Conheça a obra do mestre HM.
Homero Massena fez
sua última exposição em 1968. Não havia nenhuma galeria no Espírito Santo. Ela
aconteceu na entrada do Carlos Gomes. O teatro estava caindo aos pedaços. Uma
reforma completa foi iniciada logo após, e Massena foi convidado a pintar o
teto. Ele tinha 84 anos, subiu escadas íngremes altíssimas e retocou o seu
trabalho. Após serem fixadas as dezoito placas de compensado naval, que havia
pintado em Jucutuquara.
Massena
revolucionou nossa pintura. Até 1951, data da inauguração da Escola de Belas
Artes do ES, preponderava aqui a escola da Irmã Tereza Monteiro Novaes, no
Colégio do Carmo. Ela estudou pintura com Carlos Reis em Vitória e com
acadêmicos famosos no Rio. Foi mestra dedicada por mais de meio século. Com
suas discípulas produziu obras para culto das igrejas católicas, eventos
cívicos e decoração de residências. Iniciou centenas de capixabas na pintura.
Uma dessas foi minha mãe, de quem tenho dois óleos de 1938. A Escola do Carmo
era de maneiristas: o desenho bem acabado e as figuras representadas com contornos
bem definidos recebiam a cor como complemento. Faziam, na verdade, belíssimos
desenhos coloridos.
Na escola do
Massena a pintura se liberta. O desenho continua a ser feito com rigor de
perspectiva, claro–escuro, com definição de espaços e equilíbrio. Perde a sua
função de contorno e ganha importância como estrutura, orientando a cor
aplicada com pinceladas soltas, tintas diluídas, criando veladuras ricas em
matizes. É a pintura com suas tintas cozinhadas na paleta e texturas
representando a natureza dos materiais, o movimento, a luminosidade local e a
emoção. Tudo isso com fatura (resultado pictórico) original e extrema economia
de materiais, até no tema. Sua sensibilidade e habilidade nos coloca em
comunhão com a natureza capixaba.
Impressionista ciente
das transformações provocadas pela luz na forma e na cor dos objetos, certo de
que o branco puro e o preto inexistem na natureza e de que a linha do horizonte
é abstração, Massena pesquisa ao ar livre, ganhando dimensão como
antropofágico. Digerida a técnica que absorveu nos grandes centros, como Rio e
Paris, ele foi capaz de criar um estilo próprio e inconfundível, representando
nossa natureza com elegância. O artista perenizou trechos da nossa terra, nossa
gente, nossos costumes, e nos emociona.
Massena viveu de
1885 a 1974. Assistiu ao nascimento da República e ao homem pisar na lua.
Acompanhou a evolução dos transportes, do cavalo para os carrões e aviões; o
aparecimento do radio, TV... Viu a interação entre sua obra e a arquitetura
moderna quando Juscelino quis uma tela sua, para inaugurar o gabinete da
presidência, no Palácio do Planalto.
Nós, capixabas,
depositários da pintura mais antiga exposta nas Américas (Convento da Penha) e
da pintura mais antiga feita no Brasil (Reis Magos em Nova Almeida), passamos a
ter, com Massena, a sétima escola oficial de Belas Artes no Brasil, hoje, CA da
Ufes.
Rever a sua obra,
na hora em que acontecem profundas transformações na paisagem e no estilo de
vida dos capixabas, pode nos proporcionar reflexões muito interessantes, para
ajudarmos a construir o futuro.
No dia 30
de outubro de 2016, o Museu Atelier Homero Massena completa 30 anos com
portas abertas. Você é bem-vindo.
Kleber Galvêas,
pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com outubro, 2016
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