O buquê da noiva
A noiva vira as costas, joga o buquê de flores para trás e
bem para o alto. O arranjo sobe, sobe... O sonho do casamento na igreja, com
véu e grinalda, volta a se tornar uma possível realidade. As convidadas se imaginam
entrando na casa de Deus, com o vestido escolhido a rigor, dando e recebendo o
primeiro beijo, depois de declarados marido e mulher.
O buquê da noiva desce contemplando somente uma das
interessadas. A convenção acerca do arranjo, anunciando casamento próximo para
aquela que o pegasse, passa a ser questionada.
- Será que quem está se casando hoje teria pegado o buquê da
noiva?
A irmã da noiva, a quem foi dirigida a pergunta, responde:
- Não. Quem o pegou fui eu.
- Por que você não está casada, nem está se casando hoje,
também?
- Você sabe quantos anos eu tenho?
- Não. Só sei que depois dos trinta e dois anos, fica mais
difícil para a mulher contrair o matrimônio.
- Mas por que o noivo, trinta anos mais velho, está se
casando com uma jovem de vinte anos de idade?
- Porque há mais mulheres do que homens e estes preferem
companheiras muito mais novas para o enlace matrimonial.
- Quer dizer com isso que nasce mais mulher do que homem?
- Eu não sei. O que sei é que morre mais homens do que
mulher.
- Nesse caso, qual a situação de quem fica viúvo?
- Aos 70 anos 80% dos viúvos estão casados; entre as viúvas,
na mesma faixa etária, este percentual é de 40%, formando o que se chama de
Pirâmide da Solidão Feminina.
A convidada que pegou o arranjo fica preocupada. Tinha
também os mesmos vinte e oito anos dela, assim como cinco irmãs muito mais
novas, que anelavam pelo sonho do casamento. Será que iria passar pela
experiência dolorosa que a irmã da noiva estava passando? – pergunta-se.
Todas as convidadas chegam à conclusão, portanto, de que o
arranjo não lhes garantem a realização propalada, podendo o buquê de flores
servir apenas para ser colocado sobre o túmulo de cada esperança perdida.
Jorge Luís Santos, advogado e cronista.
E-mail: dvjls13@hotmail.com
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