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quinta-feira, 12 de outubro de 2017

O RIO, O CACAU E O MAR – Antonio Lourenço de Andrade Filho

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O Rio, o Cacau e o Mar


Em homenagem aos que lutam a favor da preservação do rio, que seja uma leitura de reflexão para tantos outros que não valorizaram a natureza!...

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Na cidade Grapiúna
Corre o rio Cachoeira
Seguindo agreste para o leste
Margens lindas, rochas e altas ribanceiras.

Chegando lentamente ao mar
Sangria de escunas
Que velozes cortam as águas 
Resvalam nas rochas e deixam rastros e espumas

Hoje, é o rio que chora?
Cheio de dejetos
Que d’antes, águas fundas e turvas
Saiam das matas virgens
Águas limpas e profundas
Onde a vida prosperava, e frutos davam
Levados em amêndoas, secas para o mar
Dias de glória, que por si transbordam

Ao longo do rio, escrevem a história
Em seu rico leito, alteram as águas
Das canoas, do cacau e das ricas barcaças
No fundo da memória, as lembranças do rio
Saídos das matas em constante passar as águas
Facões a fio, burros carregados e caboclos suados
Todos ao longo das matas, que margeiam o rio, e vão para o mar

Nas casas dos ricos, a luxuria ostentavam
Faz sentido saber das riquezas mil
Tolo endinheirado, à frieza mortal
Esvaziaram as matas e encheram as barcaças
Se não cuidar do rio, sedento de águas limpas
Pode-se um dia, como o cacau afundar
Das matas virgens, até o litoral

Contam na história e o tempo passa
Os homens se esquecem de suas tênues lembranças
Mas o tempo não perdoa e os faz pensar
Resistem às mágoas, mas das esperanças
O rio só não pode em seu leito voltar
E nem se pode a história,  mudar

Chora ao passar na cidade hostil
Onde se afoga em lagrimas
As águas sujas do rio
Recebe o lixo, que entulha o seu leito
As ríspidas verdades que ostentam a cidade
Como o luxo, estará também o lixo
Que deixam as suas águas sujas voltar

Falta o amor, e o respeito ao lar
Dos que jogam o lixo que entulham as águas
Que se esvaindo tristes, vão para o mar
No podão tenaz, um corte  voraz
Olhas! Ó gente, tu que matas o rio
E as vidas ao redor, que vãs, irão para o mar
No mar sombrio, o gosto amargo do rio
Sedento de águas límpidas, o rio não pode ficar

Também se afoga em mágoas, ó rio
Das águas sujas que despeja no mar
O mar de cor verde, e o azul de anil
Recebe dejetos sujos, que desce no rio
É triste receber tantas sujeiras!  
E o mar também quer se lamentar

Nas estradas perdidas que cortam as matas
Choram cantando como  pneus nas margens das estradas  
E a ferrugem corrói instantâneo, o concreto
Orgulho dos homens, engenheiros civis
Das pontes esquecidas que cortam os leitos dos rios

Beberam   águas belas e antes translúcidas
Agora deixa como as lagrima, às nascentes secar
Nascentes que eternamente servem aos rios
Sujas de óleo ou tingidas de sangue
As estradas negras do sul do Brasil
Terras agrestes do jequitibá

No mastro tremula a bandeira mucama
Jogando ao vento o símbolo nacional
No solo, as ricas bandeiras
Camacho do rico cacau
Do asfalto em luto, o pinche nas matas
Não mates também, o verde do mar

Assim tremulando triste no mastro
Mergulhando a fundo, o rasga mortalha
Perfurando o céu escuro o relâmpago lastreia
No breu as estrelas tornam-se opacas
O mar frio agita-se sombrio
Recebendo as águas sujas do rio

Matam as baleias intoxicadas
Num rugido triste,  despede-se do mar
Encalhadas e mortas lamentos e tristezas
Cadáveres boiando,  num triste sonar
Fatais ambições
Faltam-nos a nós, a nobreza
Dos animais encalhados que sucumbem nas areias
Em um atordoante lamento e um triste pesar
A morte também é gigante no mar

Sobre a ponte onde passa o cacau
Sob a ponte, as águas e as areias
És rica, ó estrada, lenta assassina
Estais perdidas nas matas
Quase sem vida, as matas margeiam
Entulham o rio e vão para o mar
Nos recifes se afogam as verdes vertentes
E o recanto triste das lindas nascentes
No verde das pedras as lindas sereias
Choram também a morte do mar

És grapiúna, na duvida, os versos
Na verdade  dos versos, há prosas
Diga-me sem pestanejar!
Se for à estrada da ponte que corre do rio
Serpenteiam nas laterais, que a morte margeia
Mas retiram o cacau e vão para o mar
Ou se o rio que corre da estrada da ponte
Serpenteia nas matas a vida margeia
Mas retiram o cacau e vão para o mar

Saindo nas estradas embarcam em navios
E quase sem vida também corre as águas do rio
Sedentos os homens, só querem ganhar
Refinam o cacau e consomem as matas
No amarelo da bandeira, o capitalismo hostil  
O verde das matas, o azul do céu e as águas do rio

São grapiúna, homens vorazes das matas
Cuidado com as cuias ricas do seu rico cacau
Ouro verde cobiçado nas matas
A sede volta e não se esqueçam da história
Há ricos que ficaram pobres
E se matam nas praças
E os pobres miseráveis
Atirados nas estradas
Vistos as margens das leis
Degradam a visão e a posição social

Não há cacau nas barcaças
O rio seca, mas fica na memória
E as suas ultimas águas ainda se arrastam
Correm como se fossem as ultimas lagrima
Que correrão sozinhas para o mar
Sem dúvida, apenas um dia restará?
O amargo do chocolate, as areias do rio, e o sal do mar.



                                        Antonio Lourenço de Andrade Filho
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