Rainer Weiss, Barry Barish e Kip S.Thorne levam Nobel de
Física em 2017 pela constatação de fenômeno antecipado por Albert Einstein há
mais de 100 anos.
Por G1
03/10/2017
Os cientistas Kip Thorne, Rainer Weiss e Barry Barish,
vencedores do Nobel de Física; eles desvendaram o mistério das ondas
gravitacionais (Foto: Andrew Harnik/AP e R.Hahn/Public Domain)
O Nobel de Física de 2017 foi para Rainer Weiss, alemão
naturalizado americano; e Barry Barish e Kip S. Thorne, cientistas nascidos nos
Estados Unidos. Juntos, eles conseguiram provar a existência das ondas
gravitacionais, fenômeno previsto pelo físico Albert Einstein há mais de 100
anos em sua teoria Geral da Relatividade (1915). Os laureados observaram o
evento pela primeira vez há pouco mais de dois anos, em 14 de setembro de 2015.
As ondas gravitacionais abrem um terreno absolutamente novo
para como o homem enxerga o espaço-tempo. Isso porque, após a observação do
fenômeno, os cientistas mostraram que a força gravitacional é capaz de provocar
ondas que distorcem essas dimensões.
A observação é uma decorrência da famosa teoria da
Relatividade Geral, do físico Albert Einstein. Uma das principais premissas
dessa teoria é que o espaço e o tempo interagem com a matéria; ou seja, essas
dimensões não são sempre constantes ou imutáveis.
A partir da teoria de Einstein partiu-se do pressuposto que,
caso haja uma força muito forte em interação, o espaço e o tempo podem sofrer
distorções. Depois de mais de 100 anos, foi justamente essa perturbação que os
cientistas observaram.
"As ondas gravitacionais são uma maneira totalmente
nova de observar os eventos mais violentos do espaço e de testar os limites do
nosso conhecimento", destaca a Fundação Nobel.
Segundo Einstein, quando uma massa de grandes dimensões
acelera, ela gera forças gravitacionais que provocam essas distorções. Einstein
acreditava, no entanto, que não seria possível observar o fenômeno, informa a
Fundação Nobel.
Nobel de Física versão 3 (Foto: Karina Almeida/Infográfico
G1)
Fenômeno já rendeu outro Nobel em 1993
A existência das ondas gravitacionais passou a ser concebida
quando, no final dos anos 1950, estudos demonstraram que as ondas carregavam
energia; e, por isso, poderiam ser mensuráveis.
Em 1970, os astrônomos Joseph Taylor e Russel Hulse
mostraram que as estrelas giravam ao redor delas mesmas e, com isso, perdiam
energia. Essa energia perdida seria uma indicação da existência das ondas
gravitacionais. Por esse achado, Taylor e Hulse foram laureados com o Nobel de
Física de 1993.
As demonstrações acima, no entanto, eram indicações
indiretas das ondas gravitacionais. A evidência direta do fenômeno só viria
depois de um imenso esforço, uma vez que não seria fácil provocar alterações no
espaço-tempo.
Simulação ilustra colisão de buracos negros como aquela
detectada pelo projeto Ligo (Foto: Andy Bohn et al.)
Um projeto dedicado à observação das ondas gravitacionais
O trio de laureados integra o Ligo (Laser Interferometer
Gravitational- Wave Observatory), ligado ao Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos. Trata-se de um projeto colaborativo de
observação de ondas gravitacionais que integra mais de 20 países e cerca de mil
cientistas.
Barry Barish é um dos fundadores e líderes do LIGO e Kip.S
Thorne e Rainer Weiss se somam ao pioneirismo que fizeram do projeto uma
possibilidade. Thorne e Weiss, em meados dos anos 1970, estavam convencidos da
existência das ondas gravitacionais.
Weiss já havia observado perturbações que indicavam a
presença das ondas. Ele também concebeu uma espécie de detector preliminar
dessas perturbações.
No Ligo, os cientistas construíram um dispositivo, "o
interferômetro", que é capaz de medir as ondas gravitacionais. São dois
túneis em que passam dois feixes de laser em cada um: um viajando para frente e
outro viajando para trás. Esse movimento provoca distorções nos túneis e os
cientistas trabalharam para medir essa distorção, provando, assim, a existência
das ondas.
O projeto possui dois interferômetros: um Washington e outro
no estado da Lousiana, nos Estados Unidos.
Os cientistas acreditam que as ondas gravitacionais
observadas foram geradas após a colisão de dois buracos negros, ocorrida há
milhões de anos. Os pesquisadores calculam que as ondas demoraram 1,3 bilhão de
anos até chegar ao detector de ondas, nos Estados Unidos.
Rainer Weiss posa para foto em sua casa, na cidade de Newton
(Massachussets/EUA), nesta terça-feira (3), após receber a notícia do prêmio
Nobel de Física (Foto: Josh Reynolds/Associated Press)
Reações dos cientistas e a persistência de um projeto
Os cientistas foram avisados por telefone do prêmio. Em
entrevista à fundação Nobel, Kip S. Thorne reforçou a necessidade de
colaborações na ciência. "Grandes descobertas são mesmo o resultado de
grandes colaborações", disse. O cientista disse não estar surpreso com o
fato da descoberta ter ganhado o Nobel, mas não pensou que, ele, pessoalmente
seria um dos laureados.
Barry C. Barish destacou o tamanho da onda e as dificuldades
de medição. "O tamanho real do sinal era cerca de um milésimo do tamanho
de um próton", disse, em entrevista ao Nobel Media. O cientista também
reforçou o quanto foi necessário o desenvolvimento de novas tecnologias para
que o projeto se tornasse realidade.
"Desde a construção do primeiro detector, nós levamos
mais de 20 anos. A descoberta é também o testamento da ciência e da tecnologia
moderna. Penso que isso não seria possível há 50, 30, 20 anos. Foram
necessários os lasers mais modernos e a melhor engenharia", disse Barish.
Química, Literatura e Paz
O prêmio de Física, anunciado nesta terça-feira (3), é o
segundo a ser apresentado este ano. Na segunda-feira (2), foi a vez do Nobel de
Medicina, em que os
norte-americanos Jeffrey C. Hall, Michael Rosbash e Michael W. Young levaram o
prêmio por suas descobertas no ritmo circadiano.
Na quarta-feira (4), será anunciado o de Química; na quinta,
o de Literatura (5); e, na sexta (6), o da Paz. O de Economia será anunciado na
segunda-feira (9).
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