4º Domingo da Páscoa - 07/05/2017
Anúncio do Evangelho (Jo 10,1-10)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
João.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, disse Jesus: “Em verdade, em verdade vos
digo, quem não entra no redil das ovelhas pela porta, mas sobe por outro lugar,
é ladrão e assaltante. Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. A
esse o porteiro abre, e as ovelhas escutam a sua voz; ele chama as ovelhas pelo
nome e as conduz para fora. E, depois de fazer sair todas as que são suas,
caminha à sua frente, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. Mas
não seguem um estranho, antes fogem dele, porque não conhecem a voz dos
estranhos”. Jesus contou-lhes esta parábola, mas eles não entenderam o que
ele queria dizer. Então Jesus continuou: “Em verdade, em verdade vos digo,
eu sou a porta das ovelhas. Todos aqueles que vieram antes de mim são
ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os escutaram. Eu sou a porta.
Quem entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem. O
ladrão só vem para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a
tenham em abundância”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
***
Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Paulo
Ricardo:
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Bendita porta de saída para a vida
“Eu sou a Porta das ovelhas” (Jo 10,7)
Todos os anos, o 4º. Domingo de Páscoa inspira-se na imagem
do “Bom Pastor”. Embora o Evangelho deste domingo não fale de “aparições” do
Ressuscitado, não nos afastamos do tema pascal, pois Jesus afirma
expressamente: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”. A “Vida”
é o verdadeiro tema pascal.
E imagem pascal deste 4º. Domingo da Páscoa é a Porta da
Liberdade, que possibilita uma vida sempre expansiva. A Vida verdadeira implica
saída de nossos espaços, muitas vezes atrofiados e de curto horizonte: por isso
precisamos de uma porta, de uma saída. Não podemos, não devemos permanecer
fechados, pois isso atrofia nossas possibilidades de vida, sobretudo se estamos
reclusos no egocentrismo.
Equivocadamente distraídos por alguma complacência ou
comodidade interna, nem sempre caímos na conta de que vivemos fechados; não
percebemos o perigo letal da asfixia existencial; não sentimos as amarras da
dependência ou os vícios que a vontade fragilizada já não consegue
romper.
Nesse sentido, podemos entender a imagem da “Porta” enquanto
espaço aberto que permite a vida fluir. Porque vida é, antes de mais nada,
espaçosa, amplitude ilimitada que tudo abarca e que se expressa em infinidade
de formas, todas elas habitadas pela mesma e única Vida.
Precisamos nos libertar, nos desatar, sair; precisamos de
uma porta!
Escutemos Jesus que diz “Eu sou a Porta”. E é verdade,
porque Jesus, “ressuscitado dentre os mortos”, abriu um espaço no hermético
ventre da morte. Com seu próprio corpo e sua vida Jesus se transformou em Porta
da Vida verdadeira e com a força do seu Espírito Ele nos liberta, nos desata
para sair dos espaços atrofiados e passar para a vida ampla do amor, para a
vida com os outros.
“Eu sou a porta”: aqui Jesus não se refere àquela peça de
madeira que gira para fechar ou abrir, mas ao espaço por onde se tem acesso a
um recinto. Por isso Ele diz que é a porta das ovelhas, não do redil. Todos
aqueles que vieram antes dele não deram liberdade e asfixiaram a verdadeira
vida.
Em Jesus, todo(a) seguidor(a) pode alcançar a verdadeira
liberdade; “poderá entrar e sair”, terá liberdade de movimento. Jesus não busca
seu próprio proveito nem o de Deus. Seu único interesse está em que cada ovelha
alcance sua própria plenitude e viva intensamente.
A característica do Bom Pastor é que põe toda sua vida a
serviço das ovelhas para que vivam, sem limitação alguma. Ao fazer isto, põe em
evidência a qualidade de Vida que possui e abre a possibilidade para que todos
os que lhe seguem tenham acesso a essa mesma Vida.
Uma porta aberta. Jesus se compara a uma porta... aberta!
Somos impactados pela luz que vem de fora e pelo ar vivificante. Nós ouvimos
sua voz. Ele se dirige a cada um e à sua voz nos colocamos em marcha. O
oxigênio que aí respiramos é o Sopro do próprio Deus.
