Autor de diversas títulos pela Editus, editora da
Universidade Estadual de Santa Cruz,
Cyro fala sobre uma de suas últimas antologias que organizou, premiações literárias e a projeção global que
elas oferecem para o conteúdo de suas obras.
Cyro de Mattos é contista, romancista, poeta, cronista,
ensaísta, organizador de antologia e coletânea,
e também autor de livros infantis. Já publicou mais de 44 livros no
Brasil e 13 no exterior, sendo 9 deles
com o selo editorial da Editus - Editora da UESC. Em setembro de 2017, o
escritor foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela UESC. Em sua
trajetória, ele já recebeu mais de 40 prêmios literários, entre eles o Prêmio Vânia
Souto Carvalho, concedido pela Academia Pernambucana de Letras, com o livro
“Berro de Fogo e outras histórias”, que em 2013 ganhou nova edição pela Editora
da UESC, o Prêmio Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras, o Prêmio da
Associação Paulista dos Críticos de Artes, o Prêmio Pen Clube do Brasil, o
Segundo Prêmio Internacional de literatura Marengo d’Oro, em Genova, Itália,
duas vezes, e, recentemente, o Prêmio
Literário Nacional Cidade de Manaus. . Seu livro “Vinte Poemas do Rio”,
português-inglês, foi indicado para o vestibular da Universidade Estadual de
Santa Cruz, durante três anos, como também “O Conto em Vinte e Cinco Baianos”,
antologia que ele organizou.
Recebeu ainda Menção Honrosa no Prêmio Jabuti e Menção entre
os quatro finalistas no Concurso Internacional da Revista Plural, México,
concorrendo com mais de 600 autores. Algumas de suas obras destacam a
civilização cacaueira baiana como um dos espaços do seu imaginário fecundo, no
qual retrata a paisagem, personagens, lugares, hábitos e histórias. Dois outros
grandes acontecimentos marcaram a vida do escritor. Foi eleito para a
cadeira nº 22 da Academia de Letras da Bahia, que tem como fundador Rui
Barbosa, e o seu livro, “Histórias dos Mares da Bahia”, foi lançado na 24ª Bienal
Internacional do Livro de São Paulo, no estande da Associação Brasileira de
Editoras do Nordeste - ABEU. A obra faz parte da Coleção Nordestina, projeto
editorial que reúne livros produzidos pelas editoras da ABEU Nordeste.
Essa coletânea reúne dezesseis escritores baianos, e, entre eles, João
Ubaldo Ribeiro, Hélio Pólvora, Ruy Espinheira Filho, Guido Guerra, Gláucia
Lemos e Aramis Ribeiro Costa. Alguns anos atrás, seu livro "Cancioneiro do
Cacau", Prêmio Nacional Ribeiro Couto da União Brasileira de Escritores
(Rio) e Segundo Prêmio Internacional Maestrale Marengo d’Oro, Gênova, Itália,
foi lançado na Bienal Internacional do Livro do Rio, em segunda edição, pela
Editus...
1. As suas obras expressam muito da cultura do sul da Bahia,
com destaque especial para a civilização nascida ao longo do tempo pela
implantação da lavra cacaueira. Essas representações ganharam projeções
internacionais e também importantes premiações no cenário nacional. Como é ver
o local de suas criações ganhar uma projeção global? Como o senhor avalia
pessoal e profissionalmente essas importantes premiações?
Canta a tua aldeia e serás universal, disse o russo Tolstoi.
Para Fernando Pessoa, o genial poeta português, o melhor rio não era o Tejo,
mas o rio que passava ao pé de sua aldeia, porque era o rio de sua aldeia.
Houve quem observasse que o homem faz o lugar e não o contrário. E o lugar é
onde se registra a memória. O lugar tem sido motivação e símbolo para algumas
de minhas criações. Minhas origens e vivências locais têm sido uma das
vertentes de minhas produções em prosa e verso. Isso acontece quando às vezes,
das germinações à execução da ideia, tomo como ponto de partida minhas
vivências na infância, em outras vou buscar ou imaginar o assunto no cerne da
história, aproveitando o que vi, colhi nos mais velhos ou até pesquisei.
