Chacrinha não morreu
Paralisado por um acidente doméstico, pela primeira vez
acompanhei os ensaios dos artistas que hoje se apresentarão no Rock in Rio. Não
precisou que alguém jogasse bacalhau para a plateia de jovens, que estão
criando uma nova forma de expressar amor e sentimentos correlatos. Algumas
letras são maravilhosas, embora monótonas pelo tema e pelo ritmo repetido à
exaustão. A alternativa que me ficou foi acompanhar com má vontade as misérias
da Lava Jato. Espero que esta nova geração faça um Brasil melhor.
Diretor de uma revista semanal, acompanhei o drama de Cássia
Eller. Comprometida com o rock, intérprete de alguns sucessos, ela parecia
drogada, procurou uma clínica em Laranjeiras. Seu estado era deplorável.
Internada às pressas, teve um infarto e morreu. Um jornalista da época
escreveu: "não se sabe ainda se o rock leva às drogas ou se as drogas
levam ao rock".
Nem uma coisa nem outra. A geração mais nova dificilmente
tem acesso a outros tipos de música que conseguem unir corações, mentes e
bundas –algumas boas que nem o Chacrinha, que, com suas chacretes, conseguia
empolgar velhos e moços. Daí o apelo ao bacalhau: "Vocês querem
bacalhau?" Todos queriam.
O talento e a obstinação de Roberto Medina aproveitaram do
Chacrinha uma coleção de bundas e coxas que fizeram história sem necessidade do
bacalhau. Pessoalmente, não gosto do bacalhau. Prefiro bundas e coxas, que, por
mais que sejam monótonas e repetitivas, com o rock têm a vantagem de parecerem novas
e maravilhosas. Desejo sucesso ao Rock in Rio 2017 e mando meu afetuoso abraço
ao Roberto Medina. O pai dele criou um dos programas mais memoráveis da TV
brasileira: "Noites de Gala".
Depois do "Balança mas não Cai", foi a trilha
sonora de toda uma geração.
Folha de São Paulo (RJ), 17/09/2017
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Carlos Heitor
Cony - Quinto ocupante da Cadeira nº 3 da ABL, eleito em 23 de março de
2000, na sucessão de Herberto Sales e recebido em 31 de maio de 2000 pelo
acadêmico Arnaldo Niskier.
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