Jesus é uma Porta grande e aberta que favorece a circulação
com toda a liberdade Entrar por essa Porta é o mesmo que “aproximar-nos d’Ele”,
“escutar sua voz”, “identificar-nos com Ele”. Passar pela Porta implica também
desvelar nossa verdadeira identidade enquanto “portas abertas”.Cada um de nós é
um mundo, dentro do Mundo. Este contato se estabelece pelos sentidos: saímos ao
Mundo e entramos em nosso mundo através dessas cinco portas.
Por essas portas dos sentidos saímos de nós mesmos para o
Mundo, ao mesmo tempo que o Mundo entra em nós. Tomar consciência do como
transitamos por estas portas é essencial para crescer em um modo transparente
de existir. Porque há um modo de entrar e sair por elas que pode ser feita de
maneira autocentrada e depredadora ou de maneira agradecida e geradora de comunhão.
Há um modo de ver, ouvir, saborear, tocar, sentir... que nos
atrofia e nos isola em nosso pequeno mundo opaco e estreito, enquanto há outro
modo que nos abre e nos expande em direção ao Mundo, e que vai se revelando
como presença e transparência de Deus.
Expandir os cinco sentidos nos capacita sentir Deus como
Presença primeira e constitutiva da Realidade, pulsando em todas as coisas.
Porque, em definitiva, o que nossos olhos querem ver, o que nossos ouvidos
querem ouvir, o que nosso tato quer apalpar... é o Rosto-mais-além-dos-rostos
que se manifesta através dos outros. Assim, os sentidos não são somente portas
entre nosso mundo interno e o Mundo exterior, mas umbrais que abrem ao
Transcendente, que pulsa no mundo e ao qual só se pode chegar através do mesmo
mundo.
O contexto social no qual vivemos nos revela que há uma
doença que nos afeta praticamente a todos: em nossas vidas, há muito mais
espelhos que nos isolam do que portas que nos universalizam.
No espelho nós nos vemos; e o que vemos não é o que somos,
mas o que aparentamos ser. Desta percepção não saímos. A contemplação
narcisista de nosso rosto atrofia o horizonte de nossa vida; o horizonte
perceptivo é mínimo. O espelho é incapaz de revelar a verdade de nosso ser e de
ampliar nosso mundo afetivo e relacional, não facilita a acolhida, o
encontro... O centro do espelho somos nós mesmos.
As portas abertas, por sua vez, permitem ampliar nosso
horizonte. Através delas purifica-se o ar denso e irrespirável do nosso
interior, que geramos quando nos fechados em nós mesmos. Elas nos abrem à
comunhão com a natureza, com os outros, com a realidade que nos cerca. Elas nos
humanizam, pois servem para nos revelar aos outros quem somos, que eles fazem
parte de nossa casa e que, abertas, indicam que eles podem entrar e sair
livremente em nossas vidas.
Como seguidores(as) de Jesus, habitando em casas construídas
sobre a rocha do Evangelho, deveríamos nos preocupar mais com as portas e
janelas e menos com os espelhos. Outros rostos precisamos descobrir:
concretamente, rostos feridos, excluídos, carentes de proximidade e abraço.
Muitas vezes, as portas nos protegem da diversidade, blindam
nossa individualidade e parecem itens indispensáveis à sobrevivência. Assim,
seremos prisioneiros de nossa estreita visão de mundo e faremos de nossa casa
uma couraça que enclausura. Melhor a viagem que nos faz vulneráveis do
que a segurança que nos rouba o horizonte. Melhor enfrentar o impacto do
diferente e usufruir da liberdade do que inventar portas seguras que nos fazem
cativos e solitários.
Texto bíblico: Jo 10,1-10
Na oração: Seja uma porta sempre
aberta: “entrada franca”.
- Nada de “cachorros” que atemorizem o visitante: seu
orgulho, seu egoísmo, sua inveja, sua ironia, sua rudeza, seu
preconceito.
- Nada de longas esperas que desanimam: esteja sempre
atento, nem que seja para um cumprimento, um sorriso, um aperto de mãos, caso
você não tenha tempo para uma conversa.
Uns instantes de intensa atenção bastam para acolher o
outro.
- Nada de móveis que impeçam a circulação; mantenha sua casa
disponível. Não imponha seus gostos, suas ideias, seus pontos de vista. Nada de
retribuições que custam caro: se você oferece alguma coisa, faça-o
gratuitamente e nada espere em troca.
Pe. Adroaldo Palaoro sj
http://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/espiritualidade/1091-bendita-porta-de-saida-para-a-vida
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