São Paulo, 1944 –
parecença)
Nas proximidades
do antigo Teatro Fênix encontro Procópio Ferreira*, por que a cara amarrada e o
despropósito se somos amigos do peito?
- Gritei
teu nome para te cumprimentar no outro lado da Avenida, fizeste ouvido mouco,
não me respondeste, pensei que estavas armado em besta.
Joracy
Camargo* confirma a desatenção: cruzara comigo, eu passara a seu lado como se
não o visse. Não fui eu o desatento, explico, e, sim, James Amado, irmão
caçula.
Dez anos
mais moço, éramos parecidíssimos, James é Jorge cagado e cuspido, dizia o
coronel João Amado, apesar da diferença de idade havia quem nos tomasse por gêmeos. Joelson, o do meio, saíra à família de Lalu, homens altos e bonitos.
Em 1944,
na cidade de São Paulo, durante o coquetel com que se festejava a publicação de
São Jorge dos Ilhéus, na Livraria Brasiliense, aproveitando a aglomeração,
Maria Mão Boba correu a mão maneira pelos baixios de James, trabuqueou o
croquete do jovem literato pensando trabuquear o do festejado autor. A expressão
trabuquear o croquete não é minha, é de Dorival Caymmi, definição poética para
audácias manuais.
A mão boba
da sabidona serviu para desmascarar a incoerência de James. Não respondera à
saudação de Procópio, simulara não ter visto Joracy, mas não rejeitou o impulso
da afoita: não sou ele, mas sou o irmão muito mais moço, estou escrevendo um
romance, sou bom na queda, vai ganhar com a troca, experimente.
*Procópio Ferreira (1898 / 1979), ator.
*Joracy Camargo (1899 / 1973), dramaturgo.
(NAVEGAÇÃO DE CABOTAGEM)
Jorge Amado
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JORGE AMADO - Quinto ocupante da Cadeira 23 da ABL, eleito
em 6 de abril de 1961, na sucessão de Otávio Mangabeira e recebido pelo
Acadêmico Raimundo Magalhães Júnior em 17 de julho de 1961. Recebeu os
Acadêmicos Adonias Filho e Dias Gomes.
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