Juiz falou a formandos da Universidade de Notre Dame, onde
já discursaram Obama e George W. Bush.
Por G1
20/05/2018
O juiz Sergio Moro durante o discurso aos formandos de 2018
da Universidade de Notre Dame (Foto: Reprodução)
O juiz Sergio Moro afirmou neste domingo (20) na cerimônia
de formatura da Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos, "que
ninguém está acima da lei" e que esta é uma lição não só para o Brasil,
"mas até para democracias maduras".
"Nunca se esqueçam da pedra angular das nações
democráticas, que é o estado de direito. Isso significa que todos têm igual
proteção da lei. Isso significa que é preciso proteger os mais vulneráveis. Mas
também significa que ninguém está acima da lei", disse. "Essa é uma
lição não só para o Brasil, mas até para democracias maduras", emendou.
Moro foi o principal orador da cerimônia. Antes dele, a
função foi exercida pelos então presidentes dos EUA George W. Bush (2001) e
Barack Obama (2009) e pelo então secretário-geral da Organização das Nações
Unidas (ONU), Kofi Annan (2000), entre outros. Em 2017, o convidado foi o
vice-presidente americano, Mike Pence.
Ao apresentar o juiz brasileiro, o presidente da
Universidade, reverendo John I. Jenkins, lembrou que, no mês passado, o
escritor peruano e prêmio Nobel da Paz Mario Vargas Llosa afirmou que
escolheria Moro "sem vacilar um segundo" se precisasse eleger um
brasileiro como exemplo para o mundo.
No discurso, pelo qual foi aplaudido de pé ao final, Sergio
Moro falou sobre o trabalho na Operação Lava Jato, que disse "não tem sido
fácil".
Ele citou o número de condenados por lavagem de dinheiro e
corrupção na Operação Lava Jato – 157, no total –, e lembrou, sem citar nomes,
que entre eles há empresários das maiores construtoras brasileiras, além de
políticos de alto escalão como um ex-governador (Sergio Cabral, do Rio de
Janeiro), um ex-ministro da Fazenda (Antonio Palocci), um ex-presidente da
Câmara (Eduardo Cunha) e "até mesmo um ex-presidente (Lula)".
"Não tem sido um trabalho fácil. Velhos hábitos de
corrupção sistência e impunidade são difíceis de derrotar", disse,
emendando há "ameaças, riscos e tentativas de difamação", mas que
apesar disso as investigações e julgamentos continuam.
Moro ainda classificou a corrupção no país como
"vergonhosa", mas destacou como positivo o endurecimento da lei sobre
esses crimes.
"Eu não sei o que vai acontecer com o futuro do Brasil.
Nós podemos sofrer revéses. Mas eu acredito que nós demos a nós mesmos ao menos
uma chance de ter um país melhor", afirmou.
Moro disse que o Brasil falhou em "impedir o abuso do
poder público para ganhos privados" e que então a corrupção cresceu e se
tornou "disseminada, endêmica ou mesmo sistêmica".
O juiz diz ter sido influenciado por outros juízes, como o
italiano Givoanni Falcone que condenou 344 membros da máfia da Scicília,
organização criminosa que parecia "invencível", nas palavras do juiz.
Disse também ter se inspirado na lei de combate à corrupção
americana, elaborada por um ex-aluno da Universidade de Notre Dame, uma
coincidência que chamou de "mundo pequeno".
Moro citou semelhanças entre as histórias do Brasil e dos
Estados Unidos, como o sofrimento com a escravidão no século 19 e o fato de
ambos os países terem recebidos milhões de imigrantes de todo o mundo. E
elencou diferenças, como a força economômica e a maturidade da democracia.
Ele destacou que a última ditadura no Brasil terminou em
1985 e que, "desde então, é possível dizer que, como vocês aqui, temos os
mesmos sonhos de liberdade e equalidade".
Honoris causa
Em outubro de 2017, Sergio
Moro havia recebido o Notre Dame Awards, uma honraria concedida pela
universidade a pessoas que são "pilares de consciência e integridade,
cujas ações beneficiaram seus compatriotas", segundo a instituição.
O prêmio existe desde 1992 e já foi entregue a pessoas como
Madre Teresa de Calcutá, o ex-presidente norte-americano Jimmy Carter e o
irlândes John Hume, agraciado com o Nobel da Paz em 1998.
Na ocasião, o presidente da Universidade de Notre Dame disse
que o juiz está "engajado em nada menos que na preservação da integridade
da nação com sua aplicação firme e não enviesada da lei".
Neste domingo, o juiz recebeu da universidade o título de
doutor honoris causa, como um "líder no movimento anticorrupção de seu
país".
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