08/jun/18
Mesmo no xilindró, há quase três meses encarcerado, Luiz
Inácio Lula da Silva não desiste da fuzarca. Quer visitas, quer passar recados,
quer se manter nos holofotes. Recursos pela sobrevivência. E assim tem feito
através de mensagens que envia por intermédio de seus estafetas. Dos
comentários, a suprema maioria beira o ridículo – quase cômico, não fosse
absurdo – e dá o tom de delírio avançado que arrebata o honorável líder
petista.
Tome-se, por exemplo,
a avaliação que ele fez, logo a seguir trombeteada por ninguém menos que seu
poste presidencial, Dilma Rousseff, sobre as injunções na política de preços da
Petrobras. Avisou Lula estar muito preocupado com o futuro da estatal do
petróleo. Logo ele, que junto com a sucessora, anarquizou as tarifas de combustível,
praticou populismo rasgado congelando reajustes, pintou e bordou naquela seara,
limando de vez a competitividade da empresa? Lula não se condói do que diz?
O Petrolão, os dutos de escoamento da propina
desavergonhada, a quadrilha de saqueadores que, junto com a sua turba, colocou
lá não despertaram sequer uma ruga de preocupação no grande paladino moral. Já
os movimentos para resolver uma greve incontrolável, esses são imperdoáveis na
visão algo cínica desse mestre das dissimulações. É preciso muito óleo de
peroba na cara para encenar tal papel.
Lula maneja com
destreza a arte de converter eventos, quaisquer que sejam, a seu favor. Com as
patacoadas verbais esconde fatos desabonadores e adapta versões para beneficiar
a cultuada imagem, que faz de si próprio, de um “salvador”. Não passaria em um
detector de mentiras.
O loroteiro tentou até pegar carona no movimento dos
caminhoneiros falando que, se fosse ele, solto, não haveria desabastecimento.
Por trás, incitou a tropa de partidários a promover a paralisação dos
petroleiros. A maneira de fazer política que Lula encarna tem na ideia do
“quanto pior, melhor” a grande bandeira. Para ele, o avança da algazarra é um
benefício. Nada de promover a pacificação.
Lula não admite nem mesmo composições. Deseja o poder
absoluto. Sonha em resgatar o papel de mandatário para reativar, sem amarras,
seus habituais desmandos. Deixou claro que no eixo das candidaturas de esquerda
não fechará com ninguém. O pedetista Ciro Gomes até que tentou costurar uma
aliança. Em vão. Levou um chega pra lá do demiurgo de Garanhuns.
Em seguida, o PT foi orientado a comunicar que estavam
suspensos todos os movimentos de acordos eleitorais. A agremiação prefere mesmo
o isolamento suicida. A tal ponto que teve o atrevimento de pedir ao TSE o
direito de colocar uma espécie de “dublê” nas eventuais sabatinas que venham a
ser feitas durante a campanha – já que seu “titular” não poderá participar
direto da cadeia. Desfaçatez sem tamanho. O Partido dos Trabalhadores sabe, de
antemão, que o nome Lula está definitivamente fora das urnas, enquadrado na Lei
da Ficha Limpa. Somente uma reviravolta impensável – por representar uma quebra
gritante do primado das regras – mudaria esse status quo.
Enquanto isso, os petistas tumultuam o processo com desinformações
e artimanhas. Nesse pormenor se esmeram. A última no capítulo dos escárnios foi
pedir ao Comitê de Direitos Humanos da ONU que revisse, de forma cautelar, a
prisão de Lula por não se tratar – no entender deles – de um criminoso comum. A
velha conversa de processo político. O recurso foi finalmente julgado pelo
colegiado internacional na semana passada, que rejeitou o pedido, realçando que
o devido processo legal foi seguido e que não havia “dano irreparável” à luz
dos direitos humanos. A agência da ONU, por mais delirante que tenha sido a
opção de consultá-la, figurou como mais um degrau nas reinações de Lula, para
quem apelar, procrastinar e reclamar sem fundamento não tem limites.
Carlos José Marques é diretor editorial da Editora Três
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