23/10/2017
A caminho do quinto ano de Lava Jato, não se pode afirmar
que o quadro de impunidade nos crimes de corrupção no Brasil permanece
inalterado. É o que acreditam duas figuras emblemáticas das investigações que
abalaram o mundo político brasileiro, o juiz federal Sérgio Moro e o procurador
da República Deltan Dallagnol.
Para eles, o sucesso da operação dependerá de como será a
reação da sociedade daqui para frente.
Moro e Dallagnol estarão no Fórum
Estadão Mãos Limpas e Lava Jato para falar sobre as investigações de
combate à corrupção, da Itália e do Brasil, junto com os magistrados Piercamillo
Davigo e Gherardo
Colombo, que trabalharam na força-tarefa de procuradores de Milão criada 25
anos atrás.
O evento é uma associação entre o Estado e o
Centro de Debate de Políticas Públicas (CDPP) e vai ocorrer nesta terça-feira,
24. O painel, reservado para convidados, será mediado pela jornalista Eliane
Cantanhêde, colunista do Estado, e pela economista Maria Cristina Pinotti,
do CDPP. Terá ainda a participação do diretor de Jornalismo do Estado,
João Caminoto, e do economista Affonso Celso Pastore, do CDPP.
“Apesar da permanente sombra do retrocesso, não se pode
afirmar que não houve mudanças no quadro de impunidade para esses crimes”, diz
Moro, ao pôr Lava Jato e mensalão como partes de um ciclo de combate à
impunidade de “poderosos”.
Coordenador da força-tarefa em Curitiba, que iniciou a Lava
Jato em 2014, Dallagnol entende que a “virtude” das duas operações “foi um
amplo diagnóstico da podridão do sistema político”.
“Contudo, a virtude da Lava
Jato é também sua maldição, pois o sistema político concentra o maior poder da
República, no Congresso, e sua reação pode enterrar as investigações, como na
Itália.”
Para juiz e procurador, é a sociedade que vai ditar se a
operação brasileira vai se aproximar da Mãos Limpas em seu final – na Itália,
houve alto índice de impunidade, após a reação política e o desinteresse
popular.
“Se houver uma contínua pressão da opinião pública,
imagina-se que até nossas lideranças políticas emperradas terão que adotar uma
postura reformista”, diz Moro. “O Congresso pode colocar toda a operação abaixo
numa madrugada. Basta a aprovação de um projeto de anistia. Por isso, os
resultados da Lava Jato dependem primordialmente de como a sociedade vai
reagir”, afirma o procurador.
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário