Imagem: Fotomontagem ICAL
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Ecos do campo da desportiva
Cyro de Mattos
Recebi e-mail de Florisvaldo Mattos, grapiúna de Uruçuca,
antiga Água Preta, jornalista e consagrado
poeta baiano.
Transcrevo abaixo o
que ele mandou dizer:
“Vivamente interessado, até curioso e encantado, logo que
recebi hoje, bailei (como dizem os argentinos) por toda a extensão de seu O
Velho Campo da Desportiva, lembrando de coisas a que assisti, acompanhei, e
pessoas, então jovens, com as quais convivi, e até com elas joguei em peladas
vespertinas naquele templo de emoções juvenis, em companhia de Vitório e seu
irmão, o vitorioso e consagrado no futebol amador, Zequinha Carmo, ambos meus
colegas no Ginásio da Divina Providência. Joguei também peladas com mais dois
ali, cujos nomes não lembro agora, embora não lhes tenha acompanhado as
carreiras vitoriosas, desde que, quando brilharam na seleção de Itabuna e em clubes, eu já não
andava por Itabuna, estava formado e fazendo jornalismo em Salvador.
Joguei também na Desportiva com Santinho
e Tombinha. No entanto, presenciei pelo
menos dois eventos daquela saga aqui na capital: quando da conquista do torneio
intermunicipal na Fonte Nova, em 1957 (tinha que estar lá por questão de honra
e fidelidade a origens adolescentes), e, em 1961, quando a seleção jogava uma
partida, no Campo da Graça, então destinado a jogos da divisão de amadores,
contra seleção municipal cujo nome não guardo, mas lembro que a vitória
pertenceu a Itabuna, com Zequinha Carmo goleador.
“Suas narrativas me trouxeram novidades interessantes, mas
as maiores foram referentes ao jogador
Nandinho (Epaminondas da Silva Moura), que jogou no Flamengo, com muita classe
e fama nos anos de 1941, 42 e 43, sendo duas vezes campeão, na avalanche para o
tricampeonato de 1944. Primeiro, não sabia que ele era itabunense; nem que era
tio do saudoso Santinho. Sabia que jogara no Bahia. Tanta fama conquistou este
craque, malabarista da bola e goleador, que talvez seja o único futebolista
baiano a figurar em letra de samba, como neste que foi sucesso na época (1941)
na voz do grande Moreira da Silva - "Doutor em futebol", samba de
Waldemar Pujol e Moacyr Bernardino -, em cuja letra protagonizam dois versos,
acentuando a ginga da interpretação, pois, numa tirada de humor malandro, o
personagem promete ser "um craque verdadeiro, um perigoso artilheiro, e ser
sucessor de Pirilo" (grande goleador daquele Flamengo), para então adiante
avisar: "suplantando o sêo Nandinho", no drible de corpo. Fui ver no
Google, Nandinho nasceu em 8 de novembro de 1922, não em 1921, mas não
encontrei data de falecimento dele. Estará vivo ainda? Como resgate de uma saga
esportiva, seu livro é um primor de memória cultural e sentimental. Em tempo:
também tive dúvidas quanto ao time em que jogava o craque mineiro Barbatana, um
primor de centromédio, hoje meia de ligação, eu vi jogar. Suponho que se
chamava Metalusina. Parabéns, grande, e um abraço. Florisvaldo”.
Já em outro e-mail,
opina o poeta e jornalista sobre
o conteúdo sensibilizado do meu livro O
Velho Campo da Desportiva: “É um livro precioso, para espíritos que se associam
a essa lembrança do passado itabunense
recente, ditado pelas vozes do coração e do amor à terra e sua gente”.
Gratificado por essas ressonâncias que o meu livro causou no
jornalista e poeta Florisvaldo Mattos, informo
que O Velho Campo da Desportiva
não tem a pretensão de ser um livro de
história, no qual se faz necessário
relacionar, com precisão e detalhes, os
fatos importantes da vida em determinado lugar,
sequenciando os momentos,
indicando datas, apontando eventos e ressaltando o papel de
certos personagens envolvidas com o assunto para, assim, em níveis
investigativos, documentais e interpretativos,
valorizar o estar no mundo dos seres humanos em sua natureza gregária.
O Velho Campo da Desportiva é um livro de memórias
esportivas de uma cidade do interior.
Relata na primeira parte a atuação de dirigentes e jogadores, recria alguns
momentos pitorescos na segunda e na terceira
dá estofo literário ao que o autor viveu e sentiu com a alma latejando
emoções sobre a vida em determinado lugar de sua terra natal. Não é um livro
que objetiva fazer um minucioso inventário histórico do futebol amador de sua
terra natal. Não quer trazer do palco da vida
pessoas e fatos para servir de apoio documental a quem queira dissertar, numa tese, sobre determinada época esportiva no interior baiano, em níveis factuais com
base na verdade histórica.
Vê-se, sem esforço, que em O Velho Campo da Desportiva
circula gente, jogadores, torcedores,
dirigentes e comunicadores. Gente que deu
tantas emoções a quem viveu essa época,
possibilitando ao autor recordações que tocam o coração e que hoje reavivadas em forma de livro emergem
do tempo para transmitir
sentimentos às novas gerações. Com
pedaços da vida, o livro busca recuperar até certo ponto a cor e o amor de um
tempo perdido, sem a preocupação de
querer agradar o ego de algumas pessoas,
sobreviventes daquela saga. É evidente que em livro desse teor não se pode
falar de todos os seus protagonistas,
como alguns certamente gostariam e mereciam.
Quanto ao
missivista Florisvaldo Mattos, poeta
renomado, de linguagem cativante, aclamado pela crítica nacional, resta agradecer comovido suas impressões
acerca de meu livro, Vale lembrar mais uma vez que as memórias relatadas de O velho Campo da
Desportiva, na primeira parte, têm como
fonte o programa “O Túnel do Tempo”, do radialista Marcos Soares, já os outros textos
são crônicas em que se procura perenizar
o efêmero que passa na aventura diária da vida.
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Cyro de Mattos é jornalista, cronista, contista,
romancista, poeta e autor de livros para crianças. Publicado em Portugal,
Itália, França, Espanha, Alemanha, Rússia, Dinamarca, México e Estados Unidos.
Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México. Membro efetivo da Academia de
Letras da Bahia, Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras de Itabuna.
Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz.
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