conta de todo mundo'. O Prêmio Nobel 2018 é o símbolo mais importante e
unificador, tanto nacional como internacionalmente, da luta para acabar com a
violência sexual na guerra e nos conflitos armados", diz a organização no
tuíte acima.
Denis Mukwege’s basic principle is that “justice is
everyone’s business”. The 2018 Peace Laureate is the foremost, most unifying
symbol, both nationally and internationally, of the struggle to end sexual
violence in war and armed conflicts.
Nadia Murad, de 25 anos, se tornou uma ativista dos direitos
humanos da
minoria yazidi após sobreviver a três meses de escravidão sexual
imposta por integrantes do EI no Iraque.
"Espero que ajude a levar justiça às mulheres que sofreram violência sexual", afirmou Nadia após ser informada do prêmio.
Após escapar dos terroristas, em 2014, ela liderou uma
campanha para impedir o tráfico de pessoas e libertar o grupo étnico-religioso
yazidis, que é composto por cerca de 400 mil pessoas. As crenças desse grupo
misturam componentes de várias religiões antigas do Oriente Médio. A etnia é
considerada "infiel" pelos extremistas do EI.
Nadia Murad, em imagem de arquivo de 13 de dezembro de 2016
— Foto: Frederick Florin / AFP
Mulheres usadas como armas de guerra
A presidente do comitê norueguês do Nobel, Berit
Reiss-Andersen, afirmou que edição deste ano do Nobel pretende enviar a
mensagem de que “as mulheres, que constituem a metade da população, são usadas
como armas de guerra e precisam de proteção; e que os responsáveis devem ser
responsabilizados e processados por suas ações”.
O comitê recebeu neste ano a nomeação de 216 indivíduos e
115 organizações. Somente algumas dezenas deles são conhecidos. O comitê mantém
a lista em segredo há 50 anos.
O prêmio é de 9 milhões de coroas suecas (cerca de 1 milhão
de dólares) e será entregue numa cerimônia em Oslo em 10 de dezembro. Criada
pelo industrial sueco Alfred Nobel, o inventor da dinamite, a premiação foi
concedida pela primeira vez em 1901.
Veja os vencendores de 2018
Química: Frances
H. Arnold, George P. Smith e Sir Gregory P. Winter foram premiados por
desenvolverem técnicas que permitem a fabricação de combustíveis verdes e de
anticorpos mais eficientes.
Física: Arthur
Ashkin, Gérard Mourou e Donna Strickland foram os ganhadores por
descobertas sobre laser. O prêmio de Física foi pela primeira vez em 55 anos
entregue a uma mulher.
Medicina: James P. Allison e Tasuku Honjo foram
premiados por uma pesquisa sobre imunoterapia
contra o câncer.
O ganhador na categoria Economia será conhecido na
segunda-feira (8). O prêmio em Literatura foi adiado para 2019 depois de
uma acusação
contra o marido de uma de suas integrantes. Ele foi
condenado esse ano por cometer abusos sexuais e vazar o nome de vários
ganhadores do prestigiado prêmio.
Últimos ganhadores do Nobel da Paz
2017: A Campanha
Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (Ican, sua sigla em
inglês) foi premiada por chamar a atenção para as consequências catastróficas
do uso de armas nucleares e pelos seus esforços inovadores para conseguir a
proibição do uso dessas armas.
2016: Juan
Manuel Santos, então presidente da Colômbia, conquistou o prêmio pelo
esforço de pacificação do país. Naquele ano, o governo conseguiu fechar um
acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) após uma
guerra civil que já durava mais de 50 anos.
2015: Quarteto
de Diálogo Nacional da Tunísia ganhou o prêmio por sua decisiva
contribuição para a construção de uma democracia pluralista no país durante a
revolução de 2011.
2014: os vencedores foram o indiano
Kailash Satyarthi e a paquistanesa Malala Yousafzay, "pela sua luta
contra a supressão das crianças e jovens e pelo direito de todos à
educação". A estudante do Paquistão se tornou a mais jovem ganhadora do
prêmio.
2013: Organização
para a Proibição das Armas Químicas, entidade que supervisiona destruição
do arsenal químico na Síria em guerra.
Malala Yousafza durante visita a Salvador, em imagem de
arquivo — Foto: Egi Santana/G1
2012: União
Europeia ganhou por ter contribuído para pacificar um continente
devastado por duas guerras mundiais.
2011: Ellen
Johnson Sirleaf, Leymah Gbowee (Libéria) e Tawakkol Karman (Iêmen) ganharam
por sua luta não violenta em favor da segurança das mulheres e seus direitos a
participar dos processos de paz.
2010: Chinês Liu
Xiaobo (China), dissidente detido, "por seus esforços duradouros
e não violentos em favor dos Direitos Humanos na China".
2009: O então presidente americano Barack
Obama foi premiado "por seus esforços extraordinários com o
objetivo de reforçar a diplomacia internacional e a cooperação entre os
povos".
Barack Obama, em imagem de arquivo — Foto: AFP
2008: Martti
Ahtisaari (Finlândia) foi premiado por suas numerosas mediações de paz
em todo o mundo.
2007: Al Gore
(EUA) e o Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC) da
ONU ganharam o prêmio por seus esforços para aumentar o conhecimento sobre as
mudanças climáticas.
2006: O prêmio foi para Muhammad
Yunus (Bangladesh) e seu banco especializado no microcrédito, o
Grameen Bank, porque "uma paz duradoura não pode ser obtida sem que uma
parte importante da população encontre a maneira de sair da pobreza".
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