Aguerrida bola no pé
Itajaí era quarto zagueiro vigoroso. Jogou no
Janízaros e na seleção amadora de Itabuna. Não perdia a jogada, entrava
duro, mas era leal na marcação do atacante. Com ele, a bola tinha que
ficar fora da zona de perigo. Acontecia que às vezes sua jogada impetuosa
cometia infração no atacante, recebia a vaia estrondosa do torcedor rival. Ele
mais se inflamava, mais se empenhava, mais procurava anular o atacante. Só
faltava comer a grama, queria a vitória do seu querido Janízaros ou da seleção
de Itabuna, sem medir esforço. Uma de suas qualidades era não perder o tempo da
bola.
Neném era o coringa do Janízaros. Defendeu também a
seleção amadora de Itabuna, meta maior que qualquer jogador daquele tempo
queria alcançar para se sentir realizado como atleta. O fôlego nele sobrava.
Como lateral direito, o ala como é chamado hoje, incrível como corria e não
cansava pela beirada do campo. Nessa posição tanto defendia como atacava. No
vaivém do jogo, como um lateral moderno, era de uma entrega total na defensiva
e ofensiva da faixa lateral do campo. Comum ir até a linha de fundo do time
rival e cruzar a bola para o atacante de seu time fazer o gol.
Não se sabia onde era que arranjava tanto fôlego para correr
com aquela disposição. Era adepto da boêmia, dizendo que com uma boa dama na
dança, cerveja gelada e bom papo com os
colegas da noite, conseguia inspiração para atuar no domingo seguinte como um
lateral direito eficiente, de mobilidade rara no vaivém da partida.
Era dançarino com passos que chamavam a atenção, os
malabarismos engraçados que fazia com a dama sobressaíam entre os pares no
salão. Arrancava suspiros da parceira no samba ou bolero, somente ele
sabia dançar o tango. No domingo seguinte, como se não tivesse a
gosto, durante a noite animada do sábado, véspera de jogo, corria os
noventa minutos como um velocista nato. Fazia o torcedor vibrar, a
arquibancada tremer, quando tomava a bola do atacante e saía disparado na
direção da linha de fundo do time adversário. Ninguém segurava o homem.
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Cyro de Mattos é contista, poeta,romancista, ensaísta,
cronista e autor de livros para crianças. Membro efetivo da Academia de Letras
da Bahia. Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz.
Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México. Tem livro publicado em Portugal,
Itália, França, Alemanha, Espanha e Dinamarca. Conquistou o Prêmio
Internacional de Literatura Maestrale Marengo d’Oro, em Gênova, Itália, com o
livro “Cancioneiro do Cacau”, o Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras,
com “Os Brabos”, contos, o APCA com “O
Menino Camelô” e O Prêmio Nacional Pen Clube do Brasil com o romance “Os Ventos
Gemedores”. Finalista do Jabuti três vezes.
Distinguido com a Ordem do Mérito da Bahia. Pertence ao Pen Clube do
Brasil.
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