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domingo, 6 de novembro de 2016

A INVISIBILIDADE DOS GRUPOS SOCIAIS - Gustavo Atallah Haun

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A invisibilidade dos grupos sociais
Muito já se escreveu e pesquisou, em todos os níveis da educação, sobre a invisibilidade de alguns grupos sociais, como os garis, por exemplo. Um mestrando da USP, de Psicologia, Fernando Braga da Costa, vestiu-se de varredor por oito anos e foi fazer sua pesquisa de campo, constatando o quanto esses profissionais são incógnitos e desprestigiados pela população em geral. O que poucas pessoas imaginavam é que, com o advento da web, a prática fosse se repetir. Ao mesmo tempo em que deu cara e voz a uma legião (segundo o finado Umberto Eco, de imbecis, idiotas!) de anônimos, fez com que muitos deles sumissem ou criassem uma espécie de despercebimento, em um espaço tão democrático e de fácil acesso como é, hodiernamente, a internet – rede mundial interligada e instantânea. O homem é um ser gregário desde os primórdios, nas cavernas primitivas, a bem da sobrevivência da espécie! Vivia-se em bando, caçava-se idem, morria-se também.

No entanto, éramos viventes de uma sociedade bairrista, fechada e xenofóbica de carteirinha, justamente para conseguir sobreviver bem! Atualmente, somos moradores de uma aldeia global. Não faz o menor sentido aquele pensamento egoico primevo! Aliás, faz, se levarmos em consideração que a comunidade agora é o todo, o organismo por completo! Dessa forma, nos tempos coetâneos, fazer parte de círculos de amizade nas mídias eletrônicas dá sinal de pertencimento, inclusão e status. Todos querem fazer parte dos grupos sociais, seja do que for - das associações de condomínio, de escola, de trabalho, de academia, de farra, de amigos da infância, de todos os tipos imagináveis -, e que agregue, sempre. Entre eles, os mais comuns, hoje, são os agrupamentos do aplicativo Whatsapp e congêneres.

Nos dias correntes, o que se almeja não é mais ler o último best-seller, assistir ao recém-lançado filme de Hollywood, namorar a badalada modelo ou atriz do momento ou comprar o carro do ano! Sem hipérbole, parece que o desejo de consumo das massas é fazer parte dos grupos, como se mais nada no mundo importasse... Se engajar no badalado convescote digital, elevando a sua estima, o seu poder e o seu carisma frente aos demais! O grande problema nasce aí. Em se participando de tais turmas, verifica- se o quanto insignificante se é ou nada se vale. Um choque real, de um mundo irreal: mensagens sem respostas, vídeos sem comentários, fotos sem repercussões, fofocas sem respaldo, debates unilaterais e toda uma sorte de perguntas sem feedbacks que fazem muitos desses agrupados se desvincularem das mesmas panelinhas que outrora sonhou em participar! Aí, baixa aquela coisa fria, chamada noite, como poetizou Drummond. Acontece que todos têm a sua própria vida, sua dinâmica, o seu próprio tempo. Muitos trabalham enquanto acessam suas redes sociais. Outros visualizam, mas não se jactam em comentar. Alguns não querem mesmo, discordam de tudo e reclamam de todos. Existem aqueles que devem ser espiões, porque nunca se manifestam. Também os que participam por participar. Enfim, um turbilhão de complexidade que a cada um governa e impõe suas idiossincrasias ou verdades relativas! Mas é de chamar atenção que muitos anseiam ser vistos.

Querem ser admirados. Frequentam essas salas virtuais para serem olhados, percebidos, degustados, acarinhados. E não se dão por satisfeitos quando isso não ocorre. Bufam, esperneiam, entram e saem sistematicamente dos grupos, porque querem participar, ao tempo em que não concordam com opiniões e posturas alheias. São mais orgulhosos e vaidosos do que qualquer outra coisa. Então, quando percebem essa invisibilidade digital desconcertante, não se fazem de rogados e pulam fora! O que acaba gerando outro pensamento: se quero ser comentado, devo comentar; se desejo ser admirado, tenho que admirar; se busco ser visto, tenho que ver; se preciso ser curtido, tenho que curtir... numa escala infinita elevada a décima potência! Afinal de contas, fazer ao outro o que gostaria que o outro te fizesse serve igualmente para todos os campos do conhecimento e das ações humanas, ou não?
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Gustavo Atallah Haun - Graduando em Letras pela UESC, ex-coordenador de Imprensa do Centro Acadêmico de Letras/UESC, professor das redes particular e pública de Itabuna.




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