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domingo, 5 de novembro de 2017

O AGIOTA – Jorge Luís Santos

O Agiota


Um agiota morre e vai para o inferno. Leva muitos cheques sem provisão de fundos e notas promissórias vencidas. Chegando lá. Procura localizar os seus devedores que o precederam; não os encontra. Só vê por lá os seus concorrentes daqui da terra. Todos agiotas estavam, como ele, nos quintos dos infernos.

Precisa telefonar. A ligação do Inferno era muito cara; do Céu, 0800. Como é que, para cobrar a um velhaco, teria que gastar tanto dinheiro? – interroga-se. De repente, recebe uma ligação 0800:

- Alô, é o agiota Assis Bombão?

- Fala! Quem é você?

- Eu sou patanjali!

- Procurei você aqui e não lhe encontrei!

Quando é que você vem para cá?

- Por acaso eu já pratiquei agiotagem?

- Mas quem lhe disse que velhaco vai para o Céu?

- Lembre-se de que morri e se não estou no inferno é porque Deus me perdoou.

- Como Deus se atreve a fazer isso, se ele não me pagou a sua divida para, na condição de seu novo credor, poder ter lhe dado o perdão?

- Lembre-se também que você me deixou na miséria. Não pude nem pagar o meu caixão.

- Velhaco como você merece, no máximo, ser enterrado num saco plástico!

- Engano seu. Tive um sepultamento chic, com velório, urna funerária, flores, mirra e muitas lágrimas.

- Já sei que foi tudo por conta do SAF.

- Não. Foi comprado mesmo.

- À vista?

- A prazo!

- Duvido, hoje não se vende fiado sem consultar os Serviços de Proteção ao Crédito.

- Por acaso, agiota pode botar alguém no SPC e no SERASA?

- Não. Se eu pudesse fazê-lo, já teria botado um velhaco como você naquele rol de inadimplente!

- Você não pode me colocar no SERASA, mas pode me emprestar R$50.000,00.

- Pra que você quer tanto dinheiro assim?

- Pra pagar o meu funeral.

- O problema é meu ou de quem lhe vendeu fiado?

- O problema é nosso!

- Nosso? Por quê?

- Você sabe quem é a avalista?

- Quem? Diga-me, eu não sou adivinho.

- A viúva.

- A viúva minha mãe já morreu.

- A viúva...

- A viúva de quem?

- A viúva... Sua mulher!


Jorge Luís Santos
Advogado e cronista. Itabuna – Bahia.



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