Anúncio do Evangelho (Jo 15,9-17)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
João.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Como meu
Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor. Se
guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu
guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. Eu vos disse
isso, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena.
Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como
eu vos amei. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos
amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já não
vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo
amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai.
Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos
escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto
permaneça. O que então pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo concederá. Isto
é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. André
Teles:
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Amor vivido na
alegria: quinta-essência da vida cristã
“Eu vos disse isso, para que a minha alegria esteja em vós e
a vossa alegria seja plena” (Jo 15,11)
O Evangelho deste domingo é desenvolvimento do tema do
domingo anterior, ou seja, a videira e os ramos. Jesus explica em quê consiste
essa “conexão” dos seus seguidores à Videira verdadeira. Apresentando como
inspiração sua união com o Pai, Jesus vai des-velando a essência de sua
mensagem. Sem usar metáforas nem comparações, Ele nos coloca diante da
realidade mais profunda da mensagem evangélica: o Amor que, vivido na alegria,
é a essência divina que mais nos humaniza.
Trata-se de entrar em sintonia, de “ajustar-se” ao modo de
amar de Deus: amor descendente, amor sem fronteiras, oblativo, expansivo... e
que se “revela mais em obras do que em palavras” (S. Inácio).
O(a) seguidor(a) de Jesus encontra-se, assim, envolvido(a)
pelo Amor transbordante de Deus e, ao mesmo tempo, entra no fluxo desse Amor
criativo, “descendo” à realidade cotidiana e ali deixando transparecer esse
mesmo Amor através dos encontros com os outros. Portanto, o ser humano, na
mística cristã, é o “ponto” no qual convergem o Amor “que desce do alto” e o
Amor que flui para o outro, o Amor que vem do outro e o Amor que retorna à sua
Fonte.
João põe na boca de Jesus a senha de identidade que
distingue os(as) seus(suas) seguidores(as). É o mandamento novo, em oposição ao
antigo, ou seja, a Lei. Fica estabelecida a diferença entre as duas alianças.
Jesus não manda amar a Deus nem amar a Ele, mas amar como Ele ama. Na
realidade, o mandamento do Amor não é lei que se impõe de fora; mas emana do
coração alegre de Deus e de todos nós. É dinamismo expansivo que brota de
dentro e nos impulsiona em direção ao outro, sem buscar recompensa.
Não se pode impor o amor por decreto. Todos os esforços que
façamos por cumprir um “mandamento” de amor, está fadado ao fracasso. A busca
deve estar encaminhada a descobrir o Deus que é amor, dentro de nós. No fundo,
o evangelho deste domingo(6º Dom Páscoa) está nos dizendo que, para o(a)
seguidor(a) de Jesus, a primazia é a experiência de Deus. Só depois de um
conhecimento intuitivo do que Deus é em nós, poderemos descobrir os motivos do
verdadeiro amor.
Nosso amor será “um amor que responde ao amor de Deus”; e
Jesus deixou transparecer esse amor de Deus até o extremo da doação de si.
Portanto, amor de Deus é a realidade primeira e fundante: descobri-la e
vivê-la, é a verdadeira identidade daquele(a) que segue Jesus. Qualquer relação
com Deus sem um amor manifestado em obras, será pura idolatria. A nova
comunidade não se caracterizará por doutrinas, nem ritos, nem normas morais. O
único distintivo deve ser o amor manifestado. Jesus não funda um clube cujos
membros devem ajustar-se a uns estatutos, mas uma comunidade que experimenta
Deus como amor e cada membro n’Ele se inspira, amando como Ele.
Nenhuma outra realidade pode substituir o essencial. Se isto
falta, não pode haver comunidade cristã.
Jesus não apresenta este mandato do amor como uma lei que
deve reger nossa vida, fazendo-a mais dura e pesada, mas como uma fonte de
alegria. Quando entre nós falta o verdadeiro amor, cria-se um vazio que nada
nem ninguém pode preencher de alegria. A alegria é o sentimento central na
experiência cristã da Páscoa. Nossa alegria é Cristo ressuscitado. Ele é a
causa de nossa alegria.
