2018 é hoje
07 de Setembro de 2017
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A lava jato matou o eufemismo
por Felipe Moura
Brasil
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Lula, no Twitter, em 28 de abril:
“Não tenho preocupação com nenhuma delação. Palocci é meu
companheiro há 30 anos, é um dos homens mais inteligentes desse país.”
Lula, no Facebook, em 6 de setembro:
“Palocci repete o papel de réu que não só desiste de se
defender como, sem o compromisso de dizer a verdade, valida as acusações do Ministério Público para obter redução de pena.”
Entre uma declaração e outra, claro, o companheiro Antonio
Palocci, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, entregou Lula e o “pacto de
sangue” do petista com a Odebrecht para o pagamento de R$ 300 milhões a si
próprio e ao PT.
Como “um dos homens mais inteligentes desse país”, o
ex-ministro deu uma aula a Cristiano Zanin, advogado do comandante máximo,
sobre a relação entre oito contratos da Odebrecht com a Petrobras e a compra
de uma sede para o Instituto Lula.
“A empresa trabalha com a Petrobras; a Petrobras dá
vantagens para essa empresa; com essas vantagens, cria uma conta para
destinar aos políticos que a apoiaram; o presidente mantém lá diretores que
apoiam a empresa, para dar a ela contratos; esses contratos geram dinheiro;
com esse dinheiro, eles pagam propina aos políticos. A Odebrecht fez um caixa
(com os contratos da Petrobras) e desse caixa foi sacado um dinheiro que
comprou esse prédio que foi dado ao presidente Lula.”
Zanin ainda perguntou “por que a Odebrecht estaria
envolvida na compra deste imóvel” na Rua Doutor Haberbeck Brandão, 178, em
Vila Clementino, São Paulo.
Palocci respondeu:
“Porque o doutor [José Carlos] Bumlai e o doutor Roberto
Teixeira [advogado e também amigo pessoal de Lula] sabiam que a Odebrecht era
uma colaboradora...”
O ex-ministro interrompeu a própria frase e se corrigiu:
“Colaboradora talvez seja uma palavra...”
Interrompeu-se de novo e, dirigindo-se a Moro, disse:
“O senhor desculpa, às vezes eu... Eu sou [há] trinta anos
treinado para falar dessa forma. Mas...”
Reformulando, então, sua frase com foco no que Bumlai e
Teixeira sabiam, Palocci prosseguiu:
A recente entrevista à Veja com o autogrampeador Joesley
Batista, que está longe de ser um dos homens mais inteligentes do país,
também teve um momento similar.
“Falei de propina com a presidente [Dilma] na sala da
presidente da República!”, disse o empresário, dono da JBS.
“O senhor falava ‘propina’?”, perguntou a repórter.
A diferença entre Joesley e Palocci, portanto, é que um
alegou que dizia “ajuda” por ignorância, o outro admitiu que falava
“colaboração/colaboradora” por treinamento – até que a Lava Jato matou os
eufemismos, restaurando o trânsito normal entre língua, percepção e
realidade, sem o qual os atos criminosos soam como caridade exercida.
Curiosamente, o tempo de treino em disfarce verbal
admitido por Palocci a Moro é exatamente igual ao tempo admitido por Lula de
companheirismo com Palocci: 30 anos.
Graças à Lava Jato – contra a qual Palocci ainda admitiu
ter atuado –, também está cada vez mais claro que a palavra “companheiro”
usada por Lula e demais petistas é apenas um eufemismo para comparsas ou
cúmplices de crimes e de seus acobertamentos.
felipemb@oantagonista.com
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