Por Shirley M. Cavalcante (SMC)
Isaías Oliveira, 64 anos, é jornalista com 41 anos de
profissão (1976-2017), nascido em Manaus (AM), tendo exercido durante 30 anos
atividades de assessoria de imprensa e cargos públicos. Durante os anos 1970
militou na política de esquerda no MDB e foi articulista no jornal A
Notícia, de Manaus, onde trabalhou dois períodos sob censura prévia.
Participou do movimento em defesa das artes e das tradições
populares do Amazonas, com o jornalista Bianor Garcia e artistas, como os
pintores Moacir Andrade e Afrânio de Castro; os poetas Jorge Tufic e Aníbal
Beça; e o escritor Anthístenes Pinto.
Nos últimos anos tem se dedicado ao estudo de temas
amazônicos, sobretudo a cultura e o saber tradicionais dos povos da floresta,
com quem teve convívio desde a infância, nas viagens com o pai para extração de
madeira nos confins da floresta; e na juventude, como membro de grupos de caça
e pesca na Amazônia.
O romance “A Dimensão dos Encantados” é uma reflexão do
autor encarnando dois personagens verdadeiros, pessoas que existiram no
contexto da aventura e que realmente a viveram e acreditaram em tudo o que
viveram, criando, a partir dessa crença, uma verdade absoluta.
Além de “A Dimensão dos Encantados”,possui finalizados “O
Diário em Branco”, em revisão; e “A Casa do Fim da Rua”; e em elaboração “O
refúgio do Grande Espírito da Vida”, além de poemas e contos ainda por
organizar para edição. A veia poética surgiu na convivência com o poeta Thiago
de Mello, em seu retorno do exílio, de quem se tornou o primeiro novo amigo no
dia de sua chegada a Manaus.
“O interessante é que esse enredo revela uma Amazônia
desconhecida do mundo então, e ainda não descoberta pelo homem moderno.”
Boa leitura!
Escritor Isaías Oliveira, é um prazer contarmos com a sua
participação na Revista Divulga Escritor. Conte-nos, como surgiu inspiração
para a escrita do romance “A Dimensão dos Encantados”?
Isaías Oliveira - Bom. Não chegou a ser uma
“inspiração”, mas uma coisa até natural. Meu pai, também Isaías, foi um dos
maiores aventureiros da Amazônia. E era também um exímio contador de histórias.
Isso numa época – década de 1950, início de 60 – em que não conhecíamos nem
rádio portátil; ele tornava-se a principal atração para os curumins da
floresta.
Assim, “A Dimensão dos Encantados” acaba sendo uma história
bem familiar, da nossa família: meu pai, Isaías, minha mãe, Marina, e os sete
filhos. Porque todos nós, embora na época não compreendêssemos, participamos
dessa aventura.
Apresente-nos a obra.
Isaías Oliveira - Eu diria que “A Dimensão dos
Encantados” é um conto de duas histórias, reunidas numa única narrativa. Por
meio de uma leitura paralela a gente acompanha um navegador aventureiro e um
caçador perdido na mata, rememorando passagens de suas vidas antes de se
encontrarem, num fim de tarde, nos confins da Amazônia, onde o caçador, já com
aparência de animal e sem lembrar mais a linguagem humana, quase é abatido a
tiros pelo aventureiro.
O interessante é que esse enredo revela uma Amazônia
desconhecida do mundo então, e ainda não descoberta pelo homem moderno. Nela, o
sobrenatural e o humano se misturam na dimensão fantástica da mente, um espaço
onde o caçador, o pescador e o ribeirinho vivem a brutalidade, o medo e a magia
dos encantamentos da floresta, como verdades absolutas. São homens verdadeiros
vivendo uma realidade intangível.
Então, “A Dimensão dos Encantados” é uma obra baseada em
fatos reais?
Isaías Oliveira - Por se tratar de uma história que
lida com o imaginário fértil do homem amazônico, povoado de lendas, mitos e
assombrações, não posso afirmar que os fatos são reais. Mas posso garantir que
a história de vida dos dois personagens realmente aconteceu. O relato do livro
saiu da mente do meu pai. As histórias de ambos, porém, foram construídas por
duas mentes sintonizadas com a vivência, os costumes e a natureza da Amazônia
selvagem.
Quais critérios foram utilizados para a escolha do título?
Isaías Oliveira - Aí foi inspiração mesmo. No meu
roteiro seria uma crônica de viagem. Quando comecei a escrever despertou-me a
constatação de que não se tratava de uma simples história de noites de “serão”.
Ela retratava uma passagem de duas vidas diferentes, que se identificavam pelo
ambiente em que foram vividas, uma Amazônia, ainda naqueles tempos,
desconhecida, selvagem, onde índios guerreavam com brancos invasores e onças
atacavam pessoas no terreiro das casas.
Nesse ambiente sem tecnologia nem meios de comunicação a
distância, a mente do caboclo era povoada de medo das assombrações da mata. E
esse homem acreditava de corpo e alma nos seres encantados que dominavam a sua
cultura empírica. O saber tradicional, a medicina da selva, as profecias sobre
o futuro provinham de espíritos que se comunicavam com pajés e feiticeiros. Na
realidade, eu estava escrevendo sobre um mundo encantado...
Quais os principais personagens que compõem a trama?