A alegria na vida cristã aninha-se e cresce na vivência do
mistério pascal. A ressurreição de Jesus causou uma imensa alegria na
comunidade dos(as) discípulos(as). A alegria é contagiosa. Tem uma dimensão
social e comunitária. Nós não estamos alegres só porque Jesus está vivo, mas
porque nos fez partícipes de sua ressurreição, de sua nova vida. Assim nossa
alegria é a alegria de Jesus.
A vida cristã, por vocação e missão, deve ser alegre. Toda
ela é profecia de alegria e esperança. A participação afetiva na alegria de
Cristo é a forma de expressar o desejo da íntima comunhão no amor que reforça o
seguimento. “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles
que se encontram com Jesus. Com Jesus Cristo sempre nasce e renasce a alegria”
(Papa Francisco).
Essa alegria, da qual nos fala Jesus, não é um simples
sentimento passageiro; trata-se de um estado permanente de plenitude e
bem-estar por ter encontrado nosso verdadeiro ser, luminoso e indestrutível. No
encontro com o Ressuscitado surgirá espontaneamente a alegria, que é nosso
estado natural.
A alegria, portanto, não é um estado de ânimo, mas um estado
da pessoa. Por isso, a alegria não é algo que acontece na pessoa: é a pessoa
mesma acontecendo. A alegria é “gerúndia”: é a pessoa alegrando-se. Só quando
descobrimos quem realmente somos, estamos, então, em condições de viver para os
demais sem limites. O verdadeiro amor é expansivo, é dom total; e a prova de
fogo do amor é o amor ao inimigo. Se há um limite em nossa entrega, ainda não
alcançamos o amor evangélico.
Os santos e santas, por viverem profundamente fundamentados
no amor de Deus, foram testemunhas da alegria. Eles(elas) deixaram transparecer
que o amor que Deus nos tem suscita a alegria e esta motiva, dá energia, gera
confiança. Este amor é o que nos faz sair de nós mesmos, reencontrar-nos e
entregar-nos aos demais. E aqui está o “peso” do amor, o vigor da alegria.
O amor é o princípio que ordena a vida e a alegria irradia
harmonia e bem-estar àqueles que nos rodeiam. Existe, portanto, uma relação de
reciprocidade entre a alegria e o amor. São como vasos comunicantes: a alegria
brota do amor, o amor se expressa na alegria. É na atmosfera da alegria que o
mandamento do amor revela seu pleno sentido.
Nisto consiste a verdadeira alegria: sentir que um grande
mistério, o mistério do amor de Deus, nos visita e plenifica nossa existência
pessoal e comunitária.
A alegria que brota do amor é a experiência da vida já
ressuscitada; e este amor oblativo já não busca seu próprio interesse, mas
somente o serviço e a glória do Ressuscitado. O Pai, em seu amor, pronunciou a
palavra definitiva de fidelidade que consola e enche de esperança. Seu amor nos
inunda e ativa a alegria pascal: é preciso devolvê-lo em gratidão e em
generosidade para com o próximo.
A alegria sempre indica que a vida está se expandindo, que
ganhou terreno, que conseguiu ir além de si mesma. Um sinal de identidade da
alegria é o olhar profundo, amplo e expansivo da vida. Mesmo em meio à dor e ao
sofrimento, não faltam o bom humor e a ternura. Quem é cristãmente alegre se
desgasta menos, integra melhor os acontecimentos, é feliz e faz felizes os
outros.
Quem vive na alegria se sente sereno, livre, pensa
positivamente, está próximo dos pobres, acolhe as adversidades, integra suas
contradições, ama sem pôr condições, louva, canta e bendiz sem cessar.
De fato, a alegria experimentada não nos põe na retaguarda
nem nos acomoda; pelo contrário, nos pede que sejamos mais radicais nos
questionamentos e nos compromissos. Está em jogo a glória de Deus e a dignidade
de seus filhos e filhas.
Texto bíblico: Jo 15,9-17
Petição: Sentir em si mesmo a alegria de Cristo;
alegria que é dom do Espírito do Ressuscitado. Em Cristo, as alegrias humanas
são divinizadas. Considerar na oração os diversos motivos que lhe enchem de
alegria.
“A maior prova da existência de Deus é a alegria dos pobres.
Eles não tem outro motivo para se alegrar a não ser em Deus”. (D.
Luciano Mendes de Almeida).
Pe. Adroaldo Palaoro sj
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