Pode até mesmo acontecer que imagine um espaço sem localização
geográfica, identificável com alguma parte do sul da Bahia, como no romance “Os
Ventos Gemedores”, no qual criei o condado de Japará para desenvolver a trama,
auscultar os personagens através de conflitos no drama. Assim, desde que
meu texto leve aos outros uma nova forma de conhecimento da vida, através da
linguagem que poetiza a vida, situações e gente com nervos e sentimentos, tendo
como resultado um alcance universal e reconhecimento, aqui na região e fora de
nossas fronteiras, fico contente, torno-me menos incompleto na existência, que
para nós humanos é falha, limitada, precária, vulnerável, não basta. É
gratificante, um verdadeiro prêmio que é dado ao autor esse tipo de
reconhecimento. Acho sensato ser reconhecido em vida pelo meu trabalho, depois
de morto só serve para o orador, que passa como herói, ao ressaltar no
sepultamento as qualidade de quem se foi para sempre, não está mais neste mundo,
ficou submetido ao inexorável.
2. O senhor foi eleito para ocupar a cadeira 22 da Academia
de Letras da Bahia e recebeu o primeiro título de Doutor Honoris Causa da
Universidade Estadual de Santa Cruz pela sua contribuição à literatura e à
cultura. O que significam esses novos reconhecimentos na sua carreira
literária?
São qualificações de meu trabalho no mais alto nível.
Sinto-me honrado, fortalecido, incentivado para continuar a jornada nessa
estrada solitária, a essa altura comprida. Nela, paro às vezes, olho para
trás, vejo à direita e à esquerda, sigo em frente com tantas vozes no peito,
dos outros, mas que no fundo são também minhas. Vou formando com elas e a minha
voz o diálogo necessário, o disfarce múltiplo que desfaz o real e projeta outra
realidade com novos sentidos, externa outra linguagem através dos sinais
visíveis da escrita, com seu poder metafórico intenso e de proliferação, que me
ajuda a sobreviver e a conhecer um tanto mais do que sou, entre o alegre e o
triste, o transitório e o permanente, o belo e o feio. Vou cumprindo uma
missão, usando as palavras para explicar o inexplicável, mas que é belo, com
suas verdades retiradas da vida, a ela devolvidas com razão e emoção, porque
assim deve ser.
3. O seu último livro, “História dos Mares da Bahia”, foi
lançado na 24ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, no estande coletivo
da ABEU pela Editus. A publicação traz 16 contos de importantes escritores
baianos, que revelam um cenário de muitas histórias. Por que o mar como fonte de
inspiração e ambientação? Como foi a escolha dos autores?
Como se vê sem esforço, trata-se de antologia temática. As
histórias têm como foco o mar da Bahia, que entra como o cenário, ora
interferindo no destino dos personagens, ora como elemento de composição da
paisagem humana. O mar é assim a fonte de inspiração e ambientação de cada
história. O mar sempre exerceu uma sedução e atração aos seres humanos. E, como
temos ficcionistas na Bahia da melhor qualidade, que souberam focar o mar como
fonte de suas criações, resolvi fazer uma antologia com o tema e com esses
autores expressivos. O critério da escolha dos contistas se deu em função da
qualidade do texto. Convenhamos que, como em toda a antologia, ocorre a
omissão, mas os autores selecionados para a coletânea “Histórias dos Mares da
Bahia” são os mais representativos do gênero na Bahia. Eu diria sem hesitar que
são contistas brasileiros da Bahia, fortes no discurso coeso. Com seus
projetos estéticos e resultados positivos, todos eles vêm contribuindo para que
as letras brasileiras operem como meio eficaz de comunicação humana em sua
função social.
Fonte: ABEU- Associação Brasileira das Editoras
Universitárias
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