A Descaracterização do Monumento da Saga Grapiúna
Por Cyro de Mattos
O
Monumento da Saga Grapiúna foi idealizado pela Fundação Itabunense de Cultura e
Cidadania (FICC) em nossa gestão, que contratou o artista Richard Wagner, itabunense
de fama mundial, para conceber e executar a obra como homenagem aos elementos
formadores da civilização grapiúna: o sergipano, o negro, o índio e o árabe.
Está localizado nas proximidades do Supermercado
Jequitibá,
Trabalhado em
cimento, a cor cinza da obra faz parte da sua concepção artística e está ligada
ao seu conteúdo, por isso mesmo deve ser mantida. O Monumento faz parte do
patrimônio público itabunense, mas não está tendo o melhor destino na sua
reconstituição pela Secretária Municipal de Esportes e Lazer.
Como é uma obra
que pertence à `Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania sua recuperação
deveria ser efetuada por esta instituição. Na recuperação atual não estão sendo
respeitadas a concepção e a execução originais da obra. Os frutos do cacau
foram pintados agora com tinta acrílica amarela e branca, a borda do enorme
prato que dá sustentação ao monumento também foi pintada de
verde.
Para completar a descaracterização originária de uma obra artística magnífica, as quatro figuras como símbolos da civilização cacaueira foram pintadas de verde. Entregue ao sabor da sorte, em várias administrações do executivo municipal, o monumento ficou com o gradil de proteção danificado, servindo lá dentro de depósito de coisas imprestáveis e lixo, até que foi eliminado atualmente. Uma das suas figuras símbolos da civilização cacaueira baiana está danificada. Acresce ao desmando apontado o fato lamentável com o desaparecimento da placa assinalando a inauguração da obra pelas autoridades da época e pelo artista Richard Wagner.
Inauguração no Ano do Centenário da cidade
A quem cabe zelar pela cultura de um povo e não corresponde aos seus apelos comete atitude imperdoável. A cultura alimenta a autoestima e reforça os laços identitários de uma sociedade nas suas relações com a vida. Se a educação é o corpo da sociedade, que precisa ser bem alimentado, que dizer de sua alma, a cultura? Quem não valoriza a cultura de seu povo, contribui para que não haja resposta quando se pergunta qual é o seu nome, onde você nasceu e para onde você vai. Torna assim o ser humano um caminhante vazio no seu estar no mundo. Até hoje em terras sulinas da Bahia viceja esse comportamento atávico do poder executivo municipal que não valoriza o que foi produzido para permanecer como referência do patrimônio artístico e cultural.
Qualquer sociedade que se diz civilizada não merece isso.
------------
Cyro de Mattos é escritor e poeta. Autor de 70 livros pessoais e, entre eles, cinco de crônicas. Também editado no exterior. Advogado e jornalista. Colabora quinzenalmente com a revista da crônica Rubem, há mais de quinze anos editada pelo jornalista e cronista Henrique Fendrich em Brasília, como homenagem a Rubem Braga, o melhor cronista do Brasil. Conquistou o Prêmio Casa das Américas em 2023 com o livro Infância com Bicho e Pesadelo e outras histórias.
***
Nenhum comentário:
Postar um comentário