11/maio/18
O Brasil novamente vai ignorar uma importante
efeméride: os 130 anos da abolição da escravatura. O 13 de maio de 1888
foi uma ruptura revolucionária em um País marcado pelo conservadorismo, pela
conciliação entre as elites, pela enorme dificuldade de enfrentar as graves
contradições sociais. Não é possível falar da abolição sem recordar o primeiro
movimento de massas da nossa história: o abolicionismo. A mobilização popular
nos anos 1880 foi fantástica. Jornais, panfletos, livros — o célebre “O
Abolicionismo”, de Joaquim Nabuco, foi um marco —, reuniões, músicas, peças
teatrais, passeatas, transformaram a última década do Império em um momento
especial. O abolicionismo entusiasmou o Brasil. Três províncias — como eram
chamados os estados durante o período imperial – aboliram a escravidão muito
antes da Lei Áurea (denominação dada por José do Patrocínio): Amazonas, Ceará e
Rio Grande do Sul. No Ceará — a primeira província a abolir a escravidão —, a
grande figura foi Francisco José do Nascimento, o dragão do mar. Liderou os
jangadeiros que se recusaram transportar escravos para os navios que se
dirigiam ao sul do País.
Nas principais cidades foram formadas associações que
lutaram pelo fim da escravidão. Em São Paulo marcou época a Sociedade dos
Caifazes, liderada por Antônio Bento, que, com o apoio dos ferroviários,
transportou milhares de escravos fugitivos para o quilombo do Jabaquara, em
Santos. Raul Pompeia e mais 80 colegas abolicionistas foram obrigados a
terminar o curso de Direito em Recife, tendo em vista a perseguição que
sofreram por parte de professores escravocratas das Arcadas.
Com a República, o 13 de maio acabou entrando no calendário
dos feriados cívicos. Foi passando o tempo e a data acabou sendo esquecida.
Mais que a data, o acontecimento, seu significado para a nossa história — não
custa recordar que o Brasil foi o último país a abolir a escravidão no
continente americano — foi apagado, como se não tivesse importância. Como se a
abolição fosse uma concessão da elite dominante e não produto da maior
mobilização popular que o País tinha assistido até então.
Hoje, com o domínio da (medíocre) sociologia produzida nos
EUA, falar no 13 de maio é considerado démodé. Os ventríloquos do novo
imperialismo cultural querem fomentar uma guerra racial. Até os negros não são
mais brasileiros; agora são afrodescendentes.
Marco Antônio Villa é historiador, escritor e comentarista
da Jovem Pan e TV Cultura. Professor da Universidade Federal de São Carlos
(1993-2013) e da Universidade Federal de Ouro Preto (1985-1993).
É Bacharel (USP) e Licenciado em História (USP), Mestre em Sociologia
(USP) e Doutor em História (USP)
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