Contracapa do livro Lafayette de Borborema - uma vida, um ideal
No tempo de Lafayette de Borborema existiam em Itabuna uma biblioteca pública, um piano para concertos, um grêmio Literário, o teatro era feito em residências, os saraus varavam a noite. Quem conta isso é Helena Borborema. Seu livro é um belo inventário escrito com amor. A gente fica com uma inveja danada daquele tempo, quando as pessoas, ditas ignorantes, sabiam no entanto ser dignas e inteligentes. Não eram nem brutas nem desalmadas.
Na vila não existiam carros, mas as ruas eram limpas e as fachadas das casas
recebiam tinta nova todos os anos. Não se poluía o Cachoeira. Matava-se , é
verdade, por ambição ou paixão, ignorância ou orgulho, mas a verminose e a
subnutrição não imolavam crianças indefesas como agora. Cinco, em média, por
dia. Quem não ganhava para comer não morria de fome. A caridade era um dever. O
amor à terra um sentimento generalizado.
Ao falar de seu pai com a modéstia que dele herdou, ressaltando-lhe as virtudes
que justificariam o livro que sobre ele escreveu. Helena Borborema só não é ela
mesma quando se detém na descrição de ambientes e paisagens: aí sua imaginação
se solta, é minuciosa e pródiga, nada lhe escapa. É uma escritora. Mesmo
descrevendo, seleciona, e selecionando, julga. Não reproduz apenas: traduz. E,
traduzindo, participa-nos e participa da História.
Um livro despretensioso o seu, inclusive pela avareza do número de páginas. A
gente fica esperando que ela diga mais, e ela não diz. Mas diz o suficiente
para que saibamos que Lafayette de Borborema era em sociedade o que era em
família, e que a terra que escolheu para viver e morrer não era apenas uma
terra de brutos e desalmados, porque os brutos a amavam como já não nos
esforçamos por amar.
Para os jovens, ou alguns velhos que não envelheceram completamente, este livro
põe por terra o vaticínio ruibarboseano de que um dia o homem teria vergonha de
ser honesto. Sob esse aspecto, “Lafayette de Borborema – um ideal, uma vida”, é
um livro subversivo, porque nos prova o contrário. Isto é, que a virtude da
honestidade é uma coisa que não morre e que produz mais alegrias do que
comumente se admite.
TELMO PADILHA
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HELENA BORBOREMA - Nasceu em Itabuna. Professora de
Geografia lecionou muitos anos no Colégio Divina Providência, na Ação Fraternal
e no Colégio Estadual de Itabuna. Formada em Pedagogia pela Faculdade de
Filosofia de Itabuna. Exerceu o cargo de Secretária de Educação e Cultura do
Município. (A autora)
Conhecida professora itabunense, filha do Dr. Lafayette
Borborema, o primeiro advogado de Itabuna. É autora de ‘Terras do Sul’, livro
em que documento, memória e imaginação se unem num discurso despretensioso para
testemunhar o quadro social e humano daqueles idos de Tabocas. Para a professora
universitária Margarida Fahel, ‘Terras do Sul’ são estórias simples, plenas de
‘emoção e humanidade, querendo inscrever no tempo a história de uma gente, o
caminho de um rio, a esperança de uma professora que crê no homem e na
terra’. (Cyro de Mattos)
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