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terça-feira, 31 de janeiro de 2017

O PASSEIO AO CORCOVADO – Marília Benício dos Santos

O Passeio ao Corcovado 


          Aprendi a dirigir. Como é bom! Muita gente, na minha idade, parou de dirigir. Costuma dizer: “não dirijo mais”. Pois não é que comecei a dirigir agora! É espetacular pegar o volante e seguir em frente! Sinto-me jovem. É um renascer. É como se estivesse começando a andar. Uma das receitas para permanecermos jovens é aprender algo novo; e é isso que faço no momento. Ainda não saio sozinha. Augusto vai sempre comigo. Ele me dá muita força.
          - Domingo vamos ao Corcovado, Marília.
          - Ótimo! Mas vou chamar Antonia.
          - Pra que Marília? Você tem cada uma!
          - Dar-lhe um pouco de alegria.
          Antonia mora no Vidigal. Chegamos à porta de sua casa e buzinamos. Margarida, a irmã de Antonia, veio trazê-la até o carro.
          - Vamos também, Margarida, tem lugar pra você. 
          - Estou tão desarrumada.
          - Entre “muié”, disse Antonia. Nem sempre a gente tem uma mamata desta.
          Margarida entrou. Seguimos para o Corcovado. Estavam muito contentes, rindo e falando alto. Eu, mais alegre ainda, porque estava proporcionando-lhes um pouco de felicidade.
          O dia não estava muito claro, mas deu para apreciar um pouco a beleza da vista lá do alto. Antonia olhava o Cristo, muito espantada e insistia em procurar uma porta para entrar. Na fantasia dela, lá em cima havia uma igreja. Demoramos por ali algum tempo e, na volta, Antonia entrava nas lojas olhando e querendo comprar. Margarida, porém, não estava com muita paciência. E dizia: “vamos, Antonia”.
          - Será que posso comprar um santinho destes
          - Pode, sim, respondi. Você tem dinheiro?
          - Tenho
          - Então pode comprar. Fique à vontade.
          Mas notei que Margarida continuava ansiosa.
          - Ande Antonia. Quero ir à missa das cinco horas.
          - Você já não foi à Missa, perguntei-lhe um pouco irritada e pensando: será que a pobre da Antonia não pode curtir o seu passeio? E aproximando-me dela, ajudei-a a escolher o que quis comprar: um pequeno binóculo com fotografia do Cristo.
          - Veja como é bonito! Vou levar este!
          - Se fizer a vontade dela, Marília, a gente não sai daqui hoje. Eu, sem entender muito o porquê da pressa de Margarida, resolvi vir embora, mesmo porque já estava esfriando. No carro, as duas não se cansavam de agradecer-me. Deixei-as em casa. Mas continuei intrigada com a ansiedade de Margarida.
          Dias depois, encontrei-a e, para matar a curiosidade perguntei-lhe:
          - Margarida, por que você estava tão aflita, com tanta pressa no dia do passeio?
          Disse-me ela, bem baixinho, perto do ouvido: 
          - Marília, eu estava sem calcinha. Só me lembrei quando entrei no carro. Mas valeu a pena. Deus lhe ajude!


(ARCO ÍRIS)
Marília Benício dos Santos

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PREFÁCIO 
(do livro arco-íris de Marília Benício dos Santos)

          "Depois de CARROSSEL, Marília entrega aos leitores amigos e companheiros de caminhada o seu “ARCO-ÍRIS”.
          Seus  objetivos parecem ser os mesmos: aquela ansiedade e até uma certa pressa, de partilhar com os outros o “ser reflexiva” que já lhe resulta natural, simples, espontâneo a propósito de fatos de seu quotidiano, do convívio de parentes e amigos, do encontro com os pobres de dinheiro e de amor. E tudo isso, a partir de uma vivência de Fé, que se cristaliza no contato permanente com o Evangelho.
          Também a Natureza, em suas variadas manifestações é matéria para o pensar de Marília. O mar, o céu, as estrelas, o arco-íris...  O mar, do qual ela se diz eternamente enamorada e sofre quando não pode vê-lo. As estrelas, que são suas interlocutoras e significam presenças amigas de realidades invisíveis. O arco-íris, que lhe sugere uma simbologia de aliança e compromisso.
          Marília escreve ainda sobre a amizade, o diálogo, a vida, o mundo. E fala de Deus, ou melhor, conversa com Deus na simplicidade das palavras e na grandeza de gestos. E exprime o seu desejo de, num grande abraço, unir-se a todos os irmãos para permitir a circulação do Amor e, assim, realizar o “Amai o Amor que não é amado” de São Francisco de Assis.

Eulina Fontoura de Carvalho"


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