Na boca do deserto
Estava indo, há muito, para o deserto
e não sabia.
Antes, ao revés, julgava caminhar
das pedras para o bosque
lugar de onde o mel e o vinho jorrariam.
Bastava fazer a travessia.
Em alguma parte passei por algum oásis
mas era para este destino de pedra
silêncio e pasmo
que me dirigia.
Os beduínos há muito compreenderam
o que eu não compreendia:
apenas nos movemos entre pedras, cabras e camelos
olhando ternamente o fim do dia.
A tenda é provisória.
Eterno só o áspero horizonte de pedra
e a poesia.
Affonso Romano de Sant´Anna
[In Sísifo desce a montanha, Rio de Janeiro: Rocco, 2011, p.
52]
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