Emmo Duarte e Seu
Porto de Esperança
Cyro de Mattos
Nas
antologias Itabuna, Chão de Minhas Raízes, Editora Oficina do Livro, Salvador,
1966, e Ilhéus de Poetas e Prosadores, Edição da Fundação Cultural da Bahia,
Coleção Letras da Bahia, Salvador, 1998, incluí os trechos Uma Progressista
Cidade e Doutor Corumbá, extraídos do romance Porto de Esperança, de Emmo
Duarte. Ambas as antologias têm meu prefácio, notas e seleção de texto. Como o
poeta Sosígenes Costa, Emmo Duarte nasceu na cidade de Belmonte, Sul da Bahia,
vindo ao mundo em 30 de outubro de 1920.
Passou sua infância em Ilhéus, foi
homem de imprensa com trânsito por Salvador, Maceió, Recife e Porto Alegre, São
Paulo e Rio de Janeiro onde também exerceu a advocacia. Traduziu ensaios sobre Graham Greene, William
Faulkner e o romance Os Donos do Orvalho, do haitiano Jacques Romain, um belo
livro de ficção engajada, de fundo telúrico, sem distorções entre o estético e
o realismo da vida como ela é, com suas verdades reveladas através de notas
pungentes, cruas pinceladas da realidade exterior, tocada pelos quadros
formados entre opressores e oprimidos, estes como personagens relegados ao
sabor da sorte enquanto seres excluídos pela dura lei da vida.
Em Porto de
Esperança, o belmontino Emmo Duarte mostra em passagens irreverentes a alma
lírica da cidade de Ilhéus, conta as histórias inspiradas pelo seu antigo porto
exportador de cacau para o mundo. Em
cenário bem construído, faz desfilar personagens que vivem o cotidiano da
cidade, movimentada com seus navios chegando e partindo, as longas conversas
nos bares, cafés, casas de mulheres e jornais.
O romance
Porto de Esperança sugere a ambiência realista retratada nos livros A Comédia
Humana, de Willian Saroyan, e Winesburg, Ohio, de Sherwood Anderson, a verdade
de cada um expressa por tipos grotescos produzidos nas relações advindas do
cotidiano. Focado na realidade exterior, o eixo romanesco do livro desdobra-se
sem forçar as cenas marcadas de amargura, fixadas nas frustrações flagradas de
uma pequena cidade com suas esperanças que se propagam como sonhos nunca
alcançados.
Emmo Duarte
deixou inédito o romance O Rei do Cacau e, em andamento, O País de Belmonte.
Adendo: quanto ao poeta Jacinta Passos, recomendo
consultar o Portal de Poetas Ibero-Americanos editado por Antônio Miranda, que
traz uma síntese biográfica da poeta baiana de Cruz das Almas, acompanhada de
um conjunto de poesias, que dão uma imagem suficiente de um poeta com o estro
apurado, estilo configurado nos moldes modernistas quando então o conteúdo de seus
veros reveste-se de assunto do nosso folclore e do cancioneiro popular.
Cyro de Mattos é ficcionista e poeta. Também editado no exterior. Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México. Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia. Doutor Honoris Causa da UESC.
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