17º Domingo Comum - 30/07/2017
Anúncio do Evangelho (Mt 13,44-52)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
Mateus.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “O Reino
dos Céus é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra e o mantém
escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele
campo.
O Reino dos Céus é também como um comprador que procura
pérolas preciosas. Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai,
vende todos os seus bens e compra aquela pérola.
O Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao mar e que
apanha peixes de todo tipo. Quando está cheia, os pescadores puxam a rede
para a praia, sentam-se e recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que
não prestam.
Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para
separar os homens maus dos que são justos, e lançarão os maus na fornalha
de fogo. E aí haverá choro e ranger de dentes.
Compreendestes tudo isso?” Eles responderam: “Sim”.
Então Jesus acrescentou: “Assim, pois, todo o mestre da Lei,
que se torna discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que tira do
seu tesouro coisas novas e velhas”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão de Dom Alberto
Taveira Corrêa:
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Olhos abertos às surpresas de Deus
“Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende
todos os seus bens e a compra”
As parábolas do evangelho de hoje nos colocam diante de um
fenômeno humano conhecido como serendipitia, serendipidade ou serendipismo:
termos que expressam o sentimento de alegria quando encontramos alguma coisa
surpreendentemente boa sem que, necessariamente, estejamos procurando por ela;
referem-se às descobertas afortunadas feitas por acaso; trata-se de uma forma
especial de criatividade, na qual saímos em busca de uma coisa e acabamos
encontrando outras muito mais importantes e valiosas.
Estes termos se originam da palavra inglesa “serendipity”,
criada pelo escritor britânico Horace Walpole em 1754, a partir do conto persa
infantil “os três príncipes de Serendip”. O conto revela as aventuras de três
príncipes do Ceilão, hoje Sri Lanka, que viviam fazendo descobertas inesperadas
durante o seu caminho. Graças à capacidade deles que aliava perseverança,
sagacidade, inteligência e senso de observação, os príncipes acabavam
encontrando “acidentalmente” soluções para seus dilemas. Isso revelava uma
mente aberta para as múltiplas possibilidades.
A ciência está repleta de casos famosos que podem ser
classificados como serendipismo, mas estes só ocorreram porque as pessoas
estavam “abertas” a estas descobertas, preparadas e com o senso de observação
apurado. A descoberta ocasional dos manuscritos de Qumram, a fotografia, o raio
x, a penicilina, a lei da gravidade, a descoberta de Colombo... tem em comum
que não foram diretamente buscados, mas, por serem descobertas afortunadas e
inesperadas, abriram novos horizontes e tornaram a vida mais bonita e mais
agradável. O serendipismo é a pitada que falta no nosso espírito inovador e
criativo, que é estar sempre aberto ao inesperado.
O conceito de “serendipidade” é aplicado em muitos setores
da vida humana, inclusive no campo da espiritualidade. Serendipidade se refere
às descobertas ou encontros afortunados feitos aparentemente por acaso, que
muitas vezes possibilitam transformações radicais e positivas em nossas vidas.
Na vida espiritual, o estilo serendipitico ativa em nós o
olhar atento, para dentro e para fora, fomenta o assombro e a admiração diante
da nossa realidade cotidiana, nos mantém em atitude de abertura para o gratuito
e nos faz abertos à Graça e à sua surpreendente novidade. O verdadeiro segredo
está em abrir-nos às oportunidades que a vida nos oferece; é viver a arte de
uma apurada sensibilidade e atenção a tudo o que acontece ao nosso redor;
trata-se de reconhecer e aproveitar as descobertas inesperadas. Reconhecer,
receber, viver e agradecer.
A vida é uma busca incessante por aquilo que consideramos
essencial e as descobertas surpreendentes só acontecem quando nos deixamos
mover por esse espírito de busca; ser buscador significa ter olhar
contemplativo, ou seja, transformar simples observações do nosso dia-a-dia em
grandes descobertas. Por isso, é nas entranhas do cotidiano que brotam as
grandes intuições, as experiências místicas, a criatividade artística, os
sonhos ousados...; pois é no cotidiano que irrompe o novo e o revolucionário. É
a atitude contemplativa que nos desperta da letargia do cotidiano. E
despertos descobriremos que o cotidiano guarda segredos, novidades, energias
ocultas que sempre podem acordar e conferir novo sentido e brilho à vida.
A vida espiritual está cheia de “momentos serendipiticos”,
ou seja, encontros reveladores e inesperados com Aquele que se revela sempre de
maneira surpreendente, através das surpresas da vida. Só aquele que segue as
intuições do coração, estando aberto às infinitas possibilidades, pode entrar
em sintonia com Aquele que “trabalha em tudo e em todos”. Ao confiar na sua
orientação interior, a pessoa vive a sua vida com discernimento, carregando-a
de amor e paixão.