Isaías Oliveira - Nós temos apenas dois personagens
centrais, vivendo duas histórias paralelas. Um, o aventureiro sem nome,
narrador da trama, navegando o curso de um rio com um destino certo. O outro, o
caçador Berenício, vagando perdido no setentrião da floresta amazônica, cuja
história é narrada na segunda pessoa. No relato de ambos se identifica uma
sintonia, quase simbiose espiritual, cultural e até biológica com o meio
ambiente selvagem.
Podemos dizer que são dois homens selvagens vivendo aventuras
convergentes na selva. Mas não se trata apenas da história de dois homens da
selva. Porque é também uma parte da história de um mundo verdadeiramente
encantado, a Amazônia. Naquilo que ela tem de mais selvagem, onde se percebe a
existência de um “encantamento” maior, essa coisa espiritual que transcende,
permeia e ao mesmo tempo movimenta todos os mecanismos de vida da floresta.
Que momento mais o marcou enquanto escrevia o enredo que
compõe a obra?
Isaías Oliveira - O capítulo Viagem ao círculo de
luz. Foi claramente uma irradiação mediúnica. Eu tirei de um fôlego, sem parar.
Simplesmente sentei-me, liguei o PC e escrevi. Sem pensar. Por que? Porque eu
estava vendo mentalmente aquela cena. Fui levado àquele “conclave” na
clareira encantada, nessa dimensão do astral que envolve a todos nós no mundo
tridimensionado.
Aqui cabe uma explicação:tanto meu pai quanto o homem
perdido, Mestre Bené, eram médiuns. Assim como eu próprio e duas de minhas
filhas, que hoje trabalham comigo no centro espírita Cedecom, uma Base de
Mentalização que se dedica à proteção espiritual da Amazônia.
Quais os principais desafios para a escrita do livro?
Isaías Oliveira - Na verdade, não houve propriamente
nenhum “desafio”. Eu já tinha uma agenda de livros para escrever e vinha
trabalhando nisso nas horas vagas. Nesse período, entre 1983 e 2002, fiquei
envolvido no meio político assessorando parlamentares, prefeitos e governadores
e minha vida era muito atribulada. “A Dimensão dos Encantados” era apenas uma
das ideias. Na verdade, já tinha começado outros dois romances – “Ana da
Escadaria” e “A Casa do Fim da Rua”, ainda não publicados.
Mas aí surgiu a oportunidade. Quando fui trabalhar numa
secretaria de governo somente um expediente, isso em 1997. Ficava de folga o
período da tarde e me veio a vontade de começar a escrever as memórias do meu
pai. No fim daquele ano assumi o cargo de subsecretário de Comunicação do
governo do Amazonas, mas não dava mais para parar. O prólogo e o epílogo do
livro registram as datas.
Onde podemos comprar seu livro?
Isaías Oliveira - O livro “A Dimensão dos Encantados” é
publicado e vendido pela editora Biblioteca24Horas – www.biblioteca24horas.com.br.
E também na Amazon – https://www.amazon.com.br.
Quais seus principais objetivos como escritor? Pensa em
publicar novos livros?
Isaías Oliveira - Bem direto: continuar escrevendo,
divulgar o livro já publicado e publicar novos livros. Paralelamente: aos 65
anos, que completarei em julho, me aposentar até o fim do ano e ter mais tempo
para escrever sobre a Amazônia. No meu trabalho mental/espiritual como médium
tenho coletado um grande volume de conhecimentos sobre a Amazônia. Esse
conhecimento transcendental precisa ser organizado e divulgado para que as
gerações em formação despertem para a real finalidade desse “Jardim da
Criação”, que é a nossa Terra; e para a importância do “Berçário de Vida”, que
é a Amazônia.
Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom
conhecer melhor o escritor Isaías Oliveira. Agradecemos sua participação na
Revista Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores?
Isaías Oliveira - Primeiro, quero agradecer esse espaço
privilegiado que a Revista Divulga Escritor me oferece. Nós, iniciantes,
sabemos das dificuldades para publicar e mais ainda divulgar num espaço qualificado
uma obra literária. Quanto à mensagem, pode parecer óbvio e oportuno, mas ela
é: leiam! Não apenas o meu livro. A leitura engrandece a cultura do ser humano.
E digo mais: passem adiante o conhecimento que adquirirem. Contem histórias aos
seus filhos, publiquem suas histórias com o conhecimento que elas lhes
proporcionaram.
Não esqueçam de que o maior ser humano que já pisou este
planeta viveu neste plano numa época em que ler e escrever era privilégio de
castas da nobreza. E mesmo assim Ele, contando histórias, deixou o maior legado
filosófico e espiritual da nossa civilização.
E acreditem: da mesma forma que Ele, todos nós somos
responsáveis pelo aperfeiçoamento da espécie humana nesta Terra abençoada. Tudo
acontece a partir de um pensamento; e nós vivemos hoje em um mundo onde os
nossos pensamentos podem alcançar a todos.
Contato:
E-mail: isaiasndeoliveira@gmail.com
Divulga Escritor, unindo você ao mundo através da Literatura
Contato: divulga@divulgaescritor.com
https://portalliterario.com/entrevistas/entrevistas-brasil/528-enredo-revela-uma-amazonia-desconhecida-por-muitos
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