Total de visualizações de página

domingo, 6 de maio de 2018

PALAVRA DA SALVAÇÃO (77)

6º Domingo da Páscoa – 06/05/2018

Anúncio do Evangelho (Jo 15,9-17)

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João.
— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. Eu vos disse isso, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena.
Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai.
Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça. O que então pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo concederá. Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros”.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

---
Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. André Teles:

---
Amor vivido na alegria: quinta-essência da vida cristã
  
“Eu vos disse isso, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena” (Jo 15,11)

O Evangelho deste domingo é desenvolvimento do tema do domingo anterior, ou seja, a videira e os ramos. Jesus explica em quê consiste essa “conexão” dos seus seguidores à Videira verdadeira. Apresentando como inspiração sua união com o Pai, Jesus vai des-velando a essência de sua mensagem. Sem usar metáforas nem comparações, Ele nos coloca diante da realidade mais profunda da mensagem evangélica: o Amor que, vivido na alegria, é a essência divina que mais nos humaniza.

Trata-se de entrar em sintonia, de “ajustar-se” ao modo de amar de Deus: amor descendente, amor sem fronteiras, oblativo, expansivo... e que se “revela mais em obras do que em palavras” (S. Inácio).

O(a) seguidor(a) de Jesus encontra-se, assim, envolvido(a) pelo Amor transbordante de Deus e, ao mesmo tempo, entra no fluxo desse Amor criativo, “descendo” à realidade cotidiana e ali deixando transparecer esse mesmo Amor através dos encontros com os outros. Portanto, o ser humano, na mística cristã, é o “ponto” no qual convergem o Amor “que desce do alto” e o Amor que flui para o outro, o Amor que vem do outro e o Amor que retorna à sua Fonte.

João põe na boca de Jesus a senha de identidade que distingue os(as) seus(suas) seguidores(as). É o mandamento novo, em oposição ao antigo, ou seja, a Lei. Fica estabelecida a diferença entre as duas alianças. Jesus não manda amar a Deus nem amar a Ele, mas amar como Ele ama. Na realidade, o mandamento do Amor não é lei que se impõe de fora; mas emana do coração alegre de Deus e de todos nós. É dinamismo expansivo que brota de dentro e nos impulsiona em direção ao outro, sem buscar recompensa.

Não se pode impor o amor por decreto. Todos os esforços que façamos por cumprir um “mandamento” de amor, está fadado ao fracasso. A busca deve estar encaminhada a descobrir o Deus que é amor, dentro de nós. No fundo, o evangelho deste domingo(6º Dom Páscoa) está nos dizendo que, para o(a) seguidor(a) de Jesus, a primazia é a experiência de Deus. Só depois de um conhecimento intuitivo do que Deus é em nós, poderemos descobrir os motivos do verdadeiro amor. 
Nosso amor será “um amor que responde ao amor de Deus”; e Jesus deixou transparecer esse amor de Deus até o extremo da doação de si. Portanto, amor de Deus é a realidade primeira e fundante: descobri-la  e vivê-la, é a verdadeira identidade daquele(a) que segue Jesus. Qualquer relação com Deus sem um amor manifestado em obras, será pura idolatria. A nova comunidade não se caracterizará por doutrinas, nem ritos, nem normas morais. O único distintivo deve ser o amor manifestado. Jesus não funda um clube cujos membros devem ajustar-se a uns estatutos, mas uma comunidade que experimenta Deus como amor e cada membro n’Ele se inspira, amando como Ele.

Nenhuma outra realidade pode substituir o essencial. Se isto falta, não pode haver comunidade cristã. 
Jesus não apresenta este mandato do amor como uma lei que deve reger nossa vida, fazendo-a mais dura e pesada, mas como uma fonte de alegria. Quando entre nós falta o verdadeiro amor, cria-se um vazio que nada nem ninguém pode preencher de alegria. A alegria é o sentimento central na experiência cristã da Páscoa. Nossa alegria é Cristo ressuscitado. Ele é a causa de nossa alegria.

