Para Lembrar a Academia de Letras de
Itabuna
Por Cyro de Mattos
Verdade, o confrade Marcos Bandeira demonstrou qualidades
admiráveis de um juiz de direito operoso na Vara Criminal da Comarca de
Itabuna, apresentando domínio dos fatos trazidos ao processo, além de ser dono
de instrumental teórico jurídico consistente em suas sentenças, proferidas com
lucidez e equilíbrio, como o artigo de Rilvan Santana ressalta em boa hora. Com
relação à sua atuação na fundação da Academia de Letras de Itabuna gostaria de
acrescentar que se não fosse ele eu não seria um dos fundadores da entidade.
Quando fui presidente da Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania, por
várias vezes seguidas ele me visitou no meu gabinete, acompanhado do juiz de
Direito Antônio Laranjeiras e o promotor Carlos Eduardo Passos. Mostraram da
intenção e necessidade para se fundar uma academia de letras em Itabuna, na
qual eu não poderia faltar. De tanto insistir com os outros dois preclaros
homens da lei e por amor a Itabuna, terminei sucumbindo.
Para tanto, cedemos a sala da diretoria da Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania para que fosse o local das primeiras reuniões preliminares com o intuito da criação da sonhada academia de letras. Na primeira reunião compareceram Marcos Bandeira, Antônio Laranjeira, Ary Quadros, Carlos Eduardo Passos, Cyro de Mattos, Dinalva Melo, Gustavo Fernando Veloso, Lurdes Bertol, Genny Xavier, Ruy Póvoas, Sione Porto, Sônia Maron, Marialda Jovita e Maria Luiza Nora.
Nas reuniões, indiquei dois terços dos nomes que deveriam constar no corpo de patronos e de membros da entidade. O nome de Jorge Amado para ser o patrono foi indicação de Sonia Maron e teve o apoio unânime dos presentes. Fiz ver que o nome do patrono devia ser Adonias Filho, uma vez que Jorge Amado já era o patrono da Academia Grapiúna de Letras. Sonia Maron e Sione Neto redigiram o Estatuto da Academia de Letras de Itabuna, em trabalho árduo e profícuo da Juíza de Direito e da competente delegada de polícia.
Ao término daquelas reuniões tomadas emprestadas ao sonho e ao querer fazer o melhor para Itabuna, no campo das letras, ciências e cultura, sugeri que o escritor Aramis Ribeiro Costa, na qualidade de Presidente da Academia de Letras da Bahia, viesse presidir a sessão de instalação da instituição, o que aconteceu em memorável noite festiva no auditório lotado da Faculdade de Ciências e Tecnologia.
Antes que esqueça, o confrade Ary Quadro indicou, na última reunião realizada lá na FICC, o meu nome para ser o presidente da instituição, que estava nascendo alimentada pelo idealismo de alguns abnegados. Foi aceito por aclamação. Agradeci, mas recusei, por não me achar com perfil para a importante missão, daí ter referido o nome de Marcos Bandeira para ser o primeiro presidente da entidade, o que também foi aceito por aclamação.
Quanto à revista Guriatã e os dizeres Litteris Amplectis como marca do brasão da instituição foram sugestões nossas aprovadas em votação democrática da assembleia. Os dizeres Litteris Amplectis venceram as indicações desse teor mencionadas pelas confreiras Sonia Maron e Ceres Marylise, e isso foi registrado em ata. Esses fatos aconteceram quando a Academia estava funcionando com precariedade em duas salas do Edifício Dilson Cordier. Na época era presidida pela confreira Sonia Maron, diga-se com empenho, competência e sacrifício. As duas salas foram cedidas sem custo por nossa querida Presidente, de saudosa recordação.
Tivemos ainda a ideia de apresentar o nome da revista, com o pássaro guriatã para a capa, aos presentes em uma sessão na sessão da assembleia, além disso funcionei como editor nos três primeiros números. A letra do hino e a criação da Medalha Jorge Amado são ideias nossas. Fiz mais de dez lançamentos de meus livros tendo como anfitriã a instituição. Tenho comparecido na revista Guriatã e site da Academia com frequência, desde a sua fundação, como autor de ensaios, contos, poemas e discurso. Mas é imperioso notar que não estou alegando nada, acreditem.
O confrade Marcos Bandeira tem declarado em algumas das reuniões que para ser como Jorge Amado eu só precisava morrer. Também afirmou que a Academia de Letras de Itabuna não existiria se não fosse por mim. Não vejo assim, o gesto do confrade com tais afirmações decorrem de sua generosidade. Considero-me mais um membro da Academia de Letras de Itabuna, chamada carinhosamente de ALITA, para a qual procuro cumprir com os deveres estatutários. Concederam-me a distinção de Presidente de Honra, isso me qualifica como integrante da instituição, mas outros membros mereciam esse reconhecimento.
Fundada em 2011 para valorizar a literatura regional, entre seus objetivos, essa academia tem em seu Quadro de Presidentes o acadêmico Marcos Bandeira, as acadêmicas Sonia Maron, Silmara Oliveira e o confrade Wilson Caitano. Atualmente, a presidente Raquel Rocha é quem rege o destino da entidade com altivez e dedicação, realizando bons projetos e conta para isso na diretoria com uma equipe constituída de membros eficazes em cada função. Possui a instituição quarenta patronos e quarenta acadêmicos, mais três sócios correspondentes.
E assim, como nos versos do poeta maior Marcus Accioly, “que o mundo todo é gaiola / E a vida é Guriatã”, vejo a Academia de Letras de Itabuna prosseguir com suas pegadas afirmativas de querer crescer para o bem das letras. É uma instituição pobre em termos econômicos, não tem sua sede, renda suficiente para dar voos mais altos, como a instituição anual de um concurso nacional de contos, romance, ensaio, exposições, encontros e seminários. Faz o que pode com a junção de algumas vozes associativas que persistem com brio em escrever sua história. Precisa do apoio de empresários para realizar suas ações, dos poderes públicos e da boa vontade dos que amam essa terra.
*Cyro
de Mattos é escritor e poeta. Autor de 70 livros pessoais e, entre
eles, cinco de crônicas. Também editado no exterior. Advogado e jornalista.
Colabora quinzenalmente com a revista da crônica Rubem, há mais de quinze anos
editada pelo jornalista e cronista Henrique Fendrich em Brasília, como
homenagem a Rubem Braga, o melhor cronista do Brasil. Conquistou o Prêmio Casa
das Américas em 2023 com o livro Infância com Bicho e Pesadelo e outras
histórias.
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