Deus constantemente nos surpreende no singelo, nas coisas
simples da vida. Muitas vezes nós perdemos a capacidade de ver a sua ação nas
pequenas coisas e ficamos esperando grandes sinais. Cada instante é uma chance
para perceber esse amor que Ele tem por nós. Se vivemos cada momento ordinário
de forma extraordinária, certamente perceberemos a sua ação e seremos
surpreendidos por Ele - um encontro com alguém, um gesto de bondade, uma
palavra que alguém nos dá, uma paisagem que vemos, enfim, infinitos momentos em
que Deus nos fala e nos busca surpreender. Mas, por não prestarmos atenção, por
estarmos dispersos em tantas preocupações, por não fazer silêncio em nosso
interior, acabamos não percebendo.
O Evangelho também está cheio desses momentos
serendípiticos: uma multidão faminta em busca por alimento e aparece um menino
com apenas cinco pães e dois peixes; uma mulher samaritana em busca de água e
inesperadamente encontra-se com o autor da água viva; o baixinho Zaqueu que
desejava apenas matar a curiosidade, é surpreendido por Jesus que deseja ser
hóspede em sua casa; as parábolas da descoberta inesperada do tesouro e
da pérola...
O papa Francisco, em uma Homilia proferida no Santuário
Nacional de Aparecida, convidou-nos a constantemente "deixar-nos
surpreender por Deus". Deus espera que nos deixemos “surpreender por
seu amor, que acolhamos as suas surpresas”. O papa nos mostrou como modelo a
história do Santuário: três pescadores depois de um dia inteiro sem apanhar
peixe encontram, nas águas do Rio Paraíba, a imagem da Senhora Aparecida.
Sabemos que os pescadores, após encontrarem a imagem milagrosamente, têm uma
pesca abundante e conseguem o que precisavam para atender ao conde de Assumar.
O Papa Francisco vai além, vai ao essencial desse episódio para entendermos
melhor como Deus atua: “Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera,
torna-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma
mesma Mãe? Deus sempre surpreende, sempre nos reserva o melhor”.
O evangelho deste domingo nos motiva a “des-velar” nosso “eu
profundo”, o lugar onde habitam os aspectos benéficos da nossa personalidade,
as boas tendências, as qualidades positivas, os dons naturais, as riquezas do
ser, as beatitudes originais, as aspirações de grande fôlego, as ideias-força,
os dinamismos da vida... Ao transitar, de maneira atenta e contemplativa pelos
espaços interiores, seremos surpreendidos por descobertas inesperadas que farão
toda a diferença em nossas vidas.
O “tesouro do ser” (certezas, intuições, projetos,
valores...) ainda que pareça esquecido, permanece armazenado em sua mensagem
essencial, e pode tornar-se a força que orienta toda a vida, a sabedoria da
própria vida, um lugar de fecundidade, de criatividade, fonte de renovação...
Dentro de nós temos forças construtivas que podem mudar-nos
eficazmente. E é preciso dar-lhes curso, não ocultando-as e nem desprezando-as,
mas deixando-as aflorar espontaneamente. “Que eu me conheça e que te conheça,
Senhor! Quantas riquezas entesoura o homem em seu interior! Mas de que lhe
servem, se não se sondam e investigam” (S. Agostinho)
É decisivo estar dispostos a abrir espaços em nossa história
a novas pessoas e situações, novas vivências, novas experiências... Porque
sempre há algo diferente e inesperado que pode enriquecer-nos. A vida está
cheia de possibilidades e surpresas; inumeráveis caminhos que podemos
percorrer; pessoas instigantes que aparecem em nossas vidas; desafios,
encontros, aprendizagens, motivos para celebrar, lições que aprenderemos e nos
farão um pouco mais lúcidos, mais humanos e mais simples...
Texto bíblico: Mt 13,44-52
Na oração: A oração ajuda a liberar o “olhar” para
contemplar a realidade de outra maneira. Com isso, cada um pode descobrir
melhor no seu cotidiano o que há de novidade positiva e salvadora.
- Contemplar é ter uma sensibilidade para deixar-se
surpreender por Deus hoje, ou seja, re-educar o olhar para deixtar-se impactar
pelo novo, pelo inesperado...
- na sua vivência cristã, identifique algumas ocasiões em
que você não estava esperando e descobriu algo que se revelou importante para
sua vida.
Pe. Adroaldo Palaoro sj
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