Ramo de esperança
- Um deles
ergue-se, olha para o mar – Terra?
- Não,
não. Apenas o gume afiado e limpo do horizonte e o claro céu depois. Os
náufragos recaíram na morna prostração do desânimo.
Três dias eram passados já que o incêndio e o
Oceano lhes haviam devorado o navio e os companheiros. Só eles restavam. Eles e
o pequeno batel que os levava. O batel e o largo mar imenso.
Em roda, o
sol quente e o medonho silêncio solene da calmaria morta. À vista, nem um pano
branco! Nem a fumaça do continente além!
Guiavam-nos
os cansados remos e a aventura: não havia mais pão, a água ia faltar.
O quarto
dia despontou brumoso.
Ah! Que o
digam os marinheiros: o nevoeiro é triste como os sudários alvos. O nevoeiro
amortalha a coragem.
Perdidos!...
Mas alguma cousa avizinha-se sobrenadando. Todos olham.
Um braço
mergulha sôfrego e levanta vitorioso ao ar um ramo verde...
Verde como
a esperança!
Salvos!
Ali, ali
mesmo, na bruma, adivinha-se a terra firme, com as palmeiras verdes da Pátria!
Fonte: Gramática F. T. D.
...................
Biografia:
Raul de Ávila Pompeia nasceu em Jacuecanga, Angra dos Reis,
RJ, em 12 de abril de 1863, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 25 de dezembro
de 1895. É o patrono da cadeira n. 33 da Academia Brasileira de Letras, por
escolha do fundador Domício da Gama.
Era filho de Antônio de Ávila Pompeia, homem de recursos e
advogado, e de Rosa Teixeira Pompeia, que pertencia à família de Joaquim José
da Silva Xavier, o Tiradentes. Transferiu-se cedo, com a família, para a Corte
e foi internado no Colégio Abílio, dirigido pelo educador Abílio César Borges,
o Barão de Macaúbas – mesmo que, em Salvador, educara Castro Alves e Rui
Barbosa - estabelecimento de ensino que adquirira grande nomeada. Passando do
ambiente familiar austero e fechado para a vida no internato, recebeu Raul
Pompeia um choque profundo no contato com estranhos. Logo se distingue como
aluno aplicado, com o gosto dos estudos e leituras, bom desenhista e
caricaturista, que redigia e ilustrava do próprio punho o jornalzinho O
Archote. Em 1879, transferiu-se para o Colégio Pedro II, para fazer os
preparatórios, e onde se projetou como orador e publicou o seu primeiro
livro, Uma tragédia no Amazonas (1880).
Em 1881 começou o curso de Direito em São Paulo, entrando em
contato com o ambiente literário e as ideias reformistas da época. Engajou-se
nas campanhas abolicionista e republicana, tanto nas atividades acadêmicas como
na imprensa. Tornou-se amigo de Luís Gama, o famoso abolicionista, tornando-se
seu secretário. Escreveu em jornais de São Paulo e do Rio de Janeiro,
frequentemente sob o pseudônimo Rapp, um dentre os muitos que depois adotaria.
Ainda em São Paulo publicou, no Jornal do Comércio, as Canções sem metro,
poemas em prosa, parte das quais foi reunida em volume, de edição póstuma.
Também publicou, em folhetins da Gazeta de Notícias, a novela
antimonárquica As joias da Coroa.
Reprovado no 3º ano, em 1883, seguiu com 93 acadêmicos para
o Recife e ali concluiu o curso de Direito, mas não exerceu a advocacia. De
volta ao Rio de Janeiro em 1885, dedicou-se ao jornalismo, escrevendo crônicas,
folhetins, artigos, contos e participando da vida boêmia das rodas
intelectuais. Nos momentos de folga, escreveu O Ateneu, “crônica de
saudades”, romance de cunho autobiográfico, narrado em primeira pessoa,
contando o drama de um menino que, arrancado ao lar, é colocado num internato
da época. Publicou-o em 1888, primeiro em folhetins, na Gazeta de Notícias,
e, logo a seguir, em livro, que o consagra definitivamente como escritor.
Decretada a Abolição, em que se empenhara, passou a
dedicar-se à campanha favorável à implantação da República. Em 1889, colaborou
em A Rua, de Pardal Mallet, e no Jornal do Comércio. Proclamada a
República, foi nomeado professor de mitologia da Escola de Belas Artes e, logo
a seguir, diretor da Biblioteca Nacional. No jornalismo, revelou-se um
florianista exaltado, grande jacobino que era, em oposição a intelectuais do
seu grupo, como Pardal Mallet e Olavo Bilac. Numa das discussões, surgiu um
duelo entre Bilac e Pompeia. Combatia o cosmopolitismo, achando que o
militarismo, encarnado por Floriano Peixoto, constituía a defesa da pátria em
perigo. Referindo-se à luta entre portugueses e ingleses, desenhou uma de suas
melhores charges: “O Brasil crucificado entre dois ladrões”. Com a morte de
Floriano, em 1895, foi demitido da direção da Biblioteca Nacional, acusado de
desacatar a pessoa do então Presidente da República, Prudente de Morais no
explosivo discurso pronunciado em seu enterro.
Rompido com amigos, caluniado em
artigo de Luís Murat, sentindo-se desdenhado por toda parte, inclusive dentro
do jornal A Notícia, que não publicara o segundo artigo de sua colaboração
- aliás, tratava-se de um simples atraso - pôs fim à vida, com um tiro no
coração, no dia de Natal de 1895.
A posição de Raul Pompeia, ficcionista de alturas geniais,
na literatura brasileira é controvertida. A princípio a crítica o julgou
pertencente ao Naturalismo, mas as qualidades artísticas presentes em sua obra
fazem-no aproximar-se do Simbolismo, ficando a sua arte como a expressão típica,
na literatura brasileira, do estilo impressionista.
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