O Passeio
ao Corcovado
Aprendi a dirigir. Como é bom! Muita gente, na minha
idade, parou de dirigir. Costuma dizer: “não dirijo mais”. Pois não é que
comecei a dirigir agora! É espetacular pegar o volante e seguir em frente!
Sinto-me jovem. É um renascer. É como se estivesse começando a andar. Uma das
receitas para permanecermos jovens é aprender algo novo; e é isso que faço no
momento. Ainda não saio sozinha. Augusto vai sempre comigo. Ele me dá muita
força.
- Domingo vamos ao Corcovado, Marília.
- Ótimo! Mas vou chamar Antonia.
- Pra que Marília? Você tem cada uma!
- Dar-lhe um pouco de alegria.
Antonia mora no Vidigal. Chegamos à porta de sua casa e
buzinamos. Margarida, a irmã de Antonia, veio trazê-la até o carro.
- Vamos também, Margarida, tem lugar pra você.
- Estou tão desarrumada.
- Entre “muié”, disse Antonia. Nem sempre a gente tem uma
mamata desta.
Margarida entrou. Seguimos para o Corcovado. Estavam muito
contentes, rindo e falando alto. Eu, mais alegre ainda, porque estava
proporcionando-lhes um pouco de felicidade.
O dia não estava muito claro, mas deu para apreciar um pouco
a beleza da vista lá do alto. Antonia olhava o Cristo, muito espantada e
insistia em procurar uma porta para entrar. Na fantasia dela, lá em cima havia
uma igreja. Demoramos por ali algum tempo e, na volta, Antonia entrava nas
lojas olhando e querendo comprar. Margarida, porém, não estava com muita
paciência. E dizia: “vamos, Antonia”.
- Será que posso comprar um santinho destes
- Pode, sim, respondi. Você tem dinheiro?
- Tenho
- Então pode comprar. Fique à vontade.
Mas notei que Margarida continuava ansiosa.
- Ande Antonia. Quero ir à missa das cinco horas.
- Você já não foi à Missa, perguntei-lhe um pouco irritada e
pensando: será que a pobre da Antonia não pode curtir o seu passeio? E aproximando-me
dela, ajudei-a a escolher o que quis comprar: um pequeno binóculo com
fotografia do Cristo.
- Veja como é bonito! Vou levar este!
- Se fizer a vontade dela, Marília, a gente não sai daqui
hoje. Eu, sem entender muito o porquê da pressa de Margarida, resolvi vir
embora, mesmo porque já estava esfriando. No carro, as duas não se cansavam de
agradecer-me. Deixei-as em casa. Mas continuei intrigada com a ansiedade de
Margarida.
Dias depois, encontrei-a e, para matar a curiosidade
perguntei-lhe:
- Margarida, por que você estava tão aflita, com tanta
pressa no dia do passeio?
Disse-me ela, bem baixinho, perto do ouvido:
- Marília, eu estava sem calcinha. Só me lembrei quando
entrei no carro. Mas valeu a pena. Deus lhe ajude!
(ARCO ÍRIS)
Marília Benício dos Santos
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PREFÁCIO
(do livro arco-íris de Marília Benício dos Santos)
"Depois de
CARROSSEL, Marília entrega aos leitores amigos e companheiros de caminhada o
seu “ARCO-ÍRIS”.
Seus objetivos parecem ser os mesmos: aquela
ansiedade e até uma certa pressa, de partilhar com os outros o “ser reflexiva”
que já lhe resulta natural, simples, espontâneo a propósito de fatos de seu
quotidiano, do convívio de parentes e amigos, do encontro com os pobres de
dinheiro e de amor. E tudo isso, a partir de uma vivência de Fé, que se
cristaliza no contato permanente com o Evangelho.
Também a
Natureza, em suas variadas manifestações é matéria para o pensar de Marília. O
mar, o céu, as estrelas, o arco-íris...
O mar, do qual ela se diz eternamente enamorada e sofre quando não pode
vê-lo. As estrelas, que são suas interlocutoras e significam presenças amigas
de realidades invisíveis. O arco-íris, que lhe sugere uma simbologia de aliança
e compromisso.
Marília escreve
ainda sobre a amizade, o diálogo, a vida, o mundo. E fala de Deus, ou melhor,
conversa com Deus na simplicidade das palavras e na grandeza de gestos. E
exprime o seu desejo de, num grande abraço, unir-se a todos os irmãos para
permitir a circulação do Amor e, assim, realizar o “Amai o Amor que não é amado”
de São Francisco de Assis.
Eulina Fontoura de Carvalho"
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