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domingo, 22 de outubro de 2017

ECOS DO CAMPO DA DESPORTIVA - Cyro de Mattos

Imagem: Fotomontagem ICAL
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Ecos do campo da desportiva
Cyro de Mattos                      

Recebi e-mail de Florisvaldo Mattos, grapiúna de Uruçuca, antiga Água Preta, jornalista e consagrado  poeta baiano.
Transcrevo abaixo  o que  ele mandou dizer:

            “Vivamente interessado, até curioso e encantado, logo que recebi hoje, bailei (como dizem os argentinos) por toda a extensão de seu O Velho Campo da Desportiva, lembrando de coisas a que assisti, acompanhei, e pessoas, então jovens, com as quais convivi, e até com elas joguei em peladas vespertinas naquele templo de emoções juvenis, em companhia de Vitório e seu irmão, o vitorioso e consagrado no futebol amador, Zequinha Carmo, ambos meus colegas no Ginásio da Divina Providência. Joguei também peladas com mais dois ali, cujos nomes não lembro agora, embora não lhes tenha acompanhado as carreiras vitoriosas, desde que, quando brilharam  na seleção de Itabuna e em clubes, eu já não andava por Itabuna, estava formado e fazendo jornalismo em Salvador. Joguei  também na Desportiva com Santinho e Tombinha.  No entanto, presenciei pelo menos dois eventos daquela saga aqui na capital: quando da conquista do torneio intermunicipal na Fonte Nova, em 1957 (tinha que estar lá por questão de honra e fidelidade a origens adolescentes), e, em 1961, quando a seleção jogava uma partida, no Campo da Graça, então destinado a jogos da divisão de amadores, contra seleção municipal cujo nome não guardo, mas lembro que a vitória pertenceu a Itabuna, com Zequinha Carmo goleador.

            “Suas narrativas me trouxeram novidades interessantes, mas as maiores foram  referentes ao jogador Nandinho (Epaminondas da Silva Moura), que jogou no Flamengo, com muita classe e fama nos anos de 1941, 42 e 43, sendo duas vezes campeão, na avalanche para o tricampeonato de 1944. Primeiro, não sabia que ele era itabunense; nem que era tio do saudoso Santinho. Sabia que jogara no Bahia. Tanta fama conquistou este craque, malabarista da bola e goleador, que talvez seja o único futebolista baiano a figurar em letra de samba, como neste que foi sucesso na época (1941) na voz do grande Moreira da Silva - "Doutor em futebol", samba de Waldemar Pujol e Moacyr Bernardino -, em cuja letra protagonizam dois versos, acentuando a ginga da interpretação, pois, numa tirada de humor malandro, o personagem promete ser "um craque verdadeiro, um perigoso artilheiro, e ser sucessor de Pirilo" (grande goleador daquele Flamengo), para então adiante avisar: "suplantando o sêo Nandinho", no drible de corpo. Fui ver no Google, Nandinho nasceu em 8 de novembro de 1922, não em 1921, mas não encontrei data de falecimento dele. Estará vivo ainda? Como resgate de uma saga esportiva, seu livro é um primor de memória cultural e sentimental. Em tempo: também tive dúvidas quanto ao time em que jogava o craque mineiro Barbatana, um primor de centromédio, hoje meia de ligação, eu vi jogar. Suponho que se chamava Metalusina. Parabéns, grande, e um abraço. Florisvaldo”.

            Já em outro e-mail,  opina o poeta e jornalista  sobre o conteúdo sensibilizado do meu  livro O Velho Campo da Desportiva: “É um livro precioso, para espíritos que se associam a essa lembrança  do passado itabunense recente, ditado pelas vozes do coração e do amor à terra e sua  gente”.

            Gratificado por essas ressonâncias que o meu livro causou no jornalista e poeta Florisvaldo Mattos, informo  que   O Velho Campo da Desportiva não tem a pretensão de ser  um livro de história, no qual  se faz necessário relacionar, com precisão e detalhes,  os fatos importantes da vida em determinado lugar,  sequenciando os momentos,  indicando   datas,  apontando eventos e ressaltando o papel de certos personagens envolvidas com o assunto para, assim, em níveis investigativos, documentais e interpretativos,  valorizar o estar no mundo dos seres humanos em sua natureza gregária.
  
            O Velho Campo da Desportiva é um livro de memórias esportivas  de uma cidade do interior. Relata na primeira parte a atuação de dirigentes e jogadores, recria alguns momentos pitorescos na segunda e na terceira  dá estofo literário ao que o autor viveu e sentiu com a alma latejando emoções sobre a vida em determinado lugar de sua terra natal. Não é um livro que objetiva fazer um minucioso inventário histórico do futebol amador de sua terra natal. Não quer trazer do palco da vida  pessoas e fatos para servir de apoio documental a  quem queira dissertar, numa tese, sobre  determinada época esportiva  no interior baiano, em níveis factuais com base na verdade histórica.
 
            Vê-se, sem esforço, que em O Velho Campo da Desportiva circula gente,  jogadores, torcedores, dirigentes e comunicadores. Gente que deu  tantas emoções a quem viveu essa época,  possibilitando ao autor recordações que tocam o coração e que hoje  reavivadas em forma de livro  emergem  do tempo  para transmitir sentimentos às novas gerações.   Com pedaços da vida, o livro busca recuperar até certo ponto a cor e o amor de um tempo perdido,   sem a preocupação de querer  agradar o ego de algumas pessoas, sobreviventes daquela saga. É evidente que em livro desse teor não se pode falar de todos os seus  protagonistas, como alguns certamente gostariam e mereciam.
    
            Quanto ao missivista Florisvaldo Mattos,  poeta renomado, de linguagem cativante, aclamado pela crítica nacional,  resta agradecer comovido suas impressões acerca de  meu livro, Vale lembrar  mais uma vez que as  memórias relatadas de O velho Campo da Desportiva, na primeira parte, têm  como fonte o programa “O Túnel do Tempo”, do radialista  Marcos Soares, já os outros  textos  são crônicas em que se procura perenizar  o efêmero que passa na aventura diária da vida.
 
            Com o melhor abraço, homenagem e afeto, O Velho Campo da Desportiva  é dedicado aos que  fizeram daquele campo de futebol amador  um lugar de encanto, lazer e emoções tantas.  Um templo da bola no pé para guardar no coração.  
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Cyro de Mattos é jornalista, cronista, contista, romancista, poeta e autor de livros para crianças. Publicado em Portugal, Itália, França, Espanha, Alemanha, Rússia, Dinamarca, México e Estados Unidos. Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México. Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia, Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras de Itabuna. Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz.

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