A alegria na vida cristã aninha-se e cresce na vivência do mistério pascal. A ressurreição de Jesus causou uma imensa alegria na comunidade dos(as) discípulos(as). A alegria é contagiosa. Tem uma dimensão social e comunitária. Nós não estamos alegres só porque Jesus está vivo, mas porque nos fez partícipes de sua ressurreição, de sua nova vida. Assim nossa alegria é a alegria de Jesus.

A vida cristã, por vocação e missão, deve ser alegre. Toda ela é profecia de alegria e esperança. A participação afetiva na alegria de Cristo é a forma de expressar o desejo da íntima comunhão no amor que reforça o seguimento. “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Com Jesus Cristo sempre nasce e renasce a alegria” (Papa Francisco).

Essa alegria, da qual nos fala Jesus, não é um simples sentimento passageiro; trata-se de um estado permanente de plenitude e bem-estar por ter encontrado nosso verdadeiro ser, luminoso e indestrutível. No encontro com o Ressuscitado surgirá espontaneamente a alegria, que é nosso estado natural.

A alegria, portanto, não é um estado de ânimo, mas um estado da pessoa. Por isso, a alegria não é algo que acontece na pessoa: é a pessoa mesma acontecendo. A alegria é “gerúndia”: é a pessoa alegrando-se. Só quando descobrimos quem realmente somos, estamos, então, em condições de viver para os demais sem limites. O verdadeiro amor é expansivo, é dom total; e a prova de fogo do amor é o amor ao inimigo. Se há um limite em nossa entrega, ainda não alcançamos o amor evangélico.

Os santos e santas, por viverem profundamente fundamentados no amor de Deus, foram testemunhas da alegria. Eles(elas) deixaram transparecer que o amor que Deus nos tem suscita a alegria e esta motiva, dá energia, gera confiança. Este amor é o que nos faz sair de nós mesmos, reencontrar-nos e entregar-nos aos demais. E aqui está o “peso” do amor, o vigor da alegria.

O amor é o princípio que ordena a vida e a alegria irradia harmonia e bem-estar àqueles que nos rodeiam. Existe, portanto, uma relação de reciprocidade entre a alegria e o amor. São como vasos comunicantes: a alegria brota do amor, o amor se expressa na alegria. É na atmosfera da alegria que o mandamento do amor revela seu pleno sentido.

Nisto consiste a verdadeira alegria: sentir que um grande mistério, o mistério do amor de Deus, nos visita e plenifica nossa existência pessoal e comunitária.

A alegria que brota do amor é a experiência da vida já ressuscitada; e este amor oblativo já não busca seu próprio interesse, mas somente o serviço e a glória do Ressuscitado. O Pai, em seu amor, pronunciou a palavra definitiva de fidelidade que consola e enche de esperança. Seu amor nos inunda e ativa a alegria pascal: é preciso devolvê-lo em gratidão e em generosidade para com o próximo.

A alegria sempre indica que a vida está se expandindo, que ganhou terreno, que conseguiu ir além de si mesma. Um sinal de identidade da alegria é o olhar profundo, amplo e expansivo da vida. Mesmo em meio à dor e ao sofrimento, não faltam o bom humor e a ternura. Quem é cristãmente alegre se desgasta menos, integra melhor os acontecimentos, é feliz e faz felizes os outros.

Quem vive na alegria se sente sereno, livre, pensa positivamente, está próximo dos pobres, acolhe as adversidades, integra suas contradições, ama sem pôr condições, louva, canta e bendiz sem cessar.

De fato, a alegria experimentada não nos põe na retaguarda nem nos acomoda; pelo contrário, nos pede que sejamos mais radicais nos questionamentos e nos compromissos. Está em jogo a glória de Deus e a dignidade de seus filhos e filhas. 

Texto bíblico:   Jo 15,9-17 

Petição: Sentir em si mesmo a alegria de  Cristo; alegria que é dom do Espírito do Ressuscitado. Em Cristo, as alegrias humanas são divinizadas. Considerar na oração os diversos motivos que lhe enchem de alegria.

“A maior prova da existência de Deus é a alegria dos pobres. Eles não tem outro motivo para se alegrar a não ser em Deus”.  (D. Luciano Mendes de Almeida).

Pe. Adroaldo Palaoro sj


* * *


Nenhum comentário:

Postar